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CULTURA

em viagem, na fria caligrafia do chão

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 7 de fev. de 2021
  • 1 min de leitura

Atualizado: 8 de fev. de 2021


Edward Hopper. Nighthawks, 1942 (pormenor)

Como um náufrago procuro os cristais da palavra, os seus lábios húmidos de dizer, as suas longas pernas de ventos e florestas, mas é tarde, e ao dobrar da esquina de uma rua oblíqua de mim mesmo descubro uma fuligem de chuva, um cheiro intenso a óleo queimado que alastra no fluxo nervoso da cidade anunciando a vertigem da solidão. Para tanto bastará o medo soltar a alavanca da noite e deixar-me entregue à minha memória registadora de nomes e atrocidades. Não, não sei nomear a cartografia do rosto ao espelho. O tempo presente passa implacável por entre as ruínas do tempo passado: como habitar este lugar se o estar aqui é apenas refúgio do insondável tempo futuro? Sigo rumo às estações suspensas da respiração da pedra. Vejo cachorros e guardas vindos do fundo da noite para apagar o sopro das estrelas, vejo exércitos no seu ritual sombrio de passada lenta e ouço o espanto das vozes na luz coagulada do silêncio. Tropeça súbito um corpo interdito em clarão, no peito o impacto absurdo de uma flor fulminante. Há uma silhueta em câmara lenta multiplicando, aflitas, as mãos. Numa folha de papel levada pelo vento escrevo um rosto em seu rigor absoluto na fria caligrafia do chão.


fevereiro de 2012 (atualizado)


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Ensaios, conferências, comunicações académicas, notas e artigos de opinião sobre Cultura. Sem preocupações cronológicas. Textos recentes  quando se justificar.

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Ensaios, conferências, comunicações académicas, textos de opinião. notas e folhas de sala publicados ao longo de anos. Sem preocupações cronológicas. Textos recentes quando se justificar.

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Arquivo. Princípios, descrição, reflexões e balanço da Programação de Cinema, Audiovisual e Multimédia do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura, da qual fui o principal responsável. O lema: Pontes para o Futuro.

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Notas, textos de opinião e de reflexão sobre os media, designadamente o serviço público de televisão, publicados ao longo dos anos. Textos  de crítica da atualidade.

Notas pessoais sobre acontecimentos históricos. Memória. Presente. Futuro.

Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

Todo o conteúdo © Jorge Campos

excepto o devidamente especificado.

     Criado por Isabel Campos 

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