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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

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Atualizado: 20 de out. de 2023

O 4º módulo da Odisseia nas Imagens - Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens - foi também aquele que daria origem à primeira e única edição do Festival Internacional do Documentário e Novos Media do Porto. Corresponde na sua concepção ao que seria e foi a proposta de continuidade da Odisseia nas Imagens com as suas múltiplas articulações: um espaço de exibição, divulgação e reflexão sobre o Cinema, com forte ligação às escolas de Ensino Superior, que se assumia como um polo estruturante da indústria audiovisual e multimédia do norte do País. Daí a publicação, agora, de textos de caráter mais teórico, bem como de outros da autoria de Rui Pereira que se inseriam naquilo que deveria ser uma futura estratégia de comunicação. Estes últimos estão publicados em anexo. Quem se der ao trabalho de ler o texto anterior, este e os seguintes ficará não só com uma ideia clara da lógica da Programação e da extraordinária diversidade, mas também do que seria o futuro Festival Odisseia nas Imagens.



Festival Internacional do Documentário e Novos Media do Porto


De 10 de Setembro a 17 de Novembro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório

Casa das Artes


Mr. Freedom (1969) de William Klein

Pensar Glocal, Projectar o Futuro


Este é o quarto e último módulo da Programação de Cinema, Audiovisual e Multimédia da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura. Encarada numa perspectiva dinâmica a Odisseia nas Imagens 4.0 recolhe as experiências e faz a síntese dos módulos anteriores configurando o primeiro festival do Documentário e Novos Media do Porto. Como não podia deixar de ser, a abertura do Festival fez-se com O Porto da Minha Infância, de Manoel de Oliveira, uma encomenda da Sociedade Porto 2001. O filme assinala não só o regresso de Oliveira ao documentário 70 anos depois de Douro, Faina Fluvial, mas é também como que um regresso a casa, neste caso a cidade do Porto, onde pela mão de Aurélio da Paz dos Reis nasceu o Cinema Português. O Porto da Minha Infância carrega, pois, simbolicamente, o sentido de um renascimento.


Obedecendo a uma estratégia de criação de novos públicos, de dinamização do debate em torno das questões da imagem e dos novos modos de significar, de reflexão a propósito de um sector audiovisual cuja afirmação regional repercute em termos da afirmação global da realidade local, a Programação foi sendo ampliada e diversificada de módulo para módulo, aliando a componente lúdica a um quadro conceptual exigente e interpelativo, dando a ver aquilo que habitualmente não é visto e questionando aquilo que habitualmente não é questionado.


Assim, ao mesmo tempo que no ciclo O Olhar de Ulisses, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, se fazia a História do Documentário e se mostrava o Grande Cinema, eram dados incentivos às produções escolares e lançados numerosos ateliers, workshops e masterclasses nas áreas do Cinema, Televisão e Multimédia, todos eles com pedidos de inscrição muito superiores às vagas disponibilizadas. Retrospectivas de autor permitiram revisitar Visconti e dar a conhecer Errol Morris. Ciclos temáticos no domínio do digital e das imagens em 3D, instalações e filmes concerto, a partir dos quais se projectou um olhar renovado sobre os clássicos, deram corpo a um olhar experimental. Relevado o papel estruturante dos festivais, assumida a necessidade da ligação às universidades e apontado o caminho para uma política local de incentivo à produção e exibição de documentários, animação e curtas metragens de ficção abriram-se pistas para o futuro.





A Odisseia nas Imagens 4.0 prossegue o percurso iniciado em Maio de 2000 com “O Homem e a Câmara”, continuado em Outubro e Novembro do mesmo ano com “O Som e a Fúria” e desenvolvido em Março, Abril e Maio de 2001 com “Apocalípticos e Integrados”. Este 4º módulo, estrutura-se em torno do modo como as imagens em movimento, bem como as novas linguagens multimédia reflectiram e reflectem as grandes questões do final do século XX e projectam a aventura do século XXI. Certamente não por acaso A Odisseia nas Imagens 4.0 denomina-se “Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens” e obedece já ao modelo de um festival que promove em vários espaços, em simultâneo, ciclos de cinema clássico, retrospectivas de autor, masterclasses, workshops, ciclos temáticos sobre a actualidade, fórums de reflexão, trabalhos experimentais e, naturalmente, também, um sector competitivo no qual se enquadra a competição de escolas.


Resulta, pois, que a Odisseia nas Imagens tem por objectivo promover a produção criativa multimédia e o documentário nas suas múltiplas modalidades, bem como transformar-se num fórum de debate sobre políticas e linguagens audiovisuais e multimédia, de modo não apenas a projectar a visibilidade da cidade e da região, mas também a fazer da cidade e da região um polo de produção, distribuição e difusão do cinema, audiovisual e multimédia do noroeste peninsular. Por isso, não apenas a selecção competitiva, mas também outras iniciativas, contemplam uma presença significativa de criadores e especialistas portugueses e espanhóis.



Sessão de encerramento da Odisseia nas Imagens

Ponto de encontro de realizadores, produtores, operadores de televisão e outros agentes culturais, a Odisseia nas Imagens foi estruturada a pensar numa política virada para a identificação e aposta em nichos de mercado assente em critérios de racionalidade económica e de excelência ao nível do discurso. É uma forma de pensar local e agir global. É a política do glocal. Portanto, estes nichos de mercado não se esgotam em produções de difusão limitada, antes são encarados como parte integrante de um mercado consequente, por um lado, da segmentação e especialização televisivas, as quais abrem novas janelas de oportunidades e, por outro, do impacto estruturador produzido pelos festivais internacionais de cinema, televisão e multimédia nas indústrias culturais e no tecido económico dos países da União Europeia.


Por forma a multiplicar a eficácia dos efeitos pretendidos a Odisseia nas Imagens requer, naturalmente, a articulação tanto com estruturas já existentes, nomeadamente as universidades e os festivais de cinema da área metropolitana do Porto – o Fantasporto, o Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde e o Cinanima - quanto com estruturas em fase de lançamento, como a Casa da Animação, ou outras em fase de estudo, como o Media Parque. Como se depreende requer, também, uma estratégia de internacionalização sem a qual a contemporaneidade é inexequível. Observados estes princípios e sabendo tirar partido quer do salto cultural verificado nos últimos dez anos, quer dos efeitos induzidos pela Capital Europeia da Cultura, o Porto poderá legitimamente aspirar a um lugar de interessante protagonismo no contexto do audiovisual peninsular. Em suma, ficam lançadas as bases a partir das quais é permitido imaginar uma nova Cidade das Imagens.

Jorge Campos

Dario Oliveira



Ante-Estreia do Filme “O Porto da Minha Infância” de Manoel de Oliveira

(Encomenda da Sociedade Porto 2001)

Dia 10 de Setembro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório



O Porto da Minha Infância (2001) de Manoel de Oliveira

O Porto da Minha Infância (Texto Jacques Parsi)


Com a liberdade de inspiração e o rigor de escrita que o caracterizam, Manoel regressa à sua cidade natal, a cidade do Porto. Ela já tinha inspirado o seu primeiro filme, Douro Faina Fluvial, em 1931, e o filme que marca o seu regresso atrás da câmara em 1956, O Pintor e a Cidade. Nestas duas obras Oliveira havia filmado aquilo que prendia o seu olhar. Em Porto da Minha Infância, ele escolheu filmar aquilo que já não existe e que só os olhos da memória, da “sua” memória podem ainda ver. À imagem daquele primeiro plano onde uma orquestra invisível toca uma música misteriosa. O Porto da Minha Infância é ainda o Porto de antes do nascimento: uma cidade carregada de história, uma cidade de artistas e pensadores. E, como que por um movimento em espiral, o filme desenvolve-se desde as ruínas da sua casa natal, à cidade do Porto, a toda a sociedade onde se trava a guerra dos sexos, à Europa. O último plano do farol que se abre sobre o infinito do mar e do mundo é a réplica, ou a rima se se quiser, a cores, do primeiro plano do primeiro filme do jovem Oliveira, setenta anos antes... o Porto é também a cidade que viu nascer, depois de 1896, o cinema em Portugal...


Porto da Minha Infância é o filme de uma procura: fragmentos de lembranças, vestígios, testemunhos, marcas, actualidades, letras de canções, fotografias... Imagens de identificação por vezes incerta: estes dois homens que olham para a objectiva da câmara serão realmente os poetas Fernando Pessoa e José Régio? E esta mancha cinzenta? Essa sobre a qual a mão do realizador desenhou uma cabana, um pavilhão de jardim, será realmente a garagem onde revelou o negativo do seu primeiro filme? Fumo de fumo, tudo é fumo. A vida e a memória esfumaram-se. A voz da memória fala de uma garagem, mas nós nunca vemos mais do que uma sombra. Um fantasma. O passado é uma palavra em que se deve acreditar.


A casa natal desapareceu, a árvore da forca desapareceu... e as confeitarias, e o Palácio de Cristal, e a prima Guilhermina, o primeiro amor....


Por momentos, o filme da memória é tomado pela vertigem. Do camarote dos seus pais, Manoel, adolescente, assiste à opereta Miss Diabo. O Manoel que vemos é, com efeito, o seu neto encarregado de o incarnar. Este observa em cena o Manoel que ele será oitenta anos mais tarde, o Manoel que ele é agora, detentor do papel de um actor dos anos vinte, Estêvão Amarante, que interpreta por sua vez o papel de um ladrão, que rouba o coração de uma mulher...


Participantes convidados para a Ante-estreia Nacional do filme:


Manoel de Oliveira

Paulo Branco

Rogério Samora

Ricardo Trepa

António Costa


Filme Concerto

23 de Outubro, Auditório de Serralves – 22H00



Life and Death of 9413 - a Hollywood Extra (1928) de Robert Florey. Fonte: Binged


Life and Death of 9413 - a Hollywood Extra de Robert Florey, 1928

Regen de Joris Ivens, 1929

Un Chien Andalou de Luis Buñuel, 1929

Música ao vivo de Remix Ensemble – Casa da Música

Ciclo «Outras Paisagens». Clássicos do cinema revisitados pelo Remix Ensemble da Casa da Música.


O Remix – Ensemble Casa da Música foi criado no âmbito da Programação Musical do Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura enquanto parte integrante do projecto “Casa da Música”.


Desde o concerto inaugural em Outubro de 2000, sob a direcção do seu maestro titular, Stefan Asbury, o ensemble tem-se apresentado ao ritmo de um novo programa por mês em várias salas do país, nomeadamente Auditório de Serralves (Porto), Auditório do DECA da Universidade de Aveiro, Teatro Nacional de S. João (Porto), Teatro Camões (Lisboa) e Centro Cultural de Belém (Lisboa).


Tendo começado por dar especial atenção aos clássicos do século XX, o Remix – Ensemble Casa da Música tem vindo a alargar o seu repertório, divulgando as mais significativas correntes estéticas da música contemporânea. Os programas de concerto incluíram compositores como Schoenberg, Webern, Dallapiccola, Ives, Nancarrow, Feldman, Varese, John Adams, Frank Zappa, Berio, Knussen, Gruber, Falla, Gandolfi, Debussy, Mahler, Gavin Bryars, Daniel Goode, Philip Corner, Cornelius Cardew, Henry Dutilleux, Poul Ruders, Ligeti, Birtwistle, Steve Reich, Eurico Carrapatoso (primeira audição da obra encomendada pela Fundação Serralves), João Pedro Oliveira, António Chagas Rosa e Emmanuel Nunes.


Em Novembro de 2000 participou no Festival “Música em Novembro”, organizado pelo Teatro Nacional de S. Carlos e em Maio de 2001 participou no “Ensems - XXIII Festival Internacional de Música Contemporânea de Valência”, onde fez a estreia mundial de Buried Materials de António Gómez-Schneekloth (encomenda daquele Festival). Em Abril de 2001 fez a sua primeira incursão na ópera através da produção de The Turn of the Screw de Benjamin Britten (co-produção do Estúdio de Ópera do Porto e do Teatro Nacional de S. João), com direcção musical de Brad Cohen e encenação de Ricardo Pais. Em Setembro de 2001, realizou dois concertos, no Centro Cultural de Belém e Auditório Serralves, com um programa inteiramente preenchido por obras encomendadas aos compositores João Madureira, Luís Tinoco, Sara Carvalho, Nuno Corte-Real, Patrícia Almeida e José Luís Ferreira em co-produção com o Centro Cultural de Belém. Em Outubro de 2001 interpretou, juntamente com a Orquestra Gulbenkian e Drumming –Grupo de Percussão, Quodlibet de Emmanuel Nunes, sob a direcção de Jürg Henneberger e Kasper de Roo.


Além de ser dirigido regularmente por Stefan Asbury, o Remix – Ensemble Casa da Música já trabalhou sob a direcção de Ilan Volkov, Anton Lukoszevieze, Brad Cohen, Miquel Bernat, Michael Zilm, Sarah Ioannides e Kasper de Roo.


Participantes:


Stefan Asbury (Direcção)

Angel Gimeno (Violino)

Monica Germino (Violino)

Trevor McTait (Viola)

Oliver Parr (Violoncelo)

António Augusto Aguiar (Contrabaixo)

Helen Bledsoe (Flauta)

José Fernando Silva (Oboé)

Vitor Pereira (Clarinete)

Roberto Erculiani (Fagote)

Bruno Hiron* (Trompa)

Gary Farr* (Trompete)

Jonathan Pippen (Trombone)

Mário Teixeira (Percussão)

Manuel Campos (Percussão)

Jonathan Ayerst (Piano)


* músico convidado



O Olhar de Ulisses 4 - Resistência

26 de Outubro 2001, Grande Auditório Rivoli – 22H00


«A Ilha das Flores» de Jorge Furtado

«Dodes’ka-den» de Akira Kurosawa


Uma obra-prima de Kurosawa. O seu primeiro filme a cores tantas vezes comparado à pintura de Mondrian e do Kandinski da primeira fase. Uma crónica sobre o cotidiano de uma periferia pobre de Tóquio, na qual se cruzam um menino que mendiga num restaurante a comida para si mesmo e para o pai, uma jovem tímida que faz flores artificiais para sustentar o padrasto alcoólatra, o "maquinista" de um comboio imaginário que imita o som das rodas sobre os trilhos…Dodes’ka-den, Dodes’ka-den… Tudo à margem da metrópole invisível que mesmo assim sufoca a vida dos excluídos.



Dodes’ka-den (1970) de Akira Kurosawa

Estreia: «Messiah» de William Klein

27 de Outubro de 2001, Grande Auditório Rivoli – 22H00


Ciclo «Como Salvar o Capitalismo» - Estreia em Portugal do filme «Messias», de William Klein, um dos ícones da cultura contemporânea. Fotógrafo, cineasta, pintor, Klein revolucionou a fotografia e o documentário. Proscrito durante 40 anos no seu país, acolhido mas também censurado em França, definiu provocadoramente o seu «Messias», que recolhe a obra monumental de Haendel, numa curta frase: «Cristo + Charlot».



Messiah (1999) de William Klein

Estreia: «Crazy» de Heddy Honigmann

28 de Outubro de 2001, Grande Auditório Rivoli – 22H00


Ciclo «Como Salvar o Capitalismo» - Um relato de experiências de guerra de soldados em missões dos capacetes azuis da ONU em várias partes do mundo ou o modo de entender a globalização da guerra por uma das principais documentaristas da actualidade, autora, entre outros dos multipremiados «O Amor Natural» e «Metal e Melancolia». “Crazy” combina as imagens recolhidas pelos próprios soldados no teatro de guerra com a música e as canções que permaneceram associadas à sua memória dos conflitos: de Puccini a Elvis Presley, de Pergolesi a Patsy Cline.



Crazy (2000) de Heddy Honigman


Quem és Tu? de João Botelho

Estreia (Sessão Especial)

Dia 29 de Outubro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório


Quem és tu? Quem são as figuras, os grupos, as situações que perturbam o sono de Maria? Quem és tu, rei imberbe, cuja loucura foi a nossa desgraça e cujo fantasma atormenta o nosso sono e o sono de Maria? Quem és tu, cativo de Fez, que vens pôr em causa o nosso sossêgo e o nosso abandono? A atmosfera moral, visionária, supersticiosa e a grandeza que envolvem o Frei Luís de Sousa, e tudo o que moldou e vazou o maior mito da nossa História, o sebastianismo, essa abdicação de História e prova póstuma da nacionalidade, podem resumir-se nessa pergunta. Frei Luís de Sousa é uma obra de génio, ímpar na arte da escrita portuguesa, que só tem comparação no teatro de Gil Vicente, nos Lusíadas e nos sonetos de Camões, antes de Garrett, e no Amor de Perdição de Camilo, e nos versos de Pessoa, depois dele.


Uma "forma de beleza, acima da qual nada mais há!", a imensidão de qualquer um dos finais dos actos que sendo tão grandiosos só se escrevem uma vez. Ser possível fazer um filme sobre um patriota singular sem abdicar de lutar pelo progresso das formas e das ideias. Aliás, todos nós cineastas, devíamos ser obrigados a fazer um Frei Luís de Sousa.

João Botelho


Participantes:

João Botelho (realizador)

José Pinto (Actor)

Bruno Martelo (Actor)

Patrícia Guerreiro (Actriz)

Suzana Borges (Actriz)

Rui Morisson (Actor)

Rogério Samora (Actor)

Francisco D'Orey (Actor)

Elso Roque (Imagem)

Sílvia Grabwoski (Guarda-roupa)

Rita Gallo

Catarina Cabrita



Quem és tu? (2001) de João Botelho


Ciclo “Como Salvar o Capitalismo”

De 20 de Outubro a 3 de Novembro

Casa das Artes

Sinopse:


No último quartel do século XX, o que restava da utopia caminhou ao lado de regimes de mãos de ferro, a humanidade envolveu-se em sanguinolentas carnificinas e o homem conheceu um desenvolvimento científico e tecnológico sem precedentes, avançando na aventura do espaço e do ciberespaço. Fazendo uso do mapa genético, criou condições para se multiplicar laboratorialmente. Este admirável mundo novo é, na verdade, um mundo de luz e sombra, porventura de Frankenstein e da sua criatura, seguramente de ecrãs planos transportando dentro de si personagens sem espessura numa espécie de versão pós-moderna da paisagem orwelliana. Ruiram os mitos, tombaram os muros. Em que acreditar? Pois, salve-se, ao menos, o capitalismo! Por entre o amontoado de cacos e telelixo, reminiscências de um tempo que se acreditou poder ser justo, na desordem aparente que sugere uma nova barbárie ou, se preferirmos, nessa ordem aparente que promete uma ordem nova, haja, pois, lugar para um olhar oblíquo, transversal, provocatório.


Jorge Campos



Retrospectiva de William Klein/ Filmes do ciclo Como Salvar O Capitalismo

Exposições/ Masterclasses/ O Choque das Imagens

De 21 de Outubro a 2 de Novembro


Como Salvar o Capitalismo

De 21 a 25 de Outubro de 2001

Casa das Artes


Retrospectiva de William Klein

Com a presença de William Klein e de Jeanne Klein

Casa das Artes



Foto Ali de William Klein

William Klein revolucionou o cinema, como tinha revolucionado a fotografia com o seu livro sobre Nova Iorque, em 1956. A sua visão de autor consiste em abordar um tema que conhece bem (a moda, os media, o engajamento político) e desmontar os seus mecanismos por meio da ficção. A boneca fica com as entranhas à mostra, e é ainda mais bonita. Klein leva o traço até à farsa, ao agit-prop. Está sempre na vanguarda, uma ou duas décadas à frente. Para cada um dos seus vinte filmes procura um estilo adequado. Em Qui êtes-vous Polly Maggoo (1965-66) há banda desenhada, contos de fadas, palhaçadas, coreografia, e a antecipação das farsas grotescas da moda actual. Klein caricaturiza os que estão na moda e os (as) ditadores (as) da moda. Permite-se ser “excêntrico” ao estilo das comédias americanas da sua infância, com o príncipe encantado de pacotilha apaixonando-se pela foto de uma vedeta. O seu procedimento é ainda mais corrosivo em Mister Freedom (1967-68), um panfleto contra a América polícia do mundo. Com desenho e argumento de William Klein, Freedom antecipa o pop com o seu azul-branco-vermelho introduzido no guarda roupa. As manifestações enfurecidas do “movimento Freedom” configuram as missas do lepenismo avant la lettre. Em Le couple témoin (1975-76) denuncia os grandes aglomerados urbanos. Um casal comum (André Dussolier e Anémona) é submetido à vigilância de psico-sociólogos inverosímeis e sádicos, num apartamento-modelo. Klein zomba dos dependentes do consumismo e recorta o casal seguindo o pontilhado, num cenário branco, de nonsense. Não é de espantar que André Dussolier se tenha sentido “objecto das provocações” de Klein, o que muito o divertia.


Os documentos-retratos de Klein, que tratam de três super negros, são Muhammad Ali, the Greatest, Eldridge Cleaver, Black Panther e Little Richard story. São os “Abre-te Sésamo” da sua América particular. Cassius Clay, genial lutador de boxe, nascido dos deuses em Kentucky, comprado como um cavalo pelos aristocratas, torna-se duas vezes campeão mundial de pesos pesados. William Klein segue-o, apaixonado, mas sem bajulações, e restitui a imagem do atleta mais célebre da História com uma energia e um oxigénio desconhecidos no cinema documental. É que Klein é um mestre da reportagem e tem um olhar devorador. Little Richard story é uma outra face da América, a história de um cantor de rock que desce a ponto de vender Bíblias para dois aldrabões evangélicos brancos que o exibem e exploram. Sentindo-se enganado, Little Richard diz adeus e desaparece durante a rodagem. Klein não se deixar vencer e descobre um concurso de imitadores de Little Richard, um "Dia Little Richard" sem Richard. Filma tudo e conclui o documentário sem o herói. É destroçador, derrisório e comovedor. Quanto a Eldrige Cleaver, procurado pelo FBI e refugiado na Argélia, Klein filma-o durante três dias e três noites, enquanto ele faz um discurso de "iluminado" sobre a "nova revolução americana". Klein persegue, através de planos cada vez mais próximos, um Cleaver a divagar, a triturar uma faca de entalhar e a fumar. Enquanto Muhammed Ali é um falso clown e um verdadeiro Messias, Cleaver é um falso Messias e um verdadeiro louco. William Klein escolheu exprimir-se pelo desporto, pelo rock, pela música e pelo Messias. Ao som do oratório de G. F. Haendel faz Le Messie (O Messias): "Vai ser Jesus + Charlot", disse Klein.


Claire Clouzot



The Little Richard Story (1980) de William Klein


Filmes:


21 Outubro

18:30h

The Little Richard Story (1980) de William Klein, 90’

22:00h

Mode en France (1985) de William Klein, 90’


22 Outubro

18:30h

Don’t Look Back (1967) de D. A. Pennebaker, 96’

22:00h

Muhammad Ali, The Greatest (1974) de William Klein, 120’


23 Outubro

18:30h

I Am Cuba (1964) de Mikhail Kalatozov, 141’

às 22:00h

Havanna Mi Amor (2000) de Uli Gaulke, 80’



I Am Cuba (1964) de Mikhail Kalatozov


24 Outubro

18:30h

Far From Vietnam (1967), episódio de William Klein

Eldrige Cleaver (1970) de William Klein, 75’

22:00h

Mr. Freedom, de William Klein, 1969, 95’


25 Outubro

16:00h

Masterclass de William Klein+filmes:

Contacts (1983) 15’

Hollywood California: A Loser’s Opera (1977), 60’

22:00h

Broadway By Light (1958) de William Klein, 12’

Who Are You, Polly Magoo? (1966) de William Klein, 102’



Who Are You, Polly Magoo? (1966) de William Klein

Exposições de Wiiliam Klein:


A Revolução já não está na moda? E Klein, estará?

Ao contrário do personagem de Feydeau que dizia: “Como queres tu que eu te escute, quando me falas a contraluz?”, o clamor emitido pelas fotografias de William Klein impede-nos, por vezes, de as ver. As imagens que ele arranca à realidade conservam todo o seu furor e ruído, como se ele tivesse introduzido uma banda sonora em cada um dos seus rolos fotográficos. O universo fotografado por Klein nunca acaba, sendo uma vítima constante de devastações internas, de relações de força que em si mesmas se modificam alterando as estruturas. Em vez de estagnar, como muitos outros, o seu universo reproduzido na superfície gelada do papel adquire uma nova energia e entra em erupção diante dos nossos olhos. Incendeia-se, assobia, agita-se, lança jactos de matérias incandescentes e produz seres fabulosos, os pés apanhados pela lava e o rosto coberto por graffitis. As fotografias de William Klein são agitadoras, comoventes e revolucionárias.


Wiiliam Klein – Irónico e devorador

De 20 de Outubro de 2001 a 05 de Janeiro de 2002

FNAC Sta. Catarina


Uma exposição retrospectiva.

De 1958 a 1993, fotografias de Roma, Paris e Nova Iorque.

A moda e os seus bastidores, a rua e as suas cores, imagens dos seus filmes.


William Klein – Mode In and Out

De 20 de Outubro de 2001 a 05 de Janeiro de 2002

FNAC Norte Shopping


William Klein – Contacts

De 21 de Outubro a 12 Novembro de 2001

Casa das Artes


(Excerto do Prefácio de “Mode in and Out” assinado por William Klein, Editions du Seuil, reproduzido no catálogo Odisseia nas Imagens)


“Em 1954, voltei para Nova Iorque depois de ter passado seis anos em Paris. Tinha então dois projectos: primeiro manter um diário fotográfico do meu regresso à minha cidade natal. Segundo, transferir, graças a um processo fotossensível inventado por Corning Glass, as minhas fotos abstractas para a massa de parede de vidro. Alexander Liberman, o director artístico da Vogue, que tinha visto alguns trabalhos meus em Paris, propôs-me um contrato para “contribuições diversas” na revista e o financiamento das minhas fotografias de Nova Iorque para a compilação de um portefólio. Porque não? Sempre era melhor do que correr atrás das bolsas e das galerias.


Comecei a trabalhar furiosamente – contra a fotografia, que eu descobria, e contra a cidade, que eu redescobria. Servi-me de um determinado olhar como arma secreta, um olhar em parte indígena em parte estrangeiro.


As fotografias que fiz para o meu diário foram as minhas primeiras fotografias de verdade. Em Paris tinha começado a aprender a tirar partido da máquina fotográfica, mas pela primeira vez, em Nova Iorque, tinha um projecto em mão…



William Klein

… No início eu era apenas um leigo e não fazia a mínima ideia de como tirar uma fotografia de moda. Qual a iluminação? Que máquina usar? O que pedir ao manequim? O que fazer para não parecermos ambos ridículos? Eu pensava, na altura, que se tratava de uma espécie de ritual com regras secretas e um vocabulário codificado, dos quais eu desconhecia o segredo. Mas essa experiência divertia-me. Fazia parte da Nova Iorque in das músicas de Gershwin, na qual eu tinha crescido. Podia ter-me passado pela cabeça que o ideal seria enforcá-los, toda aquela Beautiful People, ou mandá-los simplesmente trabalhar. Mas, confessemo-lo, eu era tão made in Hollywood quanto qualquer jovem americano e deixara-me igualmente arrebatar não só por filmes como Scarface e Dead End, mas também por Philadelphia Story e Swingtime. Um miúdo que se identificava com Fred Astaire em Top Hat quando ele acaba de “receber um convite pelo correio/dê-nos a honra da sua presença esta noite/vestido a rigor, de casaca e em plena forma!…”


Não obstante, eu também ouvia Louis Amstrong que cantava as mesmas músicas, mas munido de uma ironia incrédula que caracterizava todas as suas interpretações de lengalengas da Broadway.


Foi, portanto, um tom de paródia à maneira de Satchmo que eu tentei imprimir às minhas fotos de moda. Como os avisos no fundo dos maços de cigarros ou o cachimbo de Magritte.


No entanto, embora Magritte tenha estipulado que não se trata de um cachimbo, na verdade é um cachimbo que ali vemos. E eu insistia que estas fotos não eram a sério, mas na verdade elas estavam impressas nas páginas da Vogue…”



Fotos de William Klein


Masterclasses/ Como Salvar o Capitalismo

De 25 de Outubro a 1 de Novembro

Casa das Artes


1. William Klein – Cineasta, Pintor, Poeta, Fotógrafo


Sinopse : William Klein nas suas próprias palavras...


William Klein, 1928, Nova Iorque, é autor de uma obra de culto na área da fotografia e do cinema. O seu álbum «New York», de 1954, teve de ser editado em Paris porque, no seu país, não apenas não encontrou editor disposto a publicá-la, como se converteria num passaporte para um exílio intelectual e artístico de mais de 40 anos. Ao fotografar a selva nova-iorquina, Klein iniciou uma revolução estética e política com reflexos em toda a sua obra posterior, designadamente na sua vasta filmografia, onde o vector artístico sempre seguiu a par do olhar político. Também a televisão francesa censuraria em 1963 um filme que lhe havia encomendado, intitulado Les Français et la Politique. Em 10 anos, entre 1982 e 1992, realiza mais de 250 filmes publicitários para as maiores marcas do mundo, o que, todavia, não o impede de retratar acidamente na sua cinematografia o sistema da moda, do consumo e da alienação. Filmes como Muhammad Ali- The Greatest, Eldrige Cleaver - Black Panther ou Qui Êtes-Vous Polly Magoo?, são referências estéticas e políticas na história do cinema e do documentário da segunda metade do século XX.


Filmografia:

Broadway by light, 1958; Comment tuer un Cadillac, 1959; Le business et la mode, La gare de Lyon, Les troubles de la circulation, Inondation catalane, Les français et la politique (censurado), Le Grand Magasin, 1962-63; Cassius – le grand, 1964-65; Qui Êtes-Vous Polly Magoo?, 1965-66; Loin du Vietnam, 1967; Grands soirs et petits matins, 1968-78; Mister Freedom, 1967-68; Festival Panafricain de la Culture, 1969; Eldrige Cleaver – Black Panther, 1970; Le grand café, 1972; Muhammad Ali The Greatest, 1969-74; Le Couple Témoin, 1975-76; Hollywood – California, 1977; Music City – USA, 1978; The Little Richard story, 1980; The french, 1981; Ralentis, 1984; Mode in France, 1985; Contacts, 1986; Carte d’ identité, État des lieux, La grande arche, Ciné défense, 1989; Babilée’ 91, 1991; In & out fashion, 1993, Le Messie, 1997-98.


(Continua)


ANEXO I


Eddy Honnigman

A 28 de Outubro na Odisseia nas Imagens


Crazy, de Heddy Honigmann:

Um Retrato da Guerra na Intimidade


Um outro olhar sobre a guerra. Como é, visto pelos olhos dos oficiais de manutenção de Paz das Nações Unidas, o conflito militar da Coreia e Indochina até à ex-Jugoslávia? Mais do que isso: como é por eles percebida e sentida a guerra, à medida que o desafio ao olhar de cada uma dessas pessoas ganha uma intimidade cada vez mais profunda, como a sugerida, por exemplo, pelo escutar de uma melodia especialmente querida, num cenário devastado pelas bombas? Munida de uma câmara e destas perguntas, a cineasta holandesa Heddy Honigmann realizou um filme brilhante: «Crazy». Pelas 22 horas do próximo 28 de Outubro, o Porto poderá vê-lo em estreia em sala em Portugal, no Grande Auditório do Rivoli Teatro Municipal.


Honigmann é uma das mais importantes documentaristas da actualidade. Faz parte do reduzido número de cineastas que consegue ver os seus filmes saltarem dos écrans de televisão para a sala escura. Crazy é um desses casos de sucesso. Sobre o filme escreveu o crítico Steve Erickson:«Não vi em todo o ano um documentário melhor do que este».


Alternando imagens de vídeo doméstico e de família, com grandes planos de cada um destes oficiais falando ao som da sua música preferida, ou de alguma outra que lhe traz à memória situações especialmente problemáticas em que se tenha encontrado, noutros cenários de guerra, Heddy Honigmann revisita Puccini e Elvis Presley, Pergolezzi e Patsy Cline e segundo Erickson, utiliza «a maleabilidade da música, para, de uma forma proustiana convocar a memória».


O que poderia não passar de um retrato convencional sobre as forças de manutenção de Paz e os seus agentes torna-se, assim, por via de um documento sobre a intimidade, um retrato delicado daquilo que são as cicatrizes da guerra e os seus efeitos psicológicos de longo termo.Com uma eficácia que aumenta na proporção da sua contenção, «Crazy» expõe «toda a ineficácia da missão humanitarista das Nações Unidas», particularmente na ex-Jugoslávia, aponta Steve Erickson, na sua apreciação do documentário.


De nacionalidade holandesa e oriem peruana, Heddy Honigmann nasceu em 1951, na cidade de Lima. Estudou biologia e literatura e radicou-se na Europa onde, a partir de 1973, cursou cinema no Centro Sperimentale di Cinematografia de Roma. Depois de obter a nacionalidade holandesa, a cineasta realiza em 1979 o seu primeiro documentário, «A Israel dos Beduínos». Sete anos depois, Honigmann conclui a sua primeira longa metragem«Mindshadows», para obter, já em 1993, o Grand Prix du Cinéma du Réel, em Paris e o Prémio Especial do Júri, em San Francisco (Golden Gate Awards). Depois disso Honigmann tem obrtido numerosos galardões em todo o mundo, nomeadamente com o seu documentário já hoje clássico «Metal e Melancolia».


Heddy Honigmann, autora de dezena e meia de filmes, consegue com «Crazy» realizar uma monumental obra sobre o horror da guerra, apesar de (ou talvez por) não incluir, em todo o documentário, mais do que 30 segundos de imagens de atrocidades. Uma viagem desolada pela terra queimada, pela devastação da guerra e, sobretudo, pela alma e a consciência dos homens. No final, Crazy, a canção de culto de Patsy Cline, uma das mais belas algumas vez escritas no universo da country pop, ecoa com a pungência das perdas irremediáveis.



ANEXO II





ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0

COMO SALVAR O CAPITALISMO


WILLIAM KLEIN SOBRE 11 DE SETEMBRO

«A AMÉRICA ESTAVA A PEDIR ISTO...»


O cineasta e fotógrafo norte-americano William Klein, 72 anos, afirmou ontem à tarde, acerca dos atentados de 11 de Setembro, que «a América estava a pedir isto». Os atentados constituíram «uma tragédia mas, ao mesmo tempo, uma coisa boa», devido ao sentimento «de impunidade e superioridade» da política e mentalidade norte-americanas, acrescentou aquele que é considerado um dos maiores nomes da história da fotografia de moda e do cinema na segunda metade do século XX.


Klein produziu estas declarações durante uma masterclass que proferiu no âmbito do ciclo «Como Salvar o Capitalismo», uma das componentes do último módulo da «Odisseia nas Imagens», iniciativa do Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001 SA.


Wiliam Klein recordou «o bombardeamento sistemático do Iraque ao longo dos últimos 10 anos» e salientou a importância «do escândalo bancário de biliões de dólares que, disse, «envolvendo os três filhos de George Bush (Sénior) acabou por determinar o início dos ataques» conta aquele país árabe, «travando imediatamente as investigações».


O cineasta, radicado em Paris desde o Pós-Guerra e que viu o seu trabalho banido nos Estados Unidos durante mais de 40 anos, classificou ainda os atentados em Washington e Nova Iorque como «a mais brilhante acção militar da História». O sucedido «mostrou aos americanos que não apenas existem pessoas espertas para além deles, como mais espertas do que eles» evocando ainda a propósito do 11 de Setembro, a última fotografia do seu livro «New York», de 1955, «onde escureci o céu, em volta do sol, sobre Manhatan, produzindo um efeito que fazia lembrar uma explosão atómica. Algum dia aquilo ía explodir. Aí está», concluiu.


Sobre a sua relação com o seu país natal, William Klein classificou-a como «40 anos de purgatório» e considerou que o seu nome representa ainda hoje para os Estados Unidos «más notícias (bad news)», acrescentando que «se vivesse em Nova Iorque já tinha morrido de pelo menos 15 ataques cardíacos».


Durante cerca de três horas, o cineasta respondeu a perguntas de uma assistência de cerca de 200 pessoas, entre as quais se encontravam os participantes numa pós-graduação em documentarismo promovida no âmbito da «Odisseia nas Imagens».


William Klein falou também da sua obra fotográfica e cinematográfica, negando a possibilidade de existência de objectividade nas imagens. «Quando se assume que se está a fazer algo subjectivo não se deve justificar o facto de não se estar a ser objectivo», explicou. Especificamente sobre o documentário, Klein, que filmou alguns dos maiores ícones da História contemporânea, desde o lider dos Black Panther, Eldridge Cleaver, ao pugilista Muhammad Ali, passando pelo mito do rock n’ roll, Little Richard, o cineasta defendeu «a inexistência de regras e de uma verdade. Não acredito que exista uma verdade seja onde for», afirmou.


Abordando a influência das imagens sobre o público, Klein garantiu não conhecer «muitos filmes que tenham influenciado muita gente a fazer seja o que for. Influenciar não é a única razão que leva as pessoas a fazerem filmes. Fazemos filmes por nós próprios» explicou. Contudo, ilustrou o antigo fotógrafo da «Vogue», «quando fizémos “Far From Vietname” –um documentário crítico da guerra na Indochina- fomos 300 pessoas a trabalhar gratuitamente, porque um grupo de estudantes que estava à cabeça das manifestações de protesto nos sugeriu que o fizéssemos e nós achámos uma boa ideia».


Instado a comentar as diferenças que vê entre o cinema americano e europeu, Klein mencionou simplesmente «os orçamentos» e sublinhou ironicamente o facto de «nunca ter realizado qualquer filme com produção e financiamento dos Estados Unidos», apesar de serem familiares seus, alguns dos administradores da «United Artists».



ANEXO III





PORTO 2001 E FNAC MOSTRAM

EXPOSIÇÕES DE WILLIAM KLEIN


OS ÍCONES DO ICONOCLASTA


«Mode in & Out» e «Irónico e Devorador» são os títulos de duas exposições do fotógrafo e cineasta norte-americano William Klein que no âmbito da programação audiovisual da Porto 2001 estarão patentes ao público entre 21 de Outubro e 5 de Janeiro, nas galerias das lojas FNAC de Santa Catarina e do Norte Shopping, respectivamente.


Unanimemente considerado como um dos mais revolucionários autores da segunda metade do século XX, nas áreas da fotografia, do cinema e do documentário, Klein estará, ele próprio, no Porto, em Outubro, para participar no evento «Como Salvar o Capitalismo», um dos núcleos do primeiro Festival Internacional do Documentário e dos Novos Media do Porto. Além de proferir uma masterclass, Klein terá também em exibição uma retrospectiva da sua obra como documentarista, onde o público poderá ver 11 dos seus 20 filmes.

«... No início eu era apenas um leigo e não fazia a mínima ideia de como tirar uma fotografia de moda. Qual a iluminação? Que máquina usar? Que pedir ao manequim? O que fazer para não parecermos ambos ridículos?», descreve Klein no prefácio da edição em livro de “Mode In & Out”. Evocando os nove anos em que trabalhou para a Vogue, uma das mais reputadas revistas de moda do mundo, Klein acrescenta:«Podia ter-me passado pela cabeça que o ideal seria enforcá-los, toda aquela “Beautiful People, ou simplesmente mandá-los trabalhar. Mas, confessemo-lo, eu era tão made in Hollywood quanto qualquer pequeno americano. Foi, portanto, um tom de paródia (...) que tentei imprimir às minhas fotos de moda. Como os avisos no fundo dos maços de cigarros. (...) Eu insistia que essas fotos não eram a sério, mas na verdade elas estavam impressas nas páginas da Vogue».


O resultado crítico dessa experiência (e da resultante de mais de 250 filmes e spots publicitários realizados para todas as principais marcas do mundo) daria forma ao documentário «In and out fashion», 1993, simultaneamente uma paródia ao mundo da moda e uma crítica ácida à dependência consumista das sociedades contemporâneas.


Richard Avedon considera que «na história da grande fotografia da moda, Klein é o inventor de uma concepção viril sem paralelo e jamais alguém poderá igualá-la ou ultrapassá-la». Por seu lado, Claire Clouzot destaca, num texto relacionado com os materiais da segunda exposição do Porto, «William Klein, irónico e devorador», como ele «revolucionou o cinema, como tinha revolucionado a fotografia (...) Encontra-se sempre na vanguarda, uma ou duas décadas à frente».


O director do Centro Nacional de Fotografia de França, Robert Delpire, anotou no catálogo de uma outra exposição de Klein, “Vaidades”: «Quanto mais o tempo passa, mais a coerência da sua obra me surpreende. (...) Nada escapa a esse olhar fulminante que observa de muito próximo... e que enquadra estreitamente. As cenas de rua, a política, ou a publicidade, a moda do desporto ou a televisão. Ele trata todos esses temas com uma ironia corrosiva singular. E a moda também, que aliás lhe ofereceu a oportunidade de penetrar num dos últimos universos barrocos, de inventar imagens que jamais haviam sido produzidas, de circular pelos bastidores dessas grandes óperas que são as apresentações de colecções».


Curiosamente, antes de lhe ser concedida por França a Comenda das Artes e das Letras, 1991, Klein viu ser-lhe censurado um documentário que realizara para a televisão francesa. E, nos Estados Unidos, teve de esperar 40 anos até ver reconhecida a importância da sua obra, hoje consagrada nas mais variadas latitudes. William Klein é Prémio Cultura da então República Federal Alemã (1988) e Prémio Agfa-Bayer-Hugo Erfurth, também da Alemanha, Grande Prémio Nacional de Fotografia de França (1986), Prémio Guggenheim, Estados Unidos (1989), Prémio Internacional da Fundação Hasselbad da Suécia (1990), entre outras distinções.


Quando aos 71 anos de idade, o «guerrilheiro das imagens», como alguém lhe chamou, se encontrava a rodar «Le Messie» («O Messias») ao som do oratório homónimo de Haendel, resumiu o projecto numa fórmula que tanto retrata o filme quanto o seu autor: «Vai ser Jesus Cristo + Charlot».“O Messias” de Haendel/William Klein passa no grande Auditório do Rivoli Teatro Municipal na noite do dia 27 de Outubro.





Atualizado: 20 de out. de 2023

Este texto reporta ao quarto módulo da Odisseia nas Imagens. Título: Como Salvar o Capitalismo/ Outras paisagens. Foi uma mega operação cultural sobre a qual escreveu João Mário Grilo: “Operação, a todos os níveis, impressionante, que se prolonga ainda no arte-vídeo, na instalação, no multimédia, a performance e numa pluralidade de exposições, conferêcias e masterclasses, este derradeiro episódio de ‘A Odisseia nas Imagens’ lança algumas bases seguras para prolongamentos futuros. Mas a maior expectativa vai para o que desta enorme experiência e esforço irá resultar: saber se da colheita destas imagens pode nascer uma nova geração de pessoas e ideias de que o audiovisual português está tão desesperadamente necessitado. Essa será, sem dúvida, a maior das Odisseias e a razão pela qual a paisagem cinematográfica da Porto 2001 tem, para já, no seu remate, umas reticências e um grande ponto de interrogação. Não é uma dúvida, mas um elogio e uma esperança.” Foi também a primeira e única edição do Festival Odisseia nas Imagens. E ainda aquela em que esteve presente Claudia Cardinale.



O último módulo da Odisseia nas Imagens decorreu em vários espaços da cidade entre 10 de Setembro e 17 de Novembro de 2001. Abriu simbolicamente com o documentário O Porto da minha Infância (2001) de Manoel de Oliveira [1] e obedecia às orientações traçadas num texto introdutório denominado Pensar Glocal, Projectar o Futuro [2]. Aí se afirmava:


“Obedecendo a uma estratégia de criação de novos públicos, de dinamização do debate em torno das questões da imagem e dos novos modos de significar, de reflexão a propósito de um sector audiovisual cuja afirmação regional repercute em termos da afirmação global da realidade local, a Programação foi sendo ampliada e diversificada de módulo para módulo, aliando a componente lúdica a um quadro conceptual exigente e interpelativo, dando a ver aquilo que habitualmente não é visto e questionando aquilo que habitualmente não é questionado [3]”.


O texto prosseguia em jeito de balanço dos módulos anteriores:


“Assim, ao mesmo tempo que no ciclo ‘O Olhar de Ulisses’, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, se fazia a História do Documentário e se mostrava o Grande Cinema, eram dados incentivos às produções escolares e lançados numerosos ateliers, workshops e masterclasses nas áreas do Cinema, da Televisão e do Multimédia, todos eles com pedidos de inscrição muito superiores às vagas disponibilizadas. Retrospectivas de autor permitiram revisitar Visconti e dar a conhecer Errol Morris. Ciclos temáticos no domínio do digital e das imagens em 3D, instalações e filmes concerto, a partir dos quais se projectou um olhar renovado sobre os clássicos, deram corpo a um olhar experimental. Relevado o papel estruturador dos festivais, assumida a indispensabilidade da ligação às universidades e apontado o caminho para uma política local de incentivo à produção e exibição de documentários, animação e curtas metragens de ficção abriram-se pistas para o futuro [4]”.



Claudia Cardinale no encerramento da Odisseia nas Imagens durante o qual foi projetado o filme O Leopardo de Luchino Visconti

Depois de sublinhar o objectivo de promover a produção multimédia e do documentário nas suas múltiplas modalidades, de modo não só a projectar a visibilidade da cidade e da região, mas também a fazer do Porto um pólo de produção, distribuição e difusão do noroeste peninsular, afirmava-se:


“Ponto de encontro de realizadores, produtores, operadores de televisão e outros agentes culturais, a Odisseia nas Imagens foi estruturada a pensar numa política virada para a identificação e aposta em nichos de mercado assente em critérios de racionalidade económica e de excelência ao nível do discurso. É uma forma de pensar local e agir global. É a política do glocal. Portanto, estes nichos de mercado não se esgotam em produções de difusão limitada, antes são encarados como parte integrante de um mercado consequente, por um lado, da segmentação e especialização televisivas, as quais abrem novas janelas de oportunidades e, por outro, do impacto estruturador produzido pelos festivais internacionais de cinema, televisão e multimédia nas indústrias culturais e no tecido económico dos países da União Europeia [5]”.


Em suma, em função do trabalho desenvolvido nos dois anos anteriores, das parcerias estabelecidas e do processo de internacionalização levado a cabo caminhava-se no sentido de dar forma a um festival de novo tipo, cuja presença ficaria assinalada não apenas através de uma grande iniciativa anual fortemente mediática com a duração de uma semana, mas também através de iniciativas escalonadas ao longo do ano resultantes do acordo com vários parceiros. Foi nesta altura que se chegou a acordo com a RTP por forma a promover uma extensão em antena da Odisseia nas Imagens, que, pela primeira vez, se colocou a possibilidade de uma colaboração regular com a Cinemateca Portuguesa com o intuito de trazer pelo menos parte da sua programação ao Porto, que se intensificaram as acções de formação e que se começou a trabalhar com as universidades em cursos de pós-graduação em documentário.


No caso da formação e do ensino superior, dando continuidade ao trabalho desenvolvido anteriormente, as opções estratégicas foram criteriosamente cumpridas. A título de exemplo: Workshop de Formação Intensiva para a Produção de Filmes [6] pela Associação Os Filhos de Lumiére, nascida durante a Odisseia nas Imagens; Wokshop de Pixilação orientado por Mercedes Gaspar [7]; Workshop Novas Tecnologias na Criação Audiovisual [8]; Workshop Produção de Documentários em África [9]; Simpósio Arte & Animação comissariado por Jayne Pilling [10]; Workshop Problemas de Autor na Europa [11]; Workshop O Som para Cinema e Audiovisual [12]; Pós-Graduação em Documentário: O Desafio do Real [13]; Seminário O Documentário [14]; Workshop Operação da Câmara Cinematográfica [15]; Workshop Produção de Curtas Metragens [16].


O modelo de festival a implementar estava, portanto, já definido em Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens: seria centrado no documentário e multimédia apostando, em simultâneo, na ocupação de múltiplos espaços, de modo a tirar partido de factores de proximidade e das capacidades logísticas da rede de parcerias, entretanto concretizadas; teria uma forte componente pedagógica constituída, nomeadamente, por masterclasses e workshops, e faria da excelência o critério exclusivo da sua programação de ciclos de cinema clássico, retrospectivas de autor, ciclos temáticos sobre a actualidade, fórums de reflexão, trabalhos experimentais e, naturalmente, também, de um sector competitivo no qual se enquadraria uma secção de filmes de escolas. Os custos seriam relativamente avultados, mas todo o trabalho de base estava praticamente concluído e tudo indicava, da parte dos poderes públicos, o apoio à continuidade da Programação da Capital Europeia da Cultura após 2001, parecendo igualmente viável a obtenção de patrocínios [17].



No plano dos conteúdos, este módulo evidenciava um conjunto de características cujas marcas deveriam ser seguidas no futuro. Em primeiro lugar, tratando-se do embrião de um festival de documentários e inscrevendo-se estes na actualidade, entendia-se que haveria sempre um conceito pertinente e actual a explorar no conjunto das múltiplas manifestações da Odisseia nas Imagens. Neste caso, atendendo à conjuntura internacional – o ataque terrorista às torres gémeas de Nova Iorque ocorreu no dia seguinte ao início de Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens – a escolha da designação foi quase premonitória.


Sobre Como Salvar o Capitalismo propunha-se a seguinte entrada:


“No último quartel do século XX, o que restava da utopia caminhou ao lado de regimes de mãos de ferro, a humanidade envolveu-se em sanguinolentas carnificinas e o homem conheceu um desenvolvimento científico e tecnológico sem precedentes, avançando na aventura do espaço e do ciberespaço. Fazendo uso do mapa genético, criou condições para se multiplicar laboratorialmente. Este admirável mundo novo é, na verdade, um mundo de luz e sombra, porventura de Frankenstein e da sua criatura, seguramente de ecrãs planos transportando dentro de si personagens sem espessura numa espécie de versão pós-moderna da paisagem orwelliana. Ruiram os mitos, tombaram os muros. Em que acreditar? Pois, salve-se, ao menos, o capitalismo! Por entre o amontoado de cacos e telelixo, reminiscências de um tempo que se acreditou poder ser justo, na desordem aparente que sugere uma nova barbárie ou, se preferirmos, nessa ordem aparente que promete uma ordem nova, haja, pois, lugar para um olhar oblíquo, transversal, provocatório [18]”.


Nesta linha foi ponderado um conjunto de iniciativas no qual se destacava uma retrospectiva de filmes de Willliam Klein [19] associada a uma série de exposições fotográficas do mesmo autor [20], bem como a um conjunto de masterclasses destinadas prioritariamente a discutir o documentário [21] num contexto de multiplicação de sinais de regresso ao real como contraponto da vacuidade da televisão e de um cinema de evasão de massas incapaz de reflectir sobre o mundo. Além de William Klein, as masterclasses foram ministradas por Nina Rosenblum, Dennis Watlington, Llorenç Soler, Javier Rioyo Amir Labaki e Brian Winston.

William Klein na Odisseia nas Imagens. Foto: Cesário Alves

As declarações de William Klein sobre o ataque terrorista às torres gémeas após a exibição do seu filme Mr. Freedom (1967-68) foram largamente comentadas. Disse William Klein: “Se querem saber o que penso dos acontecimentos de 11 de Setembro, penso muitas coisas, e uma delas é que os americanos estavam a pedi-las; nos últimos dez anos, sempre que não têm nada para fazer, bombardeiam o Iraque [22]”. Nina Rosenblum, numa entrevista ao jornal Público, afirmava: “A missão do documentário é salvar a humanidade, mostrar os heróis, as pessoas que nunca recebem atenção dos media convencionais [23]”. Llorenç Soler proclamava a necessidade de libertar o documentário das leis do mercado e de encontrar uma distribuição alternativa e independente, de modo a recuperar “o velho grito de guerra: a câmara é uma arma [24]”. Sendo controversas estas e outras declarações contribuíram para gerar o clima de estímulo ao debate pretendido pelo ciclo.


Complementarmente foi programado um Fórum denominado O Choque das Imagens [25] organizado em três painéis – Imagens Globais, Equilíbrios Instáveis e Propagandas Silenciosas – destinado a debater o estado do mundo e a sua representação mediática com a participação, entre outros, de Ignacio Ramonet [26] e Margarida Ledo Andión. O Fórum Choque das Imagens convivia com Imagens de Choque [27], uma exposição de fotojornalismo da responsabilidade do Festival du Scoop et du Journalisme de Angers através da qual “o público pode ficar a conhecer a actualidade mundial do ano que passou: uma espécie de ‘stop and go’ que nos permite determinar o estado em que se encontra a nossa sociedade: documentos frequentemente chocantes, por vezes difíceis, são o reflexo da humanidade: reflexo esse que nunca poderíamos obter sem os jornalistas pois eles têm, como todos nós, o dever de informar [28]”.



Quanto a O Olhar de Ulisses [29], manteve-se no quadro de uma programação cinéfila, compondo um mosaico de filmes, muitos deles raramente vistos em Portugal:


“A partir do momento em que André Bazin viu o cinema como ‘uma janela aberta sobre o mundo’, o cinema dominante teve uma clara tendência a transformar-se num jogo de vídeo em grande ecrã e o ecrã de televisão a tomar cada vez mais a forma de um buraco de fechadura ou seja o ‘visual’ tende a ocupar o lugar da ‘imagem’ como dizia Serge Daney. Nesse contexto, o quarto e último acto de ‘O Olhar de Ulisses’ procura construir redes de relação e leitura entre os filmes – faróis da história do cinema, pontos de referência indispensáveis – e as obras contemporâneas que teimam em respeitar quem as vê. Por isso este último andamento de O Olhar de Ulisses chama-se Resistência [30].


A programação do ciclo era encabeçada por uma citação de Jean-Luc Godard “Não pode haver resistência... sem memória” e apresentava filmes de Federico Fellini, Jacques Demy, Nicholas Ray, Boris Barnet, Robert Kramer, Luc Moullet, António Reis e Margarida Cordeiro, John Ford, Akira Kurosawa, Charles Laughton, Pedro Costa, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Jacques Tati, Chantal Akerman, Charlie Chaplin, Chris Marker, Jean-Luc Godard, Olivier Smolders, Abbas Kiarostami, Serguei Dvortsevoy e Johan van der Keuken, entre outros. No catálogo, José Manuel Costa introduzia uma nota de polémica – uma das raras em todo o ciclo – ao responder ao artigo de João Bénard da Costa Os filmes que nos vêem/os olhos que nos filmam, anteriormente citado. Dizia José Manuel Costa no início do seu texto:


“Para alguns isto será mera questão de nome, e dirão que o barulho vai dar em nada: uma vez que nenhuma destas diferenças nos impede de gostar muito, em consonância, de muitos dos mesmos filmes, incluindo daqueles a que uma das partes chama documentários e que a outra, diz que ‘o não são’, que interesse pode ter a polémica? Para mim tem um: interessa-me discutir esta área do cinema na medida em que me interessa a parte do cinema todo que nela é mais trabalhada. Discordar sobre a existência do documentário enquanto arte ou sobre a importância disso é perder muito mais do que um possível consenso de gosto sobre alguns outros filmes que à partida se inscrevem aí e aos quais esse consenso já não chega. O problema, claro, não é o documentário em si, mas a maneira como cada um vê qualquer filme. Ninguém gosta muito de um documentário só ‘porque é um documentário’. Mas, se se tem gosto pela área, vê-se e gosta-se de outras coisas nela e fora dela. Não escrevia este texto se não acreditasse que o que está em causa é uma maneira de ver o cinema todo e a história dele [31]”.


O texto não teve réplica, mas a última frase citada, como veremos adiante, convoca questões conceptuais cujo entendimento motivara já, muito antes da sua publicação, opções programáticas no sentido de uma abordagem do documentário em diálogo com áreas não estritamente cinematográficas. A relevância dada às linguagens multimédia, embora obedecendo a critérios plurais e assumindo formas muito distintas do documentário, foi já uma consequência dessas opções. Neste módulo, essas intervenções ganharam maior visibilidade. Explorando o carácter transversal das linguagens, apostando na diversidade, a programação ganhou evidência numa multiplicidade de lugares do espaço público, procurando interagir com os frequentadores habituais ou de circunstância desses mesmos lugares [32]. A porta de entrada de Outras Paisagens [33] era a seguinte:



“Que paisagens nos reserva a acção combinada dos media? Outras paisagens? Sim. Mas que paisagens? O limite da intervenção dos novos media é justamente a ausência de limites, porque neste território tudo é experimental. Aqui, o registo criativo é, simultaneamente, um registo de pesquisa gramatical. Da convergência e conflitualidade de várias linguagens resulta, pois, um peculiar modo de recriar quer o mundo sensorial, quer o mundo conceptual, abrindo-se as portas da percepção ao reconhecimento de lugares desconhecidos dentro do próprio homem e solicitando-se a inteligência intuitiva tanto como forma de racionalizar essa mesma experiência, quanto de inquirir sobre o seu destino. Outras paisagens: tão diversas quanto o seu campo de aproximação: do interior do corpo humano ao universo fabuloso das galáxias, do olhar sobre o tempo que passa à interrogação do tempo futuro [34]”.


À semelhança dos módulos anteriores, os filmes concerto [35] atraíram um público numeroso e um deles, Nosferatu (1919) de Frederich W. Murnau com música ao vivo dos Clã [36] continuou a ser apresentado em diversos pontos do país, pelo menos, até 2005.


Dois outros acontecimentos deixaram ainda uma marca para o futuro. Um respeitante ao cinema de animação. Outro, a um dos projectos externos ao qual foi dado seguimento, o Museu da Pessoa.


Quanto ao primeiro, era dada como irreversível a construção da Casa da Animação, circunstância associada à comemoração dos 25 anos do Cinanima, em Espinho. Na ocasião, a Odisseia nas Imagens patrocinou, nomeadamente, o lançamento de um livro e um CD-ROM ambos intitulados A História do Cinema de Animação em Portugal [37]. No catálogo do Festival podia ler-se:


“O Cinanima está de parabéns. Se todo o seu percurso fazia dele à partida um dos parceiros estratégicos da Odisseia nas Imagens do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, integrando nomeadamente a sua Programação Oficial, os factos subsequentes só vieram confirmar a bondade das opções então tomadas. Na verdade, o Cinanima comemora os seus 25 anos exactamente no ano em que o Porto vai assistir à inauguração da sua Casa da Animação. E, em rigor, o percurso da Casa da Animação não principiou no momento em que a Filmógrafo apresentou o seu projecto à Sociedade Porto 2001, antes remonta ao tempo, há 25 anos, em que o seu principal animador, Abi Feijó, começou a frequentar o Cinanima. É esta função estruturante, feita de tempo e paciência, fazendo ver o que deve ser claramente visto, que releva a importância de um festival [38]”.


Quanto ao segundo, um projecto multimédia preparado ao longo de meses pela Universidade do Minho em colaboração com formadores do Museu da Pessoa de São Paulo, foi oficialmente lançado na Estação de São Bento do Porto em 11 de Novembro de 2001 [39].


No plano cerimonial o ponto culminante da Odisseia nas Imagens terá sido a sua sessão de encerramento oficial – que não de facto – com a projecção de O Leopardo (1963) de Luchino Visconti [40], na presença do Presidente da República Jorge Sampaio e da actriz Claudia Cardinale, evento que esgotou com grande antecedência a lotação do Grande Auditório do Rivoli - Teatro Municipal e ocupou durante dias as páginas dos jornais [41]. O filme encerrava, simultaneamente, o Ciclo Visconti iniciado no módulo anterior. Mas, do ponto de vista da lógica da Programação o momento culminante foi o Festival Internacional do Documentário e Novos Média do Porto [42], bem como a Competição de Escolas a ele associado [43]. Isto, porque, no fundo, seria a partir dele que seria posssível começar a fazer o balanço do trabalho desenvolvido. Com efeito, na fase final do Porto 2001- Capital Europeia da Cultura, uma das questões mais vezes abordadas pelos seus responsáveis e pela comunicação social foi a possibilidade de dar continuidade aos eventos pensados para ficar, cumprindo, assim, as pontes para o futuro. Nalguns casos, como sucedeu com a Casa da Música, desde o início encarada como corolário da programação musical, em função dos compromissos institucionais a nível do Estado, essa questão não se colocou. Contudo, noutros casos a lógica dos eventos, embora obedecendo em termos genéricos a princípios estruturantes, obrigava a uma espécie de conquista de espaço de afirmação, com tudo o que isso implicava de garantia de apoios para efeito de continuidade ou para seduzir potenciais tomadores.


Instalação. To Leave and to Take de Irit Batsry

As parcerias estabelecidas pela Odisseia nas Imagens, a excelência da sua Programação unanimemente reconhecida, bem como os contactos informais estabelecidos através de diversos canais, pareciam abrir boas perspetivas para a continuidade do Festival Internacional do Documentário e Novos Média. Nesse sentido, foram feitas diversas declarações por parte dos responsáveis: “O que nós vamos deixar é um festival completamente estruturado, com um conjunto de parcerias devidamente elencadas. Caberá depois à cidade ser tomadora do projecto nos moldes que entender [44]”. A Coordenadora Geral da Programação Cultural do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, Manuela Melo, na nota de abertura do Catálogo da Odisseia nas Imagens [45], organizado já de acordo com o modelo do que no futuro se pretendia vir a ser o Festival [46], seguia a mesma linha de pensamento:


“Fica o modelo para quem quiser fazer da Capital Europeia da Cultura uma ‘ponte para o futuro’. O Festival, definido segundo estas linhas mestras, será, temos a certeza, o espaço de encontro, discussão, competição, criatividade, mas também de negócio e indução de indústrias da cultura. Um Festival que é urgente ter no nosso país, e centrado no Porto, pelo trabalho desenvolvido ao longo de dois anos e meio na sua concepção e criação de parcerias. (...) O que este Festival pretende – e pode ser se for olhado pelos responsáveis de forma adequada – é relançar o Porto e o Noroeste Peninsular na primeira linha de produção audiovisual e multimédia, tendo em conta as novas condições dos mercados globais [47]”.


Media Lounge

No seu espaço semanal da revista Visão de 25 de Outubro de 2001 João Mário Grilo, num artigo intitulado Reticências, depois de se referir pormenorizadamente à programação de Cinema, escrevia a propósito deste último módúlo:


“Operação, a todos os níveis, impressionante, que se prolonga ainda no arte-vídeo, na instalação, no multimédia, a performance e numa pluralidade de exposições, conferêcias e masterclasses, este derradeiro episódio de ‘A Odisseia nas Imagens’ lança algumas bases seguras para prolongamentos futuros. Mas a maior expectativa vai para o que desta enorme experiência e esforço irá resultar: saber se da colheita destas imagens pode nascer uma nova geração de pessoas e ideias de que o audiovisual português está tão desesperadamente necessitado. Essa será, sem dúvida, a maior das Odisseias e a razão pela qual a paisagem cinematográfica da Porto 2001 tem, para já, no seu remate, umas reticências e um grande ponto de interrogação. Não é uma dúvida, mas um elogio e uma esperança [48]”.


A dúvidas de João Mário Grilo, no entanto, eram pertinentes por duas ordens de razões. Em primeiro lugar, devido à constante volatilidade das políticas para o cinema, audiovisual e multimédia, muitas vezes elaboradas mais em função da conjuntura do momento, dos atritos partidários e de grupos corporativos do que fundamentadas em princípios estratégicos de médio e longo prazo. Em segundo lugar, porque a dimensão atingida pela Odisseia nas Imagens colocara a fasquia num patamar tão elevado, que, internamente, havia a percepção de se estar perante uma tarefa só exequível com meios relativamente avultados, embora, do ponto de vista da formação dos recursos humanos, tivessem sido criadas as condições indispensáveis. Essa foi, aliás, uma das preocupações traduzidas no Relatório de Avaliação Final [49].


Catálogo do Festival Odisseia nas Imagens

Acresce que no plano político e no plano institucional uma série de episódios marcara negativamente a Capital Europeia da Cultura, nomeadamente o relacionamento entre a Sociedade Porto 2001 e a autarquia portuense [50], e embora a Programação no seu conjunto e a Odisseia nas Imagens, em particular, recolhessem um consenso alargado, a verdade é que os indícios, para além da instabilidade resultante do conflito mencionado, apontavam para uma mudança de ciclo político de consequências imprevisíveis para a continuidade das políticas e projectos culturais. Fosse como fosse, a verdade é que nesta fase se multiplicaram as manifestações de apoio, a começar pela voz dos seus principais participantes e convidados, bem como pela generalidade da comunicação social. O Júri da Competição Internacional, presidido por Nina Rosenblum, afirmava na sua declaração: “Um evento com o grau de excelência da Odisseia nas Imagens cumpre um papel insubstituível no estímulo à produção de documentários e na esfera dos novos media. Os nossos votos são de longa vida ao festival [51]”! Acrescentava em seguida: “Como nenhum outro género, os documentários tornam o mundo contemporâneo menos opaco. Um grande documentário cria uma forma própria que espelha a excepcionalidade do seu tema, ou dos seus protagonistas [52]”. Por sua vez, o Júri da Competição de Escolas alertava: “O Júri não pode deixar de chamar a atenção das instituições da região para a responsabilidade de não deixar morrer ou esmorecer esta iniciativa. Bem pelo contrário, devem revitalizá-la e alargá-la pelo seu valor estruturante no panorama cultural, designadamente no audiovisual [53]”. Na imprensa, para citar apenas um exemplo, no semanário Expresso de 17 de Novembro de 2001, António Loja Neves escrevia na abertura do seu texto A reflexão sobre o cinema:


“Na verdadeira saga que foi a programação, durante um ano, dividida por vários módulos, de ‘A Odisseia nas Imagens’, integrante das actividades do Porto 2001, o Festival Internacional do Documentário e Novos Média do Porto foi o acertado rematar de um conceito de programação que redimensiona a forma de olhar as imagens, o cinema, os filmes. E que reposiciona o espectador no propósito de o tornar interventor [54]”.

O articulista concluía assim:


“Dizia Walt Whitman: ‘Ver, ver, observar, abraçar a realidade, arrancar a máscara, esquartejar os pedaços da realidade, devorá-los, colocá-los em cruz’. Excelente receituário para um documentarista. Foi certamente o mote deste festival. Que o festival do Porto continue muito para lá do epifenómeno da Capital Europeia da Cultura. Porque é necessário [55]”.


Durante a fase final da Programação foram estabelecidos contactos com vista a garantir o apoio institucional indispensável à continuidade do Festival. A ideia era assegurar a sua componente de serviço público de apoio ao desenvolvimento de iniciativas no âmbito da produção audiovisual e multimédia que permitissem, a médio prazo, o aparecimento de um sector industrial com alguma pujança capaz de responder a solicitações do mercado mais tradicional, por um lado, e de desenvolver uma identidade própria em termos de produções de excelência numa lógica de ocupação selectiva de nichos de mercado. Em qualquer dos casos, tratava-se de prosseguir e consolidar as bases do trabalho levado a efeito por forma a contribuir para a definição de políticas descentralizadas para o audiovisual e, nessa medida, conferir um maior equilíbrio à visibilidade global do país. Os contactos decorreram, naturalmente, no contexto dos protocolos existentes e levaram, inclusivamente, a solicitação do IPAE (Instituto Português das Artes e Espectáculo) à elaboração de um primeiro documento tendo em vista a possibilidade de utilização da Casa das Artes como base de desenvolvimento e aprofundamento da Odisseia nas Imagens [56]. No jornal Público de 25 de Janeiro de 2002, o Ministro da Cultura Augusto Santos Silva avançava já algumas ideias a propósito da futura utilização desse equipamento cultural [57].


Notícia da revista Visão sobre o programa de Jorge Campos Odisseia nas Imagens na RTP 2 que, durante 13 semanas, deu continuidade à programação

Mas, apesar das manifestações de apoio provenientes de diversos sectores, o facto é que a Odisseia nas Imagens, em boa medida devido à mudança de ciclo político, quer ao nível do poder local quer do poder central, não viria a ter continuidade. O último episódio desta aventura do olhar foi na RTP em cujo Canal 2 viria a conhecer uma extensão constituída por 14 programas [58].



(Continua)


Notas remissivas

[1] . Anexo I – pp. 294-295. [2] . Anexo I – pp. 187-190. [3] . Anexo I – p. 187. [4] . Anexo I – p. 188. [5] . Anexo I – p. 189. [6] . Anexo I – pp. 257-258. [7] . Anexo I – p.259. [8] . Anexo I – pp. 259-260. [9] . Anexo I – p. 261 [10] . Anexo I – pp. 264-268. [11] . Anexo I – p. 269. [12] . ibid. [13] . Anexo I – pp. 269-272. [14] . Anexo I – p. 273. [15] . Anexo I – p. 275. [16] . ibid. [17] . O orçamento global atribuído à Odisseia nas Imagens foi de 528.500.000$00, o equivalente a um pouco mais de 2,5 milhões de euros na moeda actual. Considerada prioritária em termos estratégicos, a área de Cinema, Audiovisual e Multimédia entendeu fazer a gestão dos recursos disponíveis adoptando uma lógica de prestação de serviço público a partir do qual se abrissem novas perspectivas, nomeadamente no que respeita à criação de uma massa crítica capaz de gerar iniciativas autónomas aos vários níveis da formação, criação, produção e distribuição. Sendo factor de desenvolvimento, mobilização e auto-estima da própria cidade e sendo a área da visibilidade por excelência, a Odisseia nas Imagens procurou optimizar os seus recursos próprios no contexto das suas múltiplas parcerias, indo buscar apoios ao exterior sempre que a situação o permitiu. Por exemplo, a maioria das accões de formação não teria sido possível sem o protocolo negociado com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, em colaboração com a Associação Empresarial de Portugal. Também o protocolo estabelecido com a Radiotelevisão Portuguesa (RTP) foi relevante não apenas em termos de promoção e divulgação, mas também na co-produção da série Estórias De Duas Cidades. A Cinemateca Portuguesa contribuiu para a programação de Cinema. Outros acordos permitiram suportar alguns custos, embora pouco significativos em função da previsão global das despesas. De qualquer modo, como se verifica através da análise das fichas dos projectos, por essa via foi possível cobrir gastos de algumas viagens e estadias. Estão neste caso, por exemplo, a comparticipação do ICAM nas despesas com a deslocação de realizadores da série Estórias de Duas Cidades a Roterdão, bem como do Instituto Francês, do Instituto Alemão e das embaixadas da Finlândia e do Canadá em projectos envolvendo actividades culturais com elas relacionadas. Em termos de gestão de orçamento o critério seguido foi de efectuar rectificações quando se verificaram desvios, sendo o défice num módulo descontado no orçamento do módulo seguinte. O desvio verificado no módulo final, insusceptível de rectificação, foi compensado com a candidatura ao Plano Operacional da Cultura do Festival do Documentário e Novos Média, a qual viria a merecer avaliação positiva. - Nota do Autor. [18] . Anexo I – p. 193. [19] . Anexo I – pp. 194-196. [20] . Anexo I – pp. 197-198. [21] . Anexo I – pp.199-216. [22] . Anexo I – p. 310. [23] . Anexo I – p. 313. [24] . Anexo I – p. 312. [25] . Anexo I – pp. 219-220. [26] . Anexo I – pp. 322-333. [27] . Anexo I – p. 220. [28] . ibid. [29] . Anexo I – pp. 246- 249. [30] . Anexo I – p. 246. [31] . Costa, José Manuel – Para além do documentário, in Catálogo O Olhar de Ulisses-Resistência, Odisseia nas Imagens/ Cinemateca Portuguesa, Lisboa, 2001, p. 328. [32] . Anexo I – pp. 230-245. [33] . Anexo I – pp. 226- 245. [34] . Anexo I – pp. 226-227. [35] . Anexo I – pp. 219, 227, 229. [36] . Anexo I – pp. 217-219. [37] . Anexo I – p. 264. [38] . O texto completo está reproduzido no Anexo I – pp. 262-263. [39] . Anexo I – p. 327. [40] . Anexo I – pp. 249-250. [41] . Anexo I – pp. 316-317. [42] . Anexo I – pp. 221-226. [43] . Anexo I – pp. 250-257. [44] . Anexo I – p. 292. [45] . Anexo I – p. 190. [46] . No Catálogo apenas não estava incluída a parte respeitante a O Olhar de Ulisses, com catálogo autónomo, cuja função se considerava cumprida. No contexto geral do novo Festival estava prevista uma secção semelhante ao ciclo apoiado pela Cinemateca Portuguesa, naturalmente redimensionado e ajustado à lógica global do evento. - Nota do Autor. [47] . ibid. [48] . Anexo I – p. 306. [49] . No Relatório levantavam-se, entre outras, as seguintes questões: “a) O trabalho foi sendo desenvolvido na base de uma aprendizagem permanente por parte dos elementos do núcleo central do Departamento; b) o quer dizer que, face às características das tarefas que se foram colocando, apesar da larga experiência de todos os elementos fundamentalmente no domínio do Cinema e da Televisão, foi necessário ultrapassar situações novas em relação às quais não havia experiência adquirida, nomeadamente na área do Multimédia; c) por outro lado, em função da dinâmica da Programação, e à medida em que as solicitações foram aumentando, o grupo de trabalho foi sendo confrontado com ritmos cada vez mais absorventes e com maiores exigências resultantes da multiplicidade das tarefas que se foram colocando; d) isto dificultou, por exemplo, o acompanhamento da concretização dos projectos externos, com reflexos nomeadamente ao nível do cumprimento de prazos e do controlo orçamental; e) e teve, também, como consequência a necessidade de recorrer a um número crescente de colaboradores contratados, f) os quais, a par dos elementos constituintes do núcleo central, acabaram por beneficiar de uma experiência a partir da qual se criaram verdadeiras equipas de produção e programação culturais habilitadas a desempenhar as tarefas mais complexas h) e cujos saberes podem ser utilizados no curto e médio prazo”. - Relatório de Avaliação Final do Departamento de Cinema Audiovisual e Multimédia da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, sem páginas numeradas. [50] . Não cabe aqui recuperar os episódios negativos respeitantes ao conflito mencionado. Fica, no entanto, a nota que a maioria deles teve relação com o processo de requalificação urbana levada a cabo durante a Capital Europeia da Cultura e relevou de um choque de competências entre as duas entidades. - Nota do Autor. [51] . Anexo I – p. 225. [52] . ibid. [53] . Anexo I – p. 256. [54] . Anexo I – p. 324. [55] . ibid. [56] . O documento, intitulado Linhas orientadoras para a Programação da Casa das Artes, está a seguir transcrito: 1. A Programação que se propõe para a Casa das Artes prossegue a experiência levada a cabo pelo Departamento de Cinema, Audiovisual e Mulitmédia da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura no âmbito da Odisseia nas Imagens. 2. Essa experiência teve como objectivo desenvolver dinâmicas de criação de novos públicos associadas a acções de produção audiovisual, nomeadamente ao nível dos estabelecimentos de ensino superior, com o intuito de repercutir, a médio prazo, em competências acrescidas em termos de uma produção local de excelência entendida num contexto descentralizador. 3. Identificadas as capacidades instaladas e os saberes existentes foram apontadas como modalidades discursivas estratégicas o cinema de Animação, as curtas metragens de ficção e o documentário. 4. Todas estas modalidades discursivas dispõem, nos festivais existentes na área metropolitana do Porto – Cinanima, Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde e Odisseia nas Imagens – de capacidade de visibilidade, sendo que esses festivais desempenham, ou pretendem vir a desempenhar, uma função estruturadora em termos de incentivo à produção nacional. 5. Na lógica de programação da Odisseia nas Imagens a Cinemateca Portuguesa deu um contributo relevante na organização de ciclos de cinema integrados nos planos curriculares dos cursos universitários da área metropolitana do Porto ligados ao Cinema, Televisão e Jornalismo, reforçando, desse modo, a dinâmica de criação de novos públicos. 6. A justeza da estratégia adoptada é confirmada pela curva crescente de presença de público nas iniciativas da Odisseia nas Imagens, a qual, ao longo da sua programação nos anos de 2000 e 2001, se aproximou de um valor global, em termos de presenças, dos 80.000 espectadores. 7. A Odisseia nas Imagens revelou ainda enorme potencial de internacionalização, estabelecendo contactos com numerosos festivais e instituições internacionais de carácter cultural, com os quais ficou em aberto a possibilidade de estabelecer parcerias. Em função do exposto, cujo desenvolvimento se encontra na memória descritiva da Odisseia nas Imagens, parece razoável propor uma programação que tire partido e dê continuidade ao trabalho realizado, nos seguintes termos: 1. Acertar Programação com a Cinemateca Portuguesa dentro do quadro conceptual desenvolvido pela Odisseia nas Imagens; 2. Estabelecer acordos com os festivais mencionados tendo em vista formas de colaboração regular traduzida em Programação; 3. Desenvolver diligências junto de outras entidades, nomeadamente o Fantasporto e os cineclubes, de modo a estudar possibilidades de cooperação com os mesmos objectivos; 4. Aprofundar os contactos com os estabelecimentos de ensino superior de modo a integrar a Programação da Casa das Artes nos respectivos programas curriculares, garantindo, assim, o impulso à criação de novos públicos; 5. Utilizar os espaços da Casa das Artes de modo articulado e coerente, com actividades multidisciplinares, de modo a criar atractivos e potenciar a diversificação dos públicos; 6. Desenvolver parcerias internacionais dando continuidade ao trabalho realizado, nomeadamente com o Museu de Arte Contemporânea de Vigo, na área Multimédia, e com os principais festivais internacionais de Documentário; 7. Acolher o Festival Odisseia nas Imagens concebido como o corolário do trabalho desenvolvido ao longo do ano, mantendo as suas características de Festival Internacional do Documentário e Novos Media, com forte participação escolar e uma internacionalização apostada no noroeste peninsular. Estão em curso diligências no sentido de constituir a Associação Odisseia nas Imagens. A Associação Os Filhos de Lumiére prossegue a sua actividade quer através da realização de workshops no Teatro do Campo Alegre, quer com programação de Cinema na Fundação de Serralves. Do exposto, daquilo que foi dito e daquilo que se pode inferir, parece lícito esperar dos poderes públicos uma atitude construtiva no sentido de dar continuidade a este projecto”. [57] . Anexo I – p. 32 [58] . Ver o texto publicado no Anexo III – p. 24, da autoria de João Mário Grilo.








  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 7 de fev. de 2021
  • 22 min de leitura

Atualizado: 20 de out. de 2023


Esta é a segunda parte do texto respeitante ao módulo de Programação da Odisseia nas Imagens designado por o Som e a Fúria. Os documentos aqui revelados dão conta de iniciativas, algumas com grande visibilidade mediática, outras que, embora consideradas importantes pelo seu caráter formativo e estruturante, não tiveram direito a espaço comparável nos meios de comunicação social. Por vezes, aliás, nem sequer mereceram espaço algum. Delas dependia, igualmente, a concretização da ideia de lançar as bases para fazer do Porto uma Cidade de Imagens. Os documentos que se seguem são uma pequena parte dos muitos anexos de O Som e a Fúria. Constam, designadamente, iniciativas da Casa da Animação apoiadas pela Odisseia nas Imagens, caso da retrospetiva de filmes dos Estúdios Aardman.



Robert Flaherty. Fonte: Senses of Cinema

O Som e a Fúria


De 17 a 25 de Setembro de 2000

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório

Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório

Centro de Produção do Porto da RTP

Escola Superior de Jornalismo do Porto

Faculdade de Engenharia do Porto

Universidade Fernando Pessoa do Porto


O texto que se segue dá conta do segundo módulo da Odisseia nas Imagens, O Som e a Fúria, tendo sido publicado no catálogo do segundo episódio do Ciclo O Olhar de Ulisses.





O Som e a Fúria



E contudo nós sabíamos:

Também o ódio contra a vilania

Desfigura as feições.

Também a cólera contra a injustiça

Enrouquece a voz.


Bertolt Brecht


A Odisseia nas Imagens prossegue com o segundo módulo de O Olhar de Ulisses denominado O Som e a Fúria. Se o primeiro módulo O Homem e a Câmara remetia para as teses vertovianas da cine-sensação do mundo no quadro de uma gramática emergente das imagens em movimento, agora, em O Som e a Fúria, a elucidação e organização do real apontam para um olhar estruturado a partir de um conjunto de sinais e de regras de articulação desses sinais relacionados quer com o olho, quer com o ouvido.


Com o advento do sonoro, a linguagem do cinema torna-se audiovisual e, portanto, plurissintáctica. O olhar, enquanto modo de revelação, resulta, pois, do acto combinatório de diferentes sistemas de significação convergindo na coerência de um propósito. As coisas, claro, podem não ter a simplicidade aparente que releva das categorias consagradas. Alguém será capaz de evitar ouvir, por exemplo, O Vento (1928), de Sjostrom?


Mas outras questões percorrem transversalmente O Som e a Fúria. A designação deste segundo módulo de O Olhar de Ulisses é retirada de um dos capítulos da obra clássica de Barnouw "Documentary", no qual se dá conta das mutações que o género vai conhecer em função não apenas do advento do som, mas também do lugar do cinema numa época em que o mundo vive a esperança e o colapso das utopias, conhece o flagelo da barbárie nazi-fascista, é confrontado com o horror do holocausto e assiste, suspenso à beira do nada, à explosão do grande cogumelo nuclear em Hiroshima que abre as portas ao equilíbrio do terror da Guerra Fria. São anos durante os quais o percurso da humanidade ora se revê numa dimensão redentora, ora se enreda na noite do labirinto onde assoma a besta negra que é a outra face do seu rosto precário.


Se O Olhar de Ulisses privilegia o documentário, este é o momento em que Grierson introduz a narração em texto off e advoga para o documentarismo uma função tanto de denúncia quanto de capacidade de intervir com o objectivo de contribuir para a resolução dos problemas da sociedade, Lorentz dá voz à cidadania recolhendo o testemunho das pessoas no seu dia a dia, Malraux e Ivens – este com John dos Passos e Hemingway – associam a literatura e o jornalismo à descrição do drama da Guerra Civil de Espanha, Riefenstahl põe o seu invulgar talento ao serviço da propaganda do III Reich construindo uma obra que opera a metamorfose do maligno em objecto de fascínio e Capra manipula as imagens de propaganda do Eixo fazendo-as reverter a favor da causa Aliada.


O Som e a Fúria reverte assim, em última instância, para o trabalho que obriga o criador, qualquer que ele seja, pintor ou pastor, camponês ou pescador, resistente ou cineasta a usurpar o lugar dos deuses para conferir harmonia ao caos. Tal como o rio que procura o seu destino, alargando as margens, rebelde e inconstante por natureza.

Ai, nós/ Que queríamos amanhar o terreno para a amabilidade/ Não podíamos nós mesmos ser amáveis – dizia Brecht às gerações futuras. Mas vós, – acrescentava – quando chegar a hora/ Em que o homem possa ajudar o homem/ Pensai em nós/ Com indulgência.


Este rio não tem fim.


Jorge Campos

Dario Oliveira


O Olhar de Ulisses II - O Som e a fúria


Universidade Fernando Pessoa do Porto

Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório

Em colaboração com a Cinemateca Portuguesa

Com o apoio da Embaixada de França e do Intituto Francês do Porto


Continuação do 1º segmento de O Olhar de Ulisses - O Homem e a Câmara, prosseguindo a História do Documentário cruzada com outras abordagens de Cinema de Autor.


Joris Ivens. Fonte: DAFilms

Filmes apresentados por ordem alfabética:


Airman’s Letter to his Mother, An, de Michael Powell

Alemanha Ano Zero: ver Deutshand im Jahre Null

Aniki Bóbó, de Manoel de Oliveira

Anjos da Avenida, Os: ver Malu Tanshi

Blitz Wolf, de Tex Avery

Bnakitchner, de Artavazd Pelechian

Carabiniers, Les, de Jean-Luc Godard

Coal Face, de Alberto Cavalcanti

Colour Box, de Len Lye

Corner in the Wheat, A, de David W. Griffith

Deutshand im Jahre Null, de Roberto Rosselini

Dix-Septième Parallèle, Le, de Joris Ivens e Marceline Loridan

Edge of the World, The, de Micael Powell

Espoir, L’, de André Malraux

Estações, As: ver Yeghanaknere

Fires Were Started, de Humphrey Jennings

Finis Terrae, de Jean Epstein

Four Hundred Millions, The, de Joris Ivens

Grapes of Wrath, The, de John Ford



Great Dictador, The, de Charles Chaplin

Hiroshima, Mon Amour, de Alain Resnais

Hiroshima/Nagasaki: August 1945 de Akira Iwasaki e Eric Barnouw

Histoire du Soldat Inconnu, de Henri Storck

Início, O: ver Natchalo

Keep Your Mouth Shut, de Norman McLaren

Land, The, de Robert J.Flaherty

Limiar do Mundo, O: ver Edge of the World, The

Listen to Britain, de Humphrey Jennings

London Can Take it, de Humphrey Jennings e Harry Wyatt

Madrugada de 6 de Junho: ver 6 Juin a l’Aube, Le

Malu Tanshi, de Yuan Mushi

Man of Aran, de Robert J.Flaherty

Mor Vran, de Jean Epstein

Mr Smith goes to Washington, de Frank Capra

N or NW, de Len Lye

Natchalo, de Artavazd Pelechian


Artavazd Pelechian. Fonte: Multiplot

Night Mail, de Harry Wyatt e Basil Wright

Noite e Nevoeiro: ver Nuit et Brouillard

Nuit et Brouillard, de Alain Resnais

Or des Mers, L’, de Jean Epstein

Paralelo 17: ver Dix-Septième Parallèle, Le

Peço a palvra ver Mr Smith goes to Washington

Pintor e a Cidade, O, de Manoel de Oliveira

Porque Lutamos: ver Why We Fight

400 Milhões: ver Four Hundred Millions, The

Raibow Dance, de Len Lye

River, The de Pare Lorentz

Ser ou Não Ser: ver To Be or Not to Be

6 Juin a l’Aube, Le, de Jean Grémillon

Sortie(s) des Usines Lumière à Lyon, Irmãos Lumière

Spanish Earth, The, de Joris Ivens

Spare Time, de Humphrey Jennings

Tempestaire, Le, de Jean Epstein

Terra, A, ver Zemlya

Terra de Espanha: ver Spanish Earth

To Be or Not to Be, de Ernst Lubitsch

Trade Tatoo, de Len Lye

Trás-os-Montes, de António Reis e Margarida Vordeiro

Triumph des Willens, Der, de Leni Riefentalh

Triunfo da Vontade, O: ver Triumph des Willens, Der

Trop Tôt, Trop Tard, de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet

V for Victory, , de Len Lye

Vento, O: ver Wind, The

Why we fight:The Nazi Strike, de Frank Capra

Why we fight: The Battle of Russia, de Frank Capra

Vinhas da Ira, As: ver Grapes of Wrath,

Wind, The de Victor Söjstrom

Yeghanaknere, de Artavazd Pelechian

Zemlya, de Alexander Dovjenko



Zemlya (1930) de Alexander Dovzhenko . Fonte: Old Rope

Participantes por ordem alfabética:


Alberto Seixas Santos

Antoine De Baecque

António Rodrigues

Aonghus Lavelle

Danielle Hibon

Dominique Paini

Fergus Cahill

Fernando Lopes

Galahad Goulet

Gerald Collas

Ginete Lavigne

João Bénard da Costa

José Manuel Costa

Marceline Loridan-Ivens

Marina Graça

Mary Rose Cahill

Miguel Castro Henriques

Pedro Costa

Regina Guimarães

Saguenail

Susana Neves


Concerto Fergus Cahill / Aonghus Lavelle


(Recital de canto e música irlandesa após o filme "O Homem de Aran" de Robert Flaherty, integrado no Ciclo de Cinema O Olhar de Ulisses II – O Som e a Fúria)

18 de Setembro de 2000

Rivoli Teatro Municipal - Pequeno Auditório


Man of Aran (1934) de Robert Flaherty

Fergus Cahill compila e interpreta canções populares Irlandesas há quase quarenta anos. Actua frequentemente na Telefis Eireann (a televisão pública Irlandesa) e apresenta um programa de música tradicional na rádio. Natural de County Wexford, região do sudeste do país, vive actualmente em Connemara na maior parte do tempo.


Aonghus Lavelle tem 18 anos e é um virtuoso da música tradicional em vários instrumentos, nomeadamente o fiddle (instrumento de cordas com algumas semelhanças com o violino), a flauta, o feadog stain (ou tin whistle, um instrumento de sopro), o bandolim e a guitarra. Neste concerto, concentra-se no fiddle, flauta e tin whistle, já que são estes os mais tradicionais e com maior ligação ao período do filme The Man of Aran.


As Ilhas de Aran são uma comunidade de menos de 1000 pessoas, que viviam em condições de dureza e de pobreza extremas. Existiam fortes relações marítimas com Connemara e Clare, sendo a tradição musical mais regional que específica de Aran. Por outro lado, existe uma tradição oral bastante rica e de natureza bastante simples, que consiste, sobretudo em prolongadas canções sem acompanhamento musical, no que é chamado o “sena nos” (“a maneira antiga”). A música consiste essencialmente em melodias lentas ou música de dança interpretada no fiddle, tin whistle, flauta ou acordeão. Apesar de hoje em dia se interpretarem estas canções em grupos com vários instrumentos, na sua origem eram tocadas a solo.


Metropolis, de Fritz Lang com música ao vivo de MuteLifeDept.


Filme Concerto

25 de Setembro de 2000

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório



Homem vs. Máquina


Nos dias de hoje, musicar e (ou) sonorizar um filme tornou-se num elemento tão importante e crucial, que já não nos podemos imaginar sem esses ‘condimentos’: são as salas de cinema equipadas com sistemas sonoros específicos para nos criarem a sensação de que estamos em pleno território onde decorre a acção dos filmes; a própria oferta do mesmo tipo de produto é já disponível para usufruto caseiro. O cinema entrou numa nova era em que ao espectador passou a ser sugerida a sua integração (passiva) no filme - desde a produção de Hollywood até ao cinema europeu, passando por alguma da produção independente, a relação da banda sonora (som) com o filme (imagem) é um dos mais sólidos suportes para o actual estado da 7ª arte.


Serve isto de introdução para relembrar as condições adversas em que Fritz Lang realizou Metropolis. Numa altura em que os filmes mudos eram musicados ao vivo, era na imaginação do próprio realizador que prevalecia a antecipação das sensações a serem despertadas nos espectadores. Lang era um visionário, o que só por si lhe deveria atribuir o dom especial de conceber uma teia de emoções com um recurso mínimo à sonoplastia (ex: O Testamento do Dr. Mabuse quase não recorre a banda sonora, baseando-se mais em sons reais e diálogos), deixando que a sua realização e a ausência sonora criassem um misto de surrealismo e medo.


Metropolis contou com uma banda-sonora original de Gottfried Huppertz - a qual não sei até que ponto terá sido cortada, pois este filme tinha originalmente 210 minutos na noite de estreia (10 de Janeiro de 1927) - mas é de certeza superior à versão ‘restaurada’ de Giorgio Moroder, que a deve ter concebido com um espírito (in)digno de ‘ópera-rock’. Não estou com isto a querer dizer que me coloco ao lado das habituais opiniões de alguns puristas do cinema mudo - (seria uma enorme contradição da minha parte) - mas existem limites ao bom gosto…


Ao ser convidado para musicar e sonorizar Metropolis para o ano 2000 tive a perfeita noção de que a responsabilidade era muito grande, não só por ser inserida numa programação que tem patenteado clássicos do cinema com a leitura actual de nomes importantes, mas principalmente porque o universo cinematográfico de Fritz Lang é singular. Decidi então repartir o trabalho com os meus “parceiros musicais” Pedro Tudela e Pedro Almeida, por achar que este seria o momento e o evento ideal para os MuteLifeDept ressurgirem, inseridos naquilo com que sempre se identificaram: as bandas-sonoras.


Como Metropolis é um filme sobre a vivência do Homem com a Máquina, decidiu-se à partida que as sonoridades a utilizar não teriam necessariamente de passar pelos ruídos das mesmas, mas sim criando ambientes que não só sejam adequados aos momentos, mas também ao espírito visionário que Lang incute no filme. Uma das coisas que sempre distingiu as produções de Fritz Lang foi a forma como transpunha o seu imaginário para a película, bem como a direcção de actores. Como o recurso ao som só mais tarde surgiria, o desempenho e as expressões dos actores eram fulcrais; teriam de sugerir a expressividade das palavras inexistentes.


Mute Life Dept

Metropolis pode ser visto paralelamente como uma crítica ao que viria mais tarde a ser conhecido por Nazismo (note-se que o argumento foi escrito pela mulher de Lang, Thea von Harbou, que mais tarde viria a fazer parte dos quadros do III Reich) - o que só por si vem reforçar o espírito visionário de Lang - numa altura em que o Fascismo e o Totalitarismo na Itália eram realidade, Metropolis abordava temáticas como as da criação de uma “Raça Suprema” (o Autómato) e a inteira subsistência de uma cidade nas máquinas que operavam do seu sub-solo, vindo a interacção de ambas a tornar-se na principal razão para a catástrofe de Metropolis - tudo isto numa altura em que a 1ª Guerra Mundial tinha feito cair por terra ideais demonstrados em exposições como a de Paris (1889) na qual se pretendeu demonstrar a forte crença para o auxílio e benefício que a ajuda da(s) Máquina(s) traria(m) para o Humanidade.


Em breves linhas, a música e sonoplastia que irão envolver Metropolis para o ano 2000 estão directamente ligadas com os motes principais do filme: O Homem e a Máquina - sendo que para o Homem estará a leitura da música clássico-contemporânea e para a Máquina algum do actual (e futuro) estado da música (dita) electrónica.


Alex Fernandes


Participantes:

Alex Fernandes

Pedro Tudela

Pedro Almeida



Workshop Documentário de Televisão 1


De 18 a 22 de Setembro de 2000

Radiotelevisão Portuguesa – Estúdios do Monte da Virgem, Vila Nova de Gaia

Iniciativa no âmbito do protocolo assinado com a RTP


Conteúdo programático:


Tecnologia e linguagem da televisão.

Narrativa visual.

Como encontrar uma história.

Como contar uma história.

Como produzir uma história.

Filmagem e montagem.


Formador:

Paul Kriwaczek


Paul Kriwaczek. Fonte: The Guardian

Workshop Documentário de Televisão 2


De 6 a 10 de Novembro de 2000

Escola Superior de Jornalismo do Porto

Iniciativa no âmbito do protocolo assinado com a ESJP – Escola Superior de Jornalismo do Porto


Conteúdo programático:


Tecnologia e linguagem da televisão.

Narrativa visual.

Como encontrar uma história.

Como contar uma história.

Como produzir.

Filmagem e montagem.


Formadores:


Hugh Purcell

Paul Kriwaczeck



Workshop Iniciação à Reportagem em Televisão


De 6 a 17 de Novembro de 2000

Universidade Fernando Pessoa do Porto

Iniciativa no âmbito do protocolo assinado com a UFP – Universidade Fernando Pessoa


Conteúdo Programático:


Conhecimento de Betacam (noções básicas sobre o seu funcionamento);

Técnicas de filmagem;

Linguagem das imagens e sons;

Iluminação;

Noções de filmagem e gravação do som na entrevista;

Preparação e construção da reportagem;

Trabalho colectivo na reportagem;

Montagem;

Misturas;

Comentário sobre as imagens;

Atelier de escrita;

A Entrevista.


Formador:


Stéphane Manier



Colóquio Tendências do Audiovisual Europeu

Políticas Sectoriais e Nichos de Mercado


Dia 6 e 7 de Dezembro de 2000

Faculdade de Engenharia do Porto

Organizado pela Fundação da Ciência e Desenvolvimento em colaboração com a Reitoria da Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia do Porto e Odisseia nas Imagens.




Texto de divulgação da iniciativa:



Tendências do Audiovisual Europeu


A Universidade do Porto inaugura no ano lectivo de 2000/2001 um novo curso de Jornalismo e Comunicação Social.


Na viragem do milénio, quando a cidade do Porto se prepara para ser Capital Europeia da Cultura, a aposta académica nestas áreas era tanto mais inadiável quanto é certo serem elas factores decisivos do desenvolvimento, num contexto em que o global requer o local e a comunicação-mundo impõe critérios cada vez mais exigentes ao nível da investigação e do discurso produzido pelos media.

Consciente da importância da criação do novo curso e da sua lógica de serviço público, a Fundação Ciência e Desenvolvimento, com o apoio da Câmara Municipal do Porto, da Reitoria da Universidade e da Odisseia nas Imagens – Sociedade Porto 2001, promove o Colóquio Tendências do Audiovisual Europeu – Políticas Sectoriais e Nichos de Mercado, através do qual se pretende lançar um debate, que será recorrente durante o ano de 2001 no âmbito da Programação Audiovisual da Capital Europeia da Cultura, com o objectivo de mobilizar jornalistas, criadores e outros agentes culturais para o apoio a produções audiovisuais de qualidade capazes de projectar positivamente a visibilidade da cidade e da região.


O Colóquio é articulado em três painéis:


-Ensino, Produção de Conteúdos e Nichos de Mercado;

-Os Festivais enquanto elementos de promoção do Audiovisual Europeu – impacto local e regional e formação de novos públicos;

-Jornalismo, Ensino e Vocações.


O primeiro painel pretende relevar a importância da produção de conteúdos, bem como o papel do serviço público de Televisão, no quadro das directivas e tendências do Audiovisual Europeu; o segundo perspectiva o papel dos Festivais na promoção das produções europeias quer no plano do trabalho de criação, quer no plano da actividade jornalística; o terceiro, delimita a esfera do jornalismo e procura identificar as motivações dos jovens que os levam a optar por esta área profissional, bem como a responsabilidade social daí decorrente.


Jorge Campos


Margarita Ledo Andión. Fonte: La Voz de Galicia

Participantes por ordem alfabética:


Abi Feijó (Casa da Animação)

Alain Lebouc (Festival du Scoop et du Journalisme de Angers)

Alberto Arons de Carvalho (Secretário de Estado da Comunicação Social)

António Augusto de Sousa (Faculdade de Engenharia do Porto)

António Fragoso (Mostra Atlântica de Televisão – MAT)

António Gaio (Cinanima)

António Modesto (Faculdade de Belas Artes do Porto)

António Pedro Vasconcelos (Cineasta, especialista em assuntos do audiovisual europeu)

Carlos Carballo (TV Galiza)

Carlos Daniel (SIC)

Elíseo de Oliveira (Foco-RTP)

Eugénio dos Santos (Faculdade de Letras do Porto)

François Ballais (Coordenador dos Festivais Europeus de Cinema)

Georges Bollon (Festival Internacional de Curtas Metragens de Clermont Ferrand)

Giles Oakley (BBC)

Helder Bastos (Curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto)

Jorge Campos (Odisseia nas Imagens – Sociedade Porto 2001)

José Azevedo (Faculdade de Letras do Porto)

José Rebelo (ISCTE)

Luís Miguel Duarte (Faculdade de Letras do Porto)

Manuela de Melo (Sociedade Porto 2001)

Margarida Ledo Andíon (Universidade de Santiago de Compostela)

Mário Dorminsky (Fantasporto)

Marques dos Santos (Vice Reitor da Universidade do Porto)

Novais Barbosa (Reitor da Universidade do Porto)

Nuno Cardoso (Presidente da Câmara Municipal do Porto)

Nuno Rodrigues (Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde)

Paquete de Oliveira (ISCTE)

Pilar Gonzalez (Universidade de Santiago de Compostela)

Pimenta Alves (INESC – Porto)

Pina Cabral (Escola Superior de Belas Artes do Porto)

Raquel Matos-Cruz (Jornalista)

Rui Centeno (Faculdade de Letras do Porto)

Simon Evans (Sheffield Documentary Film Festival)

Victor Martins (Escola Superior de belas Artes do Porto)

Xosé Lopez (Universidade de Santiago de Compostela)



António Pedro de Vasconcelos. Fonte: Semanário Sol

Estórias de Duas Cidades


(Encomendas da Odisseia nas Imagens)

25 a 28 de Janeiro de 2001

Festival Internacional de Cinema de Roterdão

Em Co-Produção com a RTP


1ª apresentação pública – Estreias Mundiais


As Curtas Metragens de Ficção representam uma parte significativa dos conteúdos simbólicos produzidos pelo audiovisual europeu, podendo contribuir para a formação de novos públicos e para o estabelecimento, a médio prazo, de uma produção regular a nível local e regional de acordo com as opções estratégicas feitas pelo Departamento de Cinema, Audiovisual e Multimédia da Sociedade Porto 2001. O jovem cinema português tem, aliás, alcançado notoriedade internacional neste domínio.


A série de curtas metragens “Estórias de Duas Cidades” é a primeira parte visível de um conjunto de onze produções cinematográficas que o Porto 2001 encomendou ou apoiou, em que a cidade do Porto é o ponto de partida para uma realidade imaginada, não só como espaço físico, mas também como um espaço de experiências e vivências pessoais.

São quatro curtas metragens de autores portugueses, associadas a duas de autores holandeses, que ilustram uma vontade presente desde o início do projecto de proporcionar olhares cruzados sobre as duas cidades Capitais Europeias da Cultura Porto – Roterdão 2001.


As “curtas” portuguesas,

Acordar, de Tiago Guedes e Frederico Serra

As Sereias, de Paulo Rocha

Canção Distante, de Pedro Serrazina

Corpo e Meio, de Sandro Aguilar,

foram, também, entendidas como uma forma de promoção da Capital Europeia da Cultura em função da sua presença em festivais de cinema.


Eis o seu percurso até Janeiro de 2002:


Exibições das 4 curtas metragens "Estórias de Duas Cidades":

Festival de Roterdão - 25 e 28 de Janeiro 2001

Fantasporto - 23 de Fevereiro 2001

Festival de Sta Maria da Feira - 12 Abril 2001


Exibições individuais:


"Acordar"


Acordar (2001) de Tiago Guedes e Frederico Serra

Toronto Worldwide Short Film Festival (Canada) 6 a10/06/01

Message to Man Film Festival (Rússia) 15 a 22/06/01

Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde 3 a 8/07/01 (Prémio melhor jovem realizador)

Imago 2001 - Covilhã - 25 a 30/09/01

Rencontres Européenes du Court Metrage - Metz (França) 13 a 20/10/01

Uppsala Int. Short Film Festival (Suécia) 22 a 28/10/01

Festival du Film Court Villuerbanne (França) 10 a 26/11/01

Festival Internacional de Cine Independente de Ourense (Espanha) 3 a 9/11/01

Mostra 3 - Caldas da Rainha 7 e 8/12/01

ICA, The Mall, Londres (Reino Unido) 7 a 13/12/01

Clapham Picturehouse, Londres (Reino Unido) 20/01/02

Watershed, Bristol (Reino Unido) 7 a 27/01/02

Showroom Cinema, Sheffield (Reino Unido) 29/01/02

Panorama Português - Festival de Clermont – Ferrand (França) 1 a 9/02/02

Arts Picturehouse, Cambridge (Reino Unido) 24/02/02


"Corpo e Meio"



Corpo e Meio (2001) de Sandro Aguilar

Fantasporto - 2001 (Prémio Melhor Curta Metragem Portuguesa)

Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde 3 a 8/07/01 (Prémio para melhor curta metragem Portuguesa; Prémio European Film Academy / UIP para melhor filme Europeu)

Split Festival of New Film (Croácia) 22 a 29/09/01

Murphy's 46th Cork Film Festival 7 a 14/10/01

Festival International Nouveau Cinema Nouveaux Médias, Montreal, (Canada) 11 a 21/10/01

Festival International du Film d'Amiens (França) 9 a 18 /11/01

Festival de Gijón (Espanha) 23 a 30/11/01

Flanders International. Film Festival – Ghent (Bélgica) 9 a 20/10/01

European Film Awards – Berlim (Alemanha) 30 /11 a 1/12/01

Mostra 3 - Caldas da Rainha 7 e 8/12/01

ICA, The Mall, Londres (Reino Unido) 7 a 13/12/01

Clapham Picturehouse, Londres (Reino Unido) 20/01/02

Watershed, Bristol (Reino Unido) 27/01/02

Showroom Cinema, Sheffield (Reino Unido) 29/01/02

Arts Picturehouse, Cambridge (Reino Unido) 24/02/01


"As Sereias"


As Sereias (2001) de Paulo Rocha

New Portuguese Culture Festival 2001 - São Francisco (EUA) 25/08 a 04/11/01

Imago 2001 25 a 30 /09/01

Festival Ibero Americano de Montreal (Canadá) 13 a 18/11/01


Retrospectiva dos Estúdios Aardman


Casa da Animação

De 7 Janeiro a 18 de Fevereiro de 2001

Rivoli Teatro Municipal e Casa Tait


Esta retrospectiva deu a conhecer os filmes da Aardman em 5 programas distintos, curtas e longas metragens, bem como os meus métodos de trabalho através de uma exposição sobre animação em plasticina e de um workshop de animação em volumes. Realizaram-se diversas sessões Infantis destinadas às escolas do ensino básico e secundário.


Exposição dos Estúdios Aardman


De 7 a 26 de Janeiro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Foyer


Exibição de filmes

De 22 a 26 de Janeiro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório


Filmes Apresentados:


1. Os Primeiros Anos


The Amazing Adventures of Morph, de Peter Lord e David Sproxton (1980)

Sales Pitch, de Peter Lord e David Sproxton (1981)

Babylon, de Peter Lord e David Sproxton (1986)

Next, de Barry Purves (1989)

Ident, de Richard Goleszowski (1989)

Going Equipped, de Peter Lord e David Sproxton (1989)

War Story, de Peter Lord (1989)

Adam, de Peter Lord (1991)

Loves me ... Loves me not, de Jeff Newitt (1992)

Creature Comforts, de Nick Park (1989)


2. Filmes Recentes

Pib and Pog, de Peter Peake (1994)

Wat's Pig, de Peter Lord (1996)

Pop, de Sam Fell (1996)

Not without my handbag, de Boris Kossmehl (1993)

Owzat, de Mark Brierley (1997)

Stage Fright, de Steve Box (1997)

Al Dente, de Mark Brierley (1998)

Minotaur & Little Nerkin, de Nick Mackie (1999)

Colecção de Curtas Metragens, vários (2000)

Humdrum, de Peter Peake (1998)


3. Wallace & Gromit


Estúdios Aardman. Wallace & Gromit

A Grand Day Out, de Nick Park (1989)

Glico 98, de L. Price e Da Riddett (1998)

The Wrong Trousers, de Nick Park (1993)

Glico Target, de Steve Box (1999)

A Close Shave, de Nick Park (1995)

Glico Space, de Steve Box (2000)


4. Longa Metragem


Chicken Run (A Fuga das Galinhas), de Peter Lord e Nick Park (2000)


5. Séries para Televisão e Internet


Rex the Runt - Easter Island, de Richard Goleszowski (1998)

Angry Kid - Captain Thunderpants, de Darren Walsh (1999)

Morph Files – Babysitting, de David Sproxton (1995)

Rex the Runt - Under the Duvet, de Richard Goleszowski (1998)

Angry Kid – Headlights, de Darren Walsh (1999)

Compilação de Filmes Publicitários - vários

Angry Kid – Swearing, de Darren Walsh (1999)

Morph Disco, de Steve Box (1999)

Rex the Runt - Stinky Basil, de Richard Goleszowski (1998)

Morph Files - The Birthday Party, de David Sproxton (1995)

Angry Kid - Sex Education, de Darren Walsh (1999)

Rex the Runt – Carbonara, de Richard Goleszowski (1998)

Morph Magic Door, de Pascual Perez (2000)

Angry Kid – Bone, de Darren Walsh (1999)


Participantes:

Kieran Argo

Chris Entwistle

Seamus Malone


Workshop de Animação em Volumes


De 14 a 18 de Fevereiro de 2001

Casa Tait


Este workshop de carácter prático e com a duração de 40 horas foi coordenado por Chris Entwistle e Seamus Malone (modelmaker e animador principal da longa metragem “A Fuga das Galinhas”).

Workshop O Primeiro Olhar


De 8 Janeiro a 5 Outubro 2001

Associação Os Filhos de Lumiére

6 acções de formação distribuídas ao longo do ano, dirigidas a jovens de 3 escalões etários: 9/12 anos; 13/15 anos e 16/18 anos


Seis cursos de quinze dias, destinados a um público-alvo em idade escolar, no âmbito dos quais os grupos (de dez elementos) realizaram curtas-metragens individuais e colectivas, após um módulo de iniciação à linguagem cinematográfica, numa perspectiva histórica e estética; o objectivo destas acções consistiu numa sensibilização dos olhares mais jovens para as grandes questões de forma e de sentido que a prática de cinema levanta.


Participantes:


Alexandra Afonso

Catarina Alves Costa

Francisco Veloso

Inês Raquel Carvalho

João Pinto Nogueira

Luís Botelho

Manuel Mozos

Nina Ramos

Olga Ramos

Olivier Blanc

Paulo Américo

Paulo Ares

Pedro Costa

Pedro Duarte

Pedro Marques

Regina Guimarães

Rui Coelho

Saguenail

Sandro Aguilar


Manuel Mozos. Fonte: Associação Luzlinar

Workshop Filmar


De 29 Janeiro a 18 Maio de 2001

Associação Os Filhos de Lumiére

3 acções de formação distribuídas ao longo do ano


Foram três cursos de quinze dias destinados a um público alvo de jovens vocacionados para uma profissionalização na área do audiovisual, no decorrer dos quais foi promovida uma formação elementar no campo da gramática cinematográfica e fornecida alguma ferramenta crítica de modo a questionar positivamente preconceitos que existem sobre o cinema. Os cursos valorizaram a vertente experimental da aprendizagem através da realização individual e colectiva de filmes de curta duração.


Participantes:


Alexandra Afonso

Francisco Veloso

Inês Raquel Carvalho

João Pinto Nogueira

Luís Botelho

Manuel Mozos

Nina Ramos

Paulo Ares

Pedro Marques

Sandro Aguilar


Museu da Pessoa


Iniciativa no âmbito dos protocolos assinados com a Universidade do Minho, Museu da Pessoa de São Paulo e Universidade Popular do Porto


Projecto multimédia, o Museu da Pessoa é, fundamentalmente, um museu virtual que conta, na Internet, a história da cidade e dos lugares através dos testemunhos de anónimos. Tem, no entanto, outras dimensões, explorando com o mesmo objectivo suportes tradicionais, como o Livro e a Televisão. Resultante de uma parceria da Sociedade Porto 2001 com a Universidade do Minho e com o Museu da Pessoa de São Paulo, o Museu da Pessoa está disponível em HYPERLINK "http://museudapessoa.portugal.net/" http://museudapessoa.portugal.net. Formadores brasileiros e especialistas portugueses orientaram workshops com vista a preparar as equipas que trabalharam no terreno. Articulada com esta iniciativa foi dado seguimento ao projecto Memórias do Trabalho da responsabilidade da Universidade Popular do Porto.


Workshops Museu da Pessoa


de 17 a 21 de Janeiro

de 7 a 17 de Fevereiro

de 21 a 23 de Março de 2001

Universidade do Minho


Este programa visou preparar os formandos, de forma prática e conceptual, para a recolha de depoimentos de histórias de vida. O método envolve vivências e a transmissão de noções de memória oral. Durante a oficina os formandos realizaram as seguintes tarefas:


Planeamento e realização de depoimentos orais em suporte vídeo de habitantes da cidade do Porto;

Transcrição, processamento, edição e inserção em base de dados dos referidos depoimentos.


Participantes:

Karen Worcman

José Santos Matos

Luiz Egypto de Cerqueira

Rosali Nunes Henriques



Karen Worcman. Fonte: Globo


Apresentação Pública do Museu da Pessoa


22 de Novembro de 2001

Estação de São Bento


Fantasporto


De 17 Fevereiro a 6 Março de 2001

Rivoli Teatro Municipal

Iniciativa no âmbito do protocolo assinado com o Fantasporto


Na sua 21ª Edição o Fantasporto apresentou uma selecção com opções estéticas e temáticas muito diversificadas consagrando uma programação de Filmes do Mundo. Assinala-se a ante estreia nacional dos filmes da série Estórias de Duas Cidades, bem como a ante estreia mundial do projecto da Fantasy Film Factory "Arachnid", de Jack Sholder e de "Faust", de Yuzna. "Shadow of a Vampire", de Elias Merhige e produzido por John Malkovich teve aqui a sua ante estreia nacional. Puderam ainda ser vistos alguns dos filmes ganhadores em Cannes, como "Amores Perros", de Alejandro Gonzalez Iñarritu e uma invulgar mostra de cinema neo-zelandês, na qual avultaramm "The Irrefutable Truth About Demons", de Glenn Standring e "The Price of Milk", de Harry Sinclair.



Texto publicado no catálogo do Fantasporto:



Fantasporto e Odisseia nas Imagens

Episódios de uma História com Pontes para o Futuro


Setembro de 1896


Na Rua de Santa Catarina, no Porto, um homem afadiga-se em torno de uma caixa de madeira envernizada apoiada num tripé em tudo idêntico ao utilizado pelos fotógrafos profissionais. Diante dele está a porta principal da Fábrica Confiança. À hora do almoço, operários – homens e mulheres – começam a sair. O homem imprime um movimento de rotação cadenciado, tão uniforme quanto possível, a uma manivela destacada do corpo da caixa.


Os transeuntes não o sabiam, mas estavam a assistir ao nascimento do Cinema Português.


Poderá não ter sido exactamente assim. Sustentam alguns que o filme foi manivelado por Magalhães Bastos, um familiar de Paz dos Reis. Mas os detalhes pouco importam. O que fica é o registo do momento a partir do qual o Porto iniciou o seu percurso de cidade de imagens em movimento. Feito de múltiplos episódios, esse percurso, por vezes atribulado, tem contribuído para sedimentar na memória colectiva o património de um passado comum fortemente identitário.


Desse património fazem igualmente parte a Invicta Filmes, a primeira experiência em Portugal de produção cinematográfica ao nível do que então se fazia de mais avançado em termos europeus, as experiência da Caldevilla Film ou da Fortuna Film, a publicação de algumas importantes revistas de cinema, a realização por Manoel de Oliveira de Douro, Faina Fluvial, marco do documentarismo português, e de Aniki-Bóbó, um clássico intemporal, os projectos de Neves Real e as suas salas de distribuição, como o Batalha, a militância cinéfila que se fez resistência política em torno do Cine-Clube do Porto e de figuras como Henrique Alves Costa.


Posto fim à ditadura, se a exibição cinematográfica pôde libertar-se das malhas da censura, a verdade é que, em parte devido à televisão e à mudança de hábitos que ela acarretou, em breve o público começou a desertar das salas. Numa altura em que se acentuavam sinais de depressão, dois episódios vieram marcar nova inflexão na História do Cinema do Porto e da sua área metropolitana. Um foi a criação do Cinanima, em Espinho, a partir do qual viriam a lançar-se as bases daquela que é hoje a mais importante produção cinematográfica do norte do País, o cinema de animação, ancorada em torno de produtoras como a Filmógrafo e a Alfândega Filmes. Outro foi o Fantasporto.


Mário Dorminsky. Fonte: RTP

O Fantasporto tem um rosto: Mário Dorminsky. Pela sua mão e pela de Beatriz Pacheco Pereira, com o apoio de companheiros de sempre, como António Reis, o Fantasporto apresentou na sua primeira edição, em 1981, uma notável retrospectiva de clássicos de algum modo aparentados com o que então timidamente se designava por cinema fantástico. Alguns títulos: O Vento, de Sjostrom; O Testamento de Orfeu e A Bela e o Monstro, de Cocteau; A Atlântida, de Jacques Feyder; O Gabinete do dr. Caligari, de Robert Wiene; Metropolis, A Mulher na Lua e Dr. Mabuse de Fritz Lang; Nosferatu, de Murnau; O Feiticeiro de Oz, de Victor Flemming. Da selecção faziam ainda parte cineastas como Hitchcock, Vadim, Malle, Fellini, Tarkovsky, Bergman e Polanski, aos quais se juntavam Werner Herzog, De Palma, Peter Weir, Kaufman e Nicholas Roeg, bem como alguns dos filmes de culto da Hammer Films, entre os quais Dracula.


Por qualquer razão, apesar do fantástico aparecer claramente associado à imaginação e ao maravilhoso, numa linha que remonta a Méliès, e num contexto que nenhum cinéfilo desprezaria, a verdade é que o Fantasporto logo apareceu associado nas páginas dos jornais à ideia de sangue, vampirismo, terror e outras enormidades. Na verdade, o que havia era uma programação a pensar na captação de públicos, ora articulando a exibição de filmes recentes aguardados com expectativa com obras de referência da História do Cinema, ora dando a conhecer cinematografias menos conhecidas ou propondo uma releitura de filmes relativamente marginais, sem deixar de convocar os cineastas portugueses. Nessa edição o Fantasporto contou, entre outros, com filmes de António de Macedo, João César Monteiro, Sinde Filipe e Noémia Delgado. Pode concordar-se ou não com a estratégia prosseguida. Mas é tão indiscutível que o Fantasporto ousou novos caminhos, quanto é certo que contribuiu para o regresso do público às salas, sobretudo através da captação de muitos jovens obviamente cúmplices da aventura empreendida.


Fevereiro de 2001


Passados vinte e um anos sobre a data do nascimento do Fantasporto, agora uma instituição cultural prestigiada e consolidada, a conjuntura favorável da Capital Europeia da Cultura permitiu lançar um novo projecto denominado Odisseia nas Imagens, com o objectivo de potenciar sinergias existentes e de estabelecer uma rede de relações que repercuta positivamente no campo dos media em termos de Investigação, Produção, Distribuição e excelência de discurso. Apesar de um número significativo de iniciativas ter tido início durante o ano de 2000, de modo a consolidar parcerias, dar seguimento a encomendas, integrar projectos externos e criar novos públicos que hão-de permitir a existência de circuitos alternativos para modalidades discursivas à margem da distribuição comercial, não quis – nem podia ser de outro modo – o departamento de Cinema, Audiovisual e Multimédia da Sociedade Porto 2001 deixar de se associar de um modo muito particular ao Fantasporto. Desde logo, valorizando a sua Programação Oficial com a integração do Fantasporto. Depois, fazendo no Fantasporto a estreia nacional da série Tales of Two Cities, seis filmes que correspondem a outros tantos olhares cruzados sobre as cidades do Porto e Roterdão. Finalmente, associando o Fantasporto ao aparecimento daquele que será o novo festival de documentarismo e novos media, designado Odisseia nas Imagens, o qual culmina o trabalho desenvolvido ao longo de dois anos no âmbito do projecto com o mesmo nome.


A partir de 2001, o Porto e a sua área metropolitana assumem-se, assim, como uma plataforma fortemente internacionalizada para todas as modalidades discursivas audiovisuais e multimédia: O Cinanima para o cinema de animação, o Fantasporto para as longas metragens, o Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde para as curtas e a Odisseia nas Imagens para o documentarismo e os novos media.


Será essa uma forma de lançar pontes para o futuro, conferindo maior visibilidade e protagonismo à nossa Cidade das Imagens.


Jorge Campos


Gala de Abertura do Fantasporto


Sinfonia Fantástica de Berlioz

Orquestra Sinfónica do Porto, dirigida pelo Maestro Frederic Chaslan

17 Fevereiro de 2001

Coliseu do Porto

Em Colaboração com a Casa da Música



Sessão de Abertura do Fantasporto de 2001


23 Fevereiro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório

Exibição do Programa “Estórias de Duas Cidades”

(Estreias Nacionais)



Workshop da Montagem de Cinema ao Multimédia


De 12 Março a 9 Novembro de 2001

Associação Os Filhos de Lumiére


Quatro acções de formação distribuídas ao longo do ano


Foram feitos quatro cursos de uma semana destinados a um público maioritariamente jovem, interessado no conhecimento das novas tecnologias. Os cursos proporcionaram formação e informação sobre as novas ferramentas multimédia que se oferecem aos criadores, mas partindo de uma reflexão teórica sobre a história das imagens em movimento. Procurou-se, por outro lado, responder à curiosidade crescente que envolve essas matérias enquadrando as novas tecnologias num quadro de pesquisa que tem a linguagem do cinema como referência.


Formadores:

Jean-Claude Bonfanti

Alok Nandi


(Continua)




























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Jorge Campos

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        "O mundo, mais do que a coisa em si, é a imagem que fazemos dele. A imagem é uma máscara. A máscara, construção. Nessa medida, ensinar é também desconstruir. E aprender."  

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Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

Todo o conteúdo © Jorge Campos

excepto o devidamente especificado.

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