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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 23 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023

por Jorge Campos


"Há uma inquietação no documentário que não está presente na reportagem, que é jornalismo puro e duro”.


Llorenç Soler desenvolve a sua actividade em múltiplas direcções, nomeadamente como documentarista. Entre os seus documentários mais conhecidos contam-se Francisco Boix, un Fotógrafo en el Infierno e Max Aub, un Escritor en su Laberinto. Em Los Hilos Secretos de mis Documentales publicado em Barcelona pelos Libros de Ccomunicación Global reflecte sobre a sua actividade como realizador. Esta entrevista foi gravada no Porto em Outubro de 2001 quando da sua participação na Odisseia nas Imagens e resume  algumas das questões essenciais sobre a relação do documentário com a televisão.

Llorenç Soller

JC. O que lhe agrada no documentário?

LS. O que me agrada é o jogo que permite construir uma ficção a partir do real, exercer um ponto de vista, construir o meu próprio argumento, ou seja, não acredito de modo algum na objectividade: o documentário é tão subjectivo quanto a ficção.


JC. A objectividade parece ser uma crença da Televisão em função do seu carácter predominantemente informativo. Será que isso dificulta a relação entre o documentário e a Televisão?

LS. É, realmente, uma relação complicada, sobretudo porque há aí um conflito latente entre o percurso da gente do Cinema e o percurso dos jornalistas da Televisão. São dois mundos completamente diferentes. Pelo menos entre nós, em Espanha, para eles nós somos os artistas, os “poetas”, eles são os comunicadores, os que dão conta da verdade. Mas, as coisas não podem colocar-se desse modo. Aliás, ambas as tendências, muitas vezes, coabitam nos documentários. Mas, para isso, é necessário que a Informação sobre um tema seja apresentada de modo poético, criativo e original...


JC. Porém, o que acontece a todo o momento é a sensação dos procedimentos jornalísticos contaminarem todo o espaço da Televisão e, por via disso, a reportagem aparecer muitas vezes identificada como documentário...

LS. De acordo. É por isso que é indispensável delimitar os territórios. Fala-se, hoje, do documentário de criação – embora, a mim, não me agrade essa designação – e há o jornalismo audiovisual, que é outra coisa. Do meu ponto de vista, o documentário tem um valor acrescentado, que é o valor da criação. Há uma inquietação no documentário que não está presente na reportagem, que é jornalismo puro e duro.

JC. Que se passa, hoje, em Espanha, com respeito ao documentário?

LS. Há um ressurgimento extraordinário, sobretudo graças ao apoio das estações de Televisão.

JC. Não há aí uma contradição?

LS.Claro que sim, se tivermos em conta que se trata de um medium predominantemente informativo, jornalístico, onde impera o imediatismo e predominam os jornalistas. Contudo, parece que os operadores estão a descobrir este outro género que está para além do imediatismo e permite a reflexão sobre um tema.

JC.Quererá isso dizer que a linguagem da Televisão pode acolher o olhar do Cinema?

LS. No que eu acredito é que esta tendência introduz um olhar mais cinematográfico do que televisivo. Passam muitos filmes na Televisão, mas quando isso acontece, a Televisão funciona apenas como veículo, ou seja, não altera a sua natureza ou razão de ser. Com o documentário, porém, há uma perspectiva diferente e aí, sim, há reflexos muito interessantes. Basta atentar no facto de muitos documentários feitos para a Televisão, em Espanha, terem sido grandes sucessos nas salas de cinema.

JC. É complicado para si trabalhar com formatos televisivos de 25 ou 50 minutos?

LS. Não, isso não me causa qualquer problema.

JCOs problemas, então, são outros...

LS. Já falamos deles. Quanto ao mais, a Televisão também tem muitos aspectos positivos. Eu, por exemplo, fiz longas metragens que foram muito mal distribuídas e, por isso, foram vistas por muito pouca gente. Mas, a partir do momento em que foram exibidas pela Televisão tiveram 300 ou 400 mil espectadores em cada passagem, ou seja, entraram em contacto com o grande público, o que é muito bom.

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 20 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023

No Desobedoc todos os filmes são apresentados por alguém e haverá sempre uma folha de sala. a mim coube-me este filme. aí vai o texto que escrevi para Roger & Me.


Roger & Me (1989) de Michael Moore é um documentário controverso. Nos Estados Unidos, apesar de distinguido como o melhor do ano, nomeadamente pela National Society of Film Critic, National Board of Review e Los Angeles Film Critics Association, foi excluído das nomeações para os óscares a pretexto, entre outros motivos, de alegada falta de objectividade. Numa carta aberta encabeçada por Pamela Yates e Spike Lee, 45 cineastas insurgiram-se contra a omissão. Entre os signatários estavam Louis Malle (''Phantom India''), Haskell Wexler (''Underground''), Robert Richter (''Gods of Metal''), Mira Nair (''Salaam Bombay!'') e Chris Choy e Renee Tajima (''The Death of Vincent Chin''). O episódio, para além da notoriedade que trouxe ao cineasta, teve outras consequências. Obrigou a Academia a rever critérios, contribuiu para o regresso do documentário às salas e reabriu o debate sobre ocinema independente americano numa lógica antitética da dos media sob controle das corporações. O que é Roger & Me? Antes do mais é um filme imensamente divertido e devastadoramente iconoclasta. Parte das consequências de um despedimento colectivo levado a cabo pela General Motors em Flint, Michigan, cidade natal de Moore, para uma perseguição movida pelo cineasta ao CEO da empresa, Roger Smith, numa tentativa de o trazer de volta para lhe mostrar o pesadelo social causado pelo encerramento das fábricas. Claro que a perseguição é apenas um pretexto para a desconstrução do american way of life, das suas bandeiras e mitos no tempo concreto do reaganismo. Nesse percurso há uma antinomia permanente entre a apregoada bondade do sistema capitalista e o cortejo de consequências nefastas que se abate sobre os desempregados e as suas famílias. Em pano de fundo, a cortina simbólica que faz do entretenimento uma forma letal de hipnose. Moore entrevista super-estrelas como Pat Boone, o crooner que rivalizou com Elvis Presley na segunda metade dos anos 50, diverte-se com Miss América e dá alfinetadas em vedetas da televisão como Bob Eubanks. Encontra recorrentemente o xerife Fred Ross ocupado na interminável tarefa de despejar os pobres das casas cujas rendas não puderam pagar. E, finalmente, arranja maneira de se introduzir numa festa de Natal presidida por Roger Smith.  Sarcástico, comediante de extraordinários recursos, Moore constrói uma narrativa que acolhe elementos da cultura de massas e cuja eficácia decorre da utilização de códigos facilmente reconhecidos por um público cuja posição face ao cinema se inscreve no âmbito de uma relação multimédia alargada. Em Roger and Me (1989) há, com efeito, um dispositivo cinematográfico ao qual estão associados significantes de uma paleta multiforme onde cabem as imagens de arquivo e as imagens in loco, a música pop e os jogos de vídeo, o cinema de animação e a reportagem televisiva, o registo stand up comedy e, sim, a lógica da propaganda. Neste caso, assumidamente anti-Reagan. Dado o sucesso dos seus filmes junto do público, não admira que Michael Moore se tenha transformado numa espécie de bête noire dos republicanos. É que ele vira a América de pernas para o ar.

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Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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