O caso da Global Media, agora nas mãos de um fundo financeiro obscuro, só vem confirmar o que toda a gente sabe: a comunicação social anda pelas ruas da amargura. Deixar sem salário os trabalhadores, não pagar subsídios, despachar quem está a recibos verdes, ameaçar insolvência e avançar com a possibilidade de um despedimento colectivo é não só andar a brincar com a vida das pessoas, mas também exibir sem disfarce o que se esconde por detrás do abuso de frases onde abundam expressões como liberdade de imprensa e qualidade da democracia.
No ponto a que chegamos, há aventureiros sem escrúpulos que agem à revelia dos mais elementares princípios do jornalismo fazendo da notícia um mero produto à venda. Essa gente só vê nos cidadãos potenciais consumidores compulsivos. Olha, sobranceiramente, para o interesse público como um entrave ao lucro. Nas suas mãos, os media não tratam de informar e escrutinar os poderes para auxiliar a formar opinião a partir de um quadro plural de referências. Tratam, sim, de atropelar tudo em função do interesse próprio e, porventura, de desígnios inconfessáveis. Por isso, essa gente adopta a facilidade das redes sociais, entrega o poder editorial aos departamentos comerciais, favorece o entretenimento imbecil e dá prioridade ao chamado jornalismo patrocinado de modo a fazer da agenda informativa uma agenda de interesses, na qual o poder do dinheiro vive, as mais das vezes, paredes meias com o poder político.
Nesta conjuntura, o trabalho dos jornalistas não só não é necessário como é contraproducente. Fica caro. É inadequado. Não se trata apenas de uma questão de atualização tecnológica e de exploração das novas plataformas digitais. Tão pouco é exclusivamente um problema de sustentabilidade das empresas. Não, do que se trata é mesmo de modelos de negócio escondidos por detrás da máscara do jornalismo. Com fundos como aqueles que cada vez mais se movem no mercado da comunicação social não é de jornalismo de que deve falar. É de outras coisas.
Há alguns anos, fiz diversas intervenções na Assembleia da República a propósito da situação da comunicação social. Já nessa altura, a precariedade, pelas consequências daí resultantes para o regime democrático, assumia proporções alarmantes. Nada de novo, portanto, o que agora acontece. É uma dessas intervenções, recuperada dos meus arquivos, que aqui está.
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