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CULTURA

Jornalistas, as primeiras vítimas: não é de agora.

Foto do escritor: Jorge CamposJorge Campos

 

O caso da Global Media, agora nas mãos de um fundo financeiro obscuro, só vem confirmar o que toda a gente sabe: a comunicação social anda pelas ruas da amargura. Deixar sem salário os trabalhadores, não pagar subsídios, despachar quem está a recibos verdes, ameaçar insolvência e avançar com a possibilidade de um despedimento colectivo é não só andar a brincar com a vida das pessoas, mas também exibir sem disfarce o que se esconde por detrás do abuso de frases onde abundam expressões como liberdade de imprensa e qualidade da democracia.

 

No ponto a que chegamos, há aventureiros sem escrúpulos que agem à revelia dos mais elementares princípios do jornalismo fazendo da notícia um mero produto à venda. Essa gente só vê nos cidadãos potenciais consumidores compulsivos. Olha, sobranceiramente, para o interesse público como um entrave ao lucro. Nas suas mãos, os media não tratam de informar e escrutinar os poderes para auxiliar a formar opinião a partir de um quadro plural de referências. Tratam, sim, de atropelar tudo em função do interesse próprio e, porventura, de desígnios inconfessáveis. Por isso, essa gente adopta a facilidade das redes sociais, entrega o poder editorial aos departamentos comerciais, favorece o entretenimento imbecil e dá prioridade ao chamado jornalismo patrocinado de modo a fazer da agenda informativa uma agenda de interesses, na qual o poder do dinheiro vive, as mais das vezes, paredes meias com o poder político.

 

Nesta conjuntura, o trabalho dos jornalistas não só não é necessário como é contraproducente. Fica caro. É inadequado. Não se trata apenas de uma questão de atualização tecnológica e de exploração das novas plataformas digitais. Tão pouco é exclusivamente um problema de sustentabilidade das empresas. Não, do que se trata é mesmo de modelos de negócio escondidos por detrás da máscara do jornalismo. Com fundos como aqueles que cada vez mais se movem no mercado da comunicação social não é de jornalismo de que deve falar. É de outras coisas.

 

Há alguns anos, fiz diversas intervenções na Assembleia da República a propósito da situação da comunicação social. Já nessa altura, a precariedade, pelas consequências daí resultantes para o regime democrático, assumia proporções alarmantes. Nada de novo, portanto, o que agora acontece. É uma dessas intervenções, recuperada dos meus arquivos, que aqui está.






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Ensaios, conferências, comunicações académicas, notas e artigos de opinião sobre Cultura. Sem preocupações cronológicas. Textos recentes  quando se justificar.

 

Ensaios, conferências, comunicações académicas, textos de opinião. notas e folhas de sala publicados ao longo de anos. Sem preocupações cronológicas. Textos recentes quando se justificar.

Arquivo. Princípios, descrição, reflexões e balanço da Programação de Cinema, Audiovisual e Multimédia do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura, da qual fui o principal responsável. O lema: Pontes para o Futuro.

Estático
Iluminação Camera

Notas, textos de opinião e de reflexão sobre os media, designadamente o serviço público de televisão, publicados ao longo dos anos. Textos  de crítica da atualidade.

televisão sillouhette

Atualidade, política, artigos de opinião, textos satíricos.

Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Notas pessoais sobre acontecimentos históricos. Memória. Presente. Futuro.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

Todo o conteúdo © Jorge Campos

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     Criado por Isabel Campos 

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