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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

Atualizado: 20 de out. de 2023


Com esta publicação termina a parte relativa à Programação da Odisseia nas Imagens. Seguir-se-ão notas respeitantes à avaliação que dela se fez, designadamente quanto ao cinema documental. Como facilmente resulta da leitura dos arquivos publicados, a Odisseia na Imagens foi sempre encarada como um percurso ao longo do qual se fosse tornando perceptível a afirmação de uma política cultural diferenciada, consequente com um agir local num contexto global.


Alexander Sokurov. Fonte: Revista Cinema

O trabalho de base foi cumprido. Criaram-se novos públicos e, em colaboração com as universidades e festivais de cinema estruturantes, procurou-se incentivar uma produção diferenciada no campo da curta-metragem, animação e cinema documental, bem como incursões no campos dos New Media. Nesse sentido, a Odisseia nas Imagens levou a cabo um número de acções de formação sem precedentes, envolveu o ensino superior em cerca de uma centena de produções, influenciou planos curriculares, publicou nos seus catálogos inúmeros textos de reflexão, promoveu numerosos debates e conferências, deu a ver aquilo que habitualmente não se via e bateu-se pela recuperação da memória do Porto enquanto cidade das imagens em movimento.


De certa forma, este módulo Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens, foi simultaneamente o culminar de um processo e o ponto de partida do que deveria ter sido um novo ciclo. Esse ponto de partida foi o primeiro - e único - Festival de Cinema Documental e Novos Media do Porto, obviamente designado por Odisseia nas Imagens, pensado para diversos equipamentos da cidade, mas cuja sede, no futuro, concretizado o intuito de recuperação do Cinema Batalha, deveria ali ser instalada.


Cinema Batalha. Foto: Francisco Huertas Hernández em El Acorazado Cinéfilo

Essa também a razão pela qual este módulo foi aqui especialmente detalhado. Nele estavam plasmadas as múltiplas valências de uma intervenção articulada, estruturante, pela qual passavam, por exemplo, programação da Cinemateca Portuguesa e a constituição de uma Biblioteca e Filmoteca exclusivamente dedicadas ao Cinema e às imagens do Porto. Terminada a aventura do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, a Odisseia nas Imagens surgia naturalmente posicionada para dar o seu contributo em termos da programação de Cinema, Audiovisual e Multimédia dos novos equipamentos culturais da cidade, cujos auditórios de pequena e média dimensão se ajustavam a percursos e visões alternativos. O novo festival de que aqui se fala era encarado como elemento fundamental de uma estratégia de internacionalização e de estímulo à Produção nacional e ibérica.


Neste texto apresentam-se as duas competições, a global e a das escolas, e faz-se ainda referência ao fórum Choque das Imagens/ Imagens de Choque que contou com a participação, entre outros, de Ignacio Ramonet e do presidente do Festival su Scoop et du Jourmalisme de Angers, Alain Lebouc. Nos anexos, da autoria de Rui Pereira, há notícia detalhada destes eventos, em particular da conferência de Ramonet que foi participada ao ponto de deixar muitas dezenas de pessoas à porta da Biblioteca Municipal Almeida Garrett.


Godfrey Reggio. Fonte: Santa Cruz Sentinel

Fórum

O Choque das Imagens

Em colaboração com Le Monde Diplomatize

27 – 28 de Outubro

Casa das Artes – Auditório

8 de Novembro

Biblioteca Almeida Garrett


Dia 27 de Outubro

14.15h – 18:15h

Casa das Artes

1. Imagens Globais

Turbulences (1997) de Carole Poliquin, 52’

Painel

Koyaanisqatsi (1982) de Godfrey Reggio, 87’


Dia 28 de Outubro

14:15h – 18:15h

Casa das Artes

2. Equilíbrios Instáveis

L’Age de la Performance (1994) de Carole Poliquin, 53’

Painel

Powaqqatsi (1986) de Godfrey Reggio, 95’


Dia 8 de Novembro

21.30

Biblioteca Almeida Garrett

3. Propagandas Silenciosas

Com o Director de Le Monde Diplomatique Ignacio Ramonet




ODISSEIA NAS IMAGENS


Festival Internacional do Documentário e Novos Média do Porto


De 26 de Outubro a 2 de Novembro de 2001

Casa das Artes


Competição: As Regras do Jogo


A secção competitiva da Odisseia nas Imagens reúne um conjunto de filmes dos quais pode afirmar-se que de algum modo proporcionam um retrato do tempo em que vivemos. Estes filmes tanto nos remetem para o dia de hoje quanto nos solicitam o esforço de memória sem o qual o futuro é imponderável. Estamos, pois, perante uma História a fazer-se, um percurso ao longo do qual as imagens nos interpelam sobre a condição do homem e sobre a cidadania. Mas não só, porque o exercício que é feito ficaria incompleto sem uma reflexão sobre as imagens elas mesmas e o seu peculiar modo de dizer, o que nos coloca no centro dos mecanismos do trabalho de criação.


O documentário é isso mesmo. Uma modalidade discursiva que se inscreve na actualidade recolhendo os signos de diferentes sistemas de significação para proceder subjectivamente à interpelação e ficção do real. Nada mais ambíguo, por isso, do que a reivindicação de um critério de objectividade, mesmo se de carácter informativo, entendido como paradigma de um qualquer modo modo de dizer: toda a narração é construção, toda a construção é consequente do artifício e o artifício o instrumento necessário que promove o ponto de vista da realidade construída. A realidade é, pois, uma consequência da linguagem.


Mas no caso do documentário vai mais além: reclama a par do domínio gramatical e do saber fazer a presença de um olhar diferenciado correspondente a uma visão pessoal do objecto observado. É a metamorfose no âmago da qual, de uma forma aberta, reside, enquanto proposta, a chave da interpretação do mundo ou a expressão das suas perplexidades. Daí que o documentário possa ser considerado o álbum de família de um povo, de um país, do mundo global sobre o qual todos se interrogam. Por isso, o documentário é um bem público.

A selecção competitiva da Odisseia nas Imagens teve em conta este ponto de vista e reflecte, por um lado, a lógica da Programação estruturada em torno dos ciclos Como Salvar o Capitalismo e Outras Paisagens e, por outro, a observância de um critério que procurou dar enfâse à participação ibérica colocando-a em pé de igualdade com a restante participação internacional. Aparecem, assim, lado a lado, obras já premiadas nalguns dos principais festivais internacionais durante 2000/2001 - casos de Sundance, Amesterdão, Rio de Janeiro e Veneza, entre outros - e algumas das obras mais recentes produzidas na Península. Em qualquer dos casos, na sua esmagadora maioria, estaremos quase sempre na presença de filmes que passam pela pela primeira vez em Portugal.


Como sempre acontece nestas circunstâncias, muitos e bons filmes ficaram de fora. Nomeadamente no respeitante à produção nacional houve que promover escolhas nem sempre fáceis, tanto mais que se verificou uma inscrição massiva da produção mais recente. No conjunto, porém, parece-nos que esta competição, com o carácter experimental de que inevitavelmente se reveste, resulta num conjunto equilibrado onde a par de grandes nomes como Sokurov, Barbara Kopple, Chris Hegedus ou Gianikian / Ricci-Lucchi é possível partir à descoberta de autores, nacionais e estrangeiros, cujas primeiras obras criam fundadas expectativas.


Jorge Campos




O Júri


Nina Rosenblum (Presidente)


Nina Rosenblum. Fonte: NetWorthRoll

Documentarista norte-americana nomeada para os Óscares, vencedora de numerosos galardões internacionais e autora de trabalhos distinguidos com prémios Emmy. À frente de uma produtora independente, os seus filmes têm constituído uma fundamentada e sistemática denúncia dos mecanismos censórios nos Estados Unidos. Algumas das suas obras mais conhecidas e premiadas trazem à superfície aspectos dolorosamente silenciados pelo sistema mediático, como, por exemplo, o dispositivo carcerário e a punição penal das mulheres presas políticas nos EEUU.


Diego Mas Trelles


Diogo Mas Trelles. Fonte: Kouzi Productions

1954, franco argentino, é licenciado em realização cinematográfica pelo Instituto Nacional de Cinema de Buenos Aires. Autor de uma extensa obra cinematográfica como realizador, produtor e autor. Foi delegado do canal ARTE junto da RTVE no final da década de 90 e a sua actividade reparte-se pela coordenação e direcção artística de diversos festivais de cinema e audiovisual um pouco por todo o mundo. Participa regularmente como conferencista e professor na área do documentarismo em universidades de Espanha e da Argentina.


Filmografia


Mannequin, 1973; Trains, 1974; Quien te dice..., 1976; Un pays lointain, 1983; Le parc, 1986; Peter Knapp, Eppur Si Muove, 1987; École maternelle, 1988; Les lords du cricket, Seamen’s, Caravanes de la fatigue, Laicité et culte, 1989; Sida, pas une fatalité, Les doigts dans le mixeur, 1990; L’ économie sociale, 1991; Carmen Maura x 5, On ne vit qu’ une fois: La movida, 1992; Karagöz - le théatre d’ombres, Portrait de pelerins sur le chemin de Saint-Jacques, Jacques Lacarriere, El cadaver exquisito, 1993; Al fondo a la derecha, Festival de animation de Cardiff, Cyberculture, 1994; Danseu et grabeu – maleits, Pay Tv around the world, Touchdown, La noche más corta, Centro de atención telefónica, 1995;Hanae akiko, My bikini baby, 1996; Ciel mes bijoux, 1997; Pharos - sentinelles de la mer, 1998.



Amir Labaki


Amir Labaki. Fonte: Pipoca Moderna

Crítico e teórico brasileiro, é o fundador e director do «É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários», de S. Paulo e Rio de Janeiro. Autor de oito livros sobre cinema e mantendo uma actividade diversificada nas áreas do estudo e da divulgação, foi ainda director do Museu da Imagem e do Som de S. Paulo.


António Loja Neves


Jornalista, faz parte dos quadros do semanário Expresso. Tem o curso da Escola Superior de Teatro e Cinema, licenciatura de Realização, e vem-se dedicando em especial à área do documentarismo. É director de programação dos Encontros Internacionais de Cabo Verde e fez parte da equipa dos Encontros Internacionais de Cinema Documental (Malaposta) desde sua primeira edição, quando acompanhou Manuel Costa e Silva. É membro dos corpos gerentes da AporDoc, Associação pelo Documentário. Comissariou diversas retrospectivas de cinema, nomeadamente para a Culturgest (cinemas Africano, Árabe e da América Latina) e para a Culturporto (cinema Brasileiro). Foi dirigente cineclubista (Cineclube Universitário de Lisboa) e co-fundador da Federação Portuguesa de Cineclubes. Tem colaborado na programação de festivais e mostras estrangeiras, e fez parte de vários júris internacionais. Realizou Ínsula, documentário de raiz etnográfica sobre o arquipélago da Madeira, de onde é natural, e tem em fase de rodagem O Silêncio, sobre um episódio ligado à guerra civil espanhola.


António Loja Neves. Fonte: Desobedoc

Filmes em Competição


26 de Outubro – 02 de Novembro

Casa das Artes – Auditório

Preço: 500 escudos com 50% de desconto para estudantes


Dia 26 de Outubro

18H30


De Zee Die Denkt (The Sea That Thinks) de Gert de Graaf, Holanda 2000, 100’, cor, 35mm

Um escritor, apanhado entre a realidade e a ficção, é confrontado com a grande questão: como ser feliz na vida?


De Zee Die Denkt (The Sea That Thinks), de Gert de Graaf. Este filme foi diversas vezes premiado ou distinguido em 2000/2001, designadamente com o Prémio Joris Ivens no IDFA Amesterdão 2000. Fonte: IDFA

22H00


Senhorinha de José Filipe Costa, Portugal 2001, 38’, cor, Betacam SP


Memória viva de uma sociedade rural portuguesa em confronto com o mundo urbano, Margarida Senhorinha, 69 anos, interroga-se: “E agora para onde vou?”


A Negação do Brasil de Joel Zito Araújo, Brasil 2000, cor, 35mm


Um documentário de longa metragem sobre os preconceitos, tabus e trajectória das personagens negras nas telenovelas brasileiras.


Filme premiado no Festival Internacional de Documentários – É Tudo Verdade (São Paulo) 2001 e no Festival de Cinema do Recife 2001.


Dia 27 de Outubro

18H30


Sverige de Johannes Stjarnan Nilsson e Ola Simonsson, Suécia 2000, 8’, cor 35mm


Na costa Sul da Suécia um homem olha demoradamente o mar. Com uma bússola fixa o Norte. De repente começa a correr. Três dias mais tarde atinge o seu objectivo – Treriksoret, no Norte da Suécia.


Johannes Stjarnan Nilsson e Ola Simonsson. Esta dupla de realizadores tem numerosos prémios em diversos festivais como os de Toronto, Chicago, Copenhaga, Gotemburgo e Vila do Conde. Fonte: KOSTR-FILM

The Last Yugoslavian Football Team de Vuk Janic, Holanda 2000, 83’, Betacam SP


O jogo como metáfora política, ou a desagregação da Jugoslávia a partir da desagregação da sua selecção nacional de futebol.


Vuk Janic é um realizador largamente premiado em Itália, Jugoslávia, França, Monte Carlo, Amesterdão, etc


22H00


Ser Forcado de Mathias Bauer, Portugal 2001, 52’, cor, Betacam SP


Sendo um filme que pretende entender o que significa ser forcado, não é um filme sobre touradas nem pretende explicar o seu sentido.


Auto Bonus de Mika Ronkainen, Finlândia 2001, cor Betacam SP


Um filme hilariante sobre o sonho americano na Finlândia. Uma família falida junta-se à Network Markting com o intuito de ganhar um automóvel novo.


Dia 28 de Outubro

18H30


Enfermeiras do Estado Novo de Susana Sousa Dias, Portugal 2000, 50’, cor Betacam SP


Um decreto salazarista proíbe as mulheres casadas ou viúvas com filhos de exercerem enfermagem nos hospitais civis. Um testemunho espantoso do Portugal dos brandos costumes.


Susana Sousa Dias. Fonte: Delas

A Time of Love and War de Sabrina Mathews, Canadá 2000, 52’, cor Betacam SP


A história recente do mundo através da correspondência de duas mulheres, uma nicaraguense outra canadiana, ao longo de 11 anos. Da luta na guerrilha sandinista ao colapso da União Soviética o que prevalece é o sentido da amizade e solidariedade.


22H00


Las Cenizas del Volcán de Pedro Pérez Rosado, Espanha 2000, 87’, cor, 35mm


Em Janeiro de 1994, no sudeste mexicano, no Estado de Chiapas, estala uma revolta encabeçada pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional liderada pelo Comandante Marcos. Seis anos mais tarde, o que está a acontecer em Chiapas? A resposta é dada de forma magistral neste filme de Pedro Pérez Rosado.


Dia 29 de Outubro

18H30


Perdere il Filo de Jonathan Nossiter, Itália 2000, 56’, cor, Betacam SP


Pode a arte ainda ser feita em Florença? Pode ser feita no circuito dos museus e galerias? Lorenzo Pezzatini acredita que sim. Mas para ele a arte é outra coisa: criar um colorido e infinito fio azul-amarelo-vermelho.


Jonathan Nossiter é um realizador consagrado e premiado em festivais como os de Deauville e Sundance.


Pós de Regina Guimarães e Saguenail, Portugal 2000, 48’, cor Betacam SP


Um grupo de crianças visita a exposição “Arritmia, as inibições e os prolongamentos do humano. Essa visita é o ponto de partida para uma interrogação acerca dos projectos e objectos representados. A mão do aleatório parece castigada pelo pulso férreo da ordem, em todos os domínios da criação e da pesquisa, dividindo males, águas e aldeias.


22H00


Francisco Boix Um Fotógrafo en el Infierno, de Llorenç Soler, Espanha 2000, 55’, cor/pb, Betacam SP


As fotografias de Boix, que esteve internado num campo de concentração nazi, serviram de prova no Tribunal de Nuremberga. Mas este retrato de Boix vai muito para além do registo monográfico. Inscreve-se num contexto que investiga a memória e acerta o passo com a História.


Soler é um realizador diversos vezes premiado e distinguido. Boix ganhou já o Grande Prémio do Festival Internacional do Filme de História, Pessac 2000 e foi distinguido com uma menção especial no Festival Internacional de São Francisco 2001.


Sacrifício – Who Betrayed Che Guevara de Erik Gandini e Tarik Saleh, Suécia 2001, 59’, cor, Betacam SP


Ernesto Che Guevara foi executado na Bolívia em 1967. O homem que, mais do que qualquer outro, foi considerado culpado da sua morte foi Ciros Bustos, uma antigo companheiro de Guevara. Hoje, Bustos vive na Suécia.


Sacrifício ganhou o Prémio para o melhor documentário no Festival É Tudo Verdade de São Paulo 2001.

Dia 30 de Outubro

18H30


Mais Alma de Catarina Alves Costa, Portugal 2001, 56’, cor Betacam SP


Um olhar sobre a vida no e fora do palco. O filme segue, em duas ilhas de Cabo Verde, a génese de espectáculos que serão apresentados no Festival de Teatro do Mindelo. Um músico, Orlando Pantera, indica-nos o caminho da inspiração: Mais Alma...


Extranjeros de Si Mismos de José Luis-Linares e Javier Rioyo, Espanha 2000, 84’, cor 35mm.


22H00


Alone de Audrius Stonys, Lituânia 2001, 16’, pb, 35mm


Uma criança parte para visitar a mãe que está na prisão ou o modo de reflectir sobre a solidão sem limites.


O Fato Completo ou à Procura de Alberto de Inês de Medeiros, Portugal/ França 2001, cor 35mm


De início era relativamente simples. Eu procurava um rapaz de origem africana, entre os 16 e os 18 anos, para incarnar o papel de Alberto no filme que eu acabara de escrever. Como não eram actores, pedi aos candidatos que me contassem uma história à escolha. O que me deram foi um bocado de vida, e fizeram-no com uma tal generosidade e autenticidade que era eu quam estava em causa. Seria eu capaz de reencontrar a mesmma força, a mesma emoção?


Dia 31 de Outubro

18H30


Southern Comfort de Kate Davis, EUA 2000, 90’, cor 35mm


Esta é a história do último ano de vida de Robert Eads, um transsexual feminino de 52 anos. Robert realiza finalmente o seu sonho de assistir ao Congresso Southern Confort, em Atlanta, o mais importante fórum transgênero da América do Norte. Morre em seguida.



Southern Confort é o grande Prémio para o Documentário do Festival de Cinema de Sundance 2001.

22H00


No Quarto da Vanda de Pedro Costa, Portugal/ Alemanha/ Suiça 2000, 180’, cor, 35mmm


"A vida só me tem dado desprezos. Morar em casas fantasmas, que outras pessoas deixaram. Estive em casas que nem uma bruxa queria lá morar. Mas também estive em casas que valiam a pena. Todas as casas que eu ocupei eram clandestinas. Foram as casas que as pessoas abandonaram, mas se estivesse lá uma pessoa de bem...eles até nem mandavam abaixo. E olha, foi assim, casa atrás de casa. Já paguei mais pelas coisas que não fiz, que pelas coisas que fiz."


Dia 1 de Novembro

18H30


My Generation de Barbara Kopple, EUA 2000, 103’, cor, 35mm


"A espontaneidade do concerto de Woodstock de 1969 é lendária. Vinte cinco ou trinta anos depois o que resta desse espírito de auto descoberta e de auto afirmação. É sobre isso que Barbara Kopple se interroga em My Generation para concluir, como Allen Ginsberg, que todas as gerações transportam consigo “uma fome divina de algo melhor do que aquilo que lhes foi legado."





22H00


startup.com de Chris Hegedon e Jehane Noujain, EUA 2000, 103’,cor, 35mm


A famosa equipa de documentaristas formada por Chris Hegedon, D.A. Pennebaker e pela recém chegada Jehane Noujain decidiu espreitar os bastidores do volátil fenómeno das empresas tecnológicas (startups) e retratou o agitado desenvolvimento de govWorks.com


Dia 2 de Novemro

15H00


Images d’Orient – “Tourisme Vandale” de Yervant Gianikian e Angela Ricci-Lucchi, France/Italy 2001, 62’ cor e preto e branco, vídeo digital


Images d’Orient – “Tourisme Vandale”, de Yervant Gianikian e Angela Ricci-Lucchi. Fonte: IFFR

Elegiiya Dorogi de Aleksander Sokurov, Russia/Netherlands 2001, 48’, cor, vídeo digital


Que Vivent les Femmes de Laurent Bécue-Renard, França 2000, 82’, cor, vídeo digital



Filmes em Competição (por ordem de apresentação):


De Zee Die Denkt, de Gert de Graaff

Senhorinha, de José Filipe Costa

Negação do Brasil, de Joel Zito Araújo

Sverige, de Johannes Stjarne Nilsson e Ola Simonsson

The Last Yugoslavian Football Team, de Vuk Janic

Ser Forcado, de Mathias Bauer

Auto Bonus, de Mika Ronkainen

As Enfermeiras do Estado Novo, de Susana Sousa Dias

A Time of Love and War, de Sabrina Mathews

Las Cenizas del Volcán, de Pedro Pérez Rosado

Perdere il Filo, de Jonathan Nossiter

Pós, de Regina Guimarães e Saguenail

Francisco Boix, un Fotógrafo en el Inferno, de Llorenç Soler

Sacrifice – Who Betrayed Che Guevara, deErik Gandini e Tarek Saleh

Mais Alma, de Catarina Alves Costa

Extanjeros de si Mismos, de Javier Riuyo

Alone, de Audrius Stonys

O Fato Completo ou à Procura de Alberto, de Inês de Medeiros

Southern Confort, de Kate Davis

No Quarto da Vanda, de Pedro Costa

My Generation, de Barbara Kopple

Start up. com, de Jehane Noujaim e Chris Hegedus

Images d’Orient – “Tourisme Vandale”, de Yervant Gianikian e Angela Ricci-Lucchi

Elegia Dorogi, de Aleksander Sokurov

Que Vivent les Femmes, de Laurent Bécue-Renard


Elegiiya Dorogi (2001) de Aleksander Sokurov. Fonte: Cinefanías

Realizadores e outros convidados representantes dos filmes em competição:


Catarina Alves Costa, realizadora do filme “Mais Alma” (Portugal)

Javier Rioyo, realizador do filme “Extrajeros de Si Mesmos” (Espanha)

Joel Zito Aráujo, realizador do filme “Negação do Brasil” (Brasil)

José Filipe Costa, realizador do filme “Senhorinha” (Portugal)

Llorenç Soler, realizador do filme “Francisco Boix, un Fotógrafo en el Inferno” (Espanha)

Pedro Baptista, representante do filme “Ser Forcado” de Mathias Bauer (Portugal)

Regina Guimarães, realizadora do filme “Pós” (Portugal)

Saguenail, realizador do filme “Pós” (Portugal)

Silvia Lucchesi, representante do filme “Perdere il Filo” de Jonathan Nossiter (Itália)

Susana Sousa Dias, realizadora do filme “As Enfermeiras do Estado Novo” (Portugal)




DECLARAÇÃO DO JÚRI


O júri internacional gostaria de agradecer ao Porto 2001 a oportunidade de tomar contato com uma impressionante seleção de documentários, portugueses e internacionais. Um evento com o grau de excelência da Odisseia nas Imagens cumpre um papel insubstituível no estímulo à produção de documentários e na esfera dos novos media. Os nossos votos são de longa vida ao festival!


Como nenhum outro género, os documentários tornam o mundo contemporâneo menos opaco. Um grande documentário cria uma forma própria que espelha a excepcionalidade do seu tema, ou dos seus protagonistas.


Desafiado pela qualidade dos concorrentes, o júri decidiu outorgar as seguintes menções e prémios:


Menção Honrosa para: “Startup.com” de Jehane Noujaim e Chris Hegedus (Estados Unidos), pelo subtil registo de uma história empresarial que funciona como metáfora actual do sonho americano;

Menção Honrosa para: “Southern Confort”, de Kate Davis (Estados Unidos), pelo acompanhamento sensível de um casal a um só tempo igual e diferente de todos os outros;

Menção Especial para: “Elegia Dorogi” de Aleksander Sokurov (Rússia/França/Holanda), pela originalidade de seu ensaísmo poético;

O prémio de Melhor Filme Ibérico é atribuído a “Extranjero de Si Mismos” de José Luiz López-Linares e Javier Rioyo (Espanha), por combinar arrojo estrutural e raro humanismo na reconstituição da trajetória desconhecida de protagonistas anónimos do século 20;

O prémio de Melhor Filme é atribuído a “Sacrifício – Who Betrayed Che Guevara?” de Erik Gandini e Tarik Saleh (Suécia), pelo tratamento ousado e arrebatador de uma pesquisa que reescreve e humaniza a saga de um mito.



Jehane Noujaim e Chris Hegedus. Fonte: Sundance Institute


COMPETIÇÃO DE ESCOLAS

ODISSEIA NAS IMAGENS


De 13 a 17 de Novembro de 2001

Casa das Artes


Em colaboração com Escola Superior Artística do Porto, Escola Superior de Jornalismo do Porto, Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Universidade Católica Portuguesa, Universidade de Santiago Compostela, Universidade do Minho, Universidade do Porto e Universidade Fernando Pessoa.


Considerada estrategicamente como o vector mais importante de toda a Odisseia nas Imagens por estar dirigido para a emergência de novos criadores e o estabelecimento de novos pólos de produção fílmica, a competição de escolas representa o culminar de um trabalho que ligou o universo do cinema e audiovisual ao da academia, designadamente com a inclusão da programação de O Olhar de Ulisses e dos restantes ciclos da Odisseia currículos universitários dos cursos relacionados com o jornalismo, o cinema, a televisão e o multimédia.


Júri de Pré Selecção:


Luís Miguel Duarte (Presidente);

Regina Pessoa;

Rodrigo Affreixo;

Bernard Despomadéres;

Francisco Duarte Mangas.


Acta da reunião final do Júri de Pré-Selecção


Aos 26 dias do mês de Outubro de 2001, pelas 15 horas, nas instalações da Sociedade “Porto 2001”, reuniu o júri de pré-selecção do Festival de Escolas no Noroeste peninsular, integrado no ciclo “Odisseia nas Imagens”, integrado por Luís Miguel Duarte, que presidiu, Bernard Despomadères, Rodrigo Affreixo e Francisco Duarte Mangas, Regina Pessoa.

Começou por proceder à pré-selecção das obras a concurso, tendo chegado aos seguintes resultados:


Documentários

Pirkko

A Saga das Carquejeiras

Porto de Imersão

Nani

É assim a vida

Gerações Siza

Afurada

Um Porto em cada ilha

Fado Menor


Reportagem

Eu sou

Bugiadas – Festa e Paixão

Web. Egg

Balcans

Lembrando Frontao

Sarela Abaixo

Letícia

Porto de Encontros

A rusga


Ficção

Um Filme sem história

Felizes para sempre

Polaroid

Um gesto azul

A Sala

Vale a pena

O meu mundo


Experimental

Porto 2 mil e 1

See TV

Zero

Lugar

Soajo

Mandalas


Animação

A Nuvem

Imprevisível

Um estranho ruído que passa


Total: 34 filmes


Seguidamente, o júri propôs a exibição das obras pré-seleccionadas em oito sessões, cuja programação se sugere:


13 de Novembro


18H30 1ª Sessão

Porto de Imersão, 25’, U. Minho (Doc.)

Felizes para sempre, 17’, U.C.P., (Ficção)

Imprevisível, 4’40, FBAUP (Animação)

Mandalas, 3’, ESAP (Exp.)

Balcans, 10’, USC (Report.)

Tempo Total: 60 ‘


22H00- 2ª Sessão

Polaroid, 10’, FBAUP (Ficção)

Porto de Encontros, 30’, ESJ (Report.)

Pirkko, 15’, ESAP (Ficção)

Estranho ruído que passa, 11’, UCP (Animação)

Tempo total: 66’


14 de Novembro


18H30 3ª Sessão

Um gesto azul, 17’, ESAP (Ficção)

Geração Siza, 36’, ESJ (Doc.)

A Nuvem, 2’, FBAUP (Animação)

Lembrando Fontão, 5’, USC (Report.)

Fado menor, 26’, ESAP (Doc.)

Tempo total: 1h26’


22H00 4ª Sessão

Vale a pena, 10’, UCP (Ficção)

Soajo, 6’, ESAP, (Experimental)

Bugiadas, Paixão e Festa, 23’, U. Minho (Report.)

Sem Título, 19’, UCP (Experimental)

A Saga das Carqueijeiras, 17’, ESJ (Doc.)

Tempo total: 1h15’


15 de Novembro


18H30 5ª Sessão

Eu sou, 31’, UCP (Report.)

Afurada, 26’, U. Minho (Doc.)

Sarela abaixo, 5’, USC (Report.)

Zero, 8’15, ESAP (Experimental)

Tempo total: 70’15

22H00 6ª Sessão

Nani, 37’, UCP (Doc)

See TV, 1’, FBAUP (experimental)

O meu nome, o meu mundo, 9’30, USC (Ficção)

Lugar, 23’, ESAP (Experimental)

Tempo total: 1h11’:


16 de Novembro


7ª Sessão – 18H30

É assim a vida, 23’, UCP (Doc)

A Sala, 14’, UCP (Ficção)

A Rusga, 28’, U.F. Pessoa (Report.)

Web.egg, 5’40, USC (Report.)

Tempo total: 70’


8ª Sessão – 22H00

Um filme sem história, 29´, UCP (Ficção)

Um Porto em cada ilha, 28’, U. F. Pessoa (Doc.)

Porto 2 mil e 1, 2’, FBAUP (Experimental.)

Letícia, 10’, USC (Report.)

Tempo total: 69’


Comentário do Júri de Pré-Selecção

Quantidades/Qualidades


Para o júri e a organização deste festival houve boas notícias e más notícias. Comecemos pelas primeiras: o número de trabalhos a concurso surpreendeu as expectativas mais optimistas. Se uma das ideias dos programadores do sector audiovisual da “Porto 2001” era ligar a programação à produção e esta às escolas, incentivando-as a criarem as suas próprias unidades de produção (e, num cenário ideal, fazendo nascer Produtoras), a contratualização com as escolas da realização de cinco dezenas de filmes deu bom resultado. Estiveram envolvidos centros e cursos da Escola Superior de Jornalismo/Licenciatura em Jornalismo e Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras do Porto, da Universidade de Santiago de Compostela, da Universidade do Minho, da Universidade Católica Portuguesa, da Faculdade de Belas Artes do Porto, da Escola Superior Artística do Porto e da Universidade Fernando Pessoa.


Saliente-se que todos os filmes têm qualidade boadcasting, o que obrigou a alguns investimentos sérios no equipamento.


Sendo, todos eles, trabalhos escolares, uns constituem primeiras obras, outros são da autoria de profissionais; isso explica parcialmente a extrema heterogeneidade do conjunto.


Passemos às notícias menos boas: surpreendeu a escassa quantidade de filmes de animação (apenas três), numa cidade e numa região com forte tradição nessa área. Surpreendeu ainda, nos filmes de ficção, a debilidade dos argumentos, a escassa qualidade narrativa e, talvez resultando das duas primeiras, a fraca direcção de actores.


Os filmes experimentais são, globalmente, agradáveis surpresas. As reportagens e os documentários, inversamente, ficam aquém do esperado: relativamente bem feitas mas demasiado iguais, com estruturas narrativas repetitivas, previsíveis, algo falhas de ideias.


Se há, em geral, boas bandas sonoras, a captação de som em exteriores ou em salas com muito movimento (cafés, sedes de associações), é deficiente. Também no que diz respeito à montagem nos apercebemos de que há, ainda, muito a aperfeiçoar. A fotografia é quase sempre correcta nas reportagens e documentários, menos conseguida nas ficções.


Dito isto, julgamos que se criaram algumas parcerias interessantes e se instalou boa capacidade de produção. Parece aberto o caminho para a institucionalização deste Festival do Noroeste Peninsular, em colaboração com a Universidade de Santiago de Compostela e pressupondo sempre uma forte componente académica.


Fica, sobretudo a convicção de que no Porto, será possível a curto prazo fazer documentários, curtas metragens e animação de qualidade.


Luís Miguel Duarte

Presidente do Júri de pré-selecção


Júri da Competição:

Djalme Neves (RTP);

Luís Urbano (Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde);

Helena Santos (Casa da Animação);

Belmiro Carvalho (Cinanima)


Acta do Júri (Competição)

O Júri, reunido às 0 horas e 30 minutos do dia 17 de Novembro de 2001, na Casa das Artes, deliberou, por unanimidade:


Considerar altamente louvável e profícua a iniciativa da Sociedade Porto 2001 em celebrar com diversas escolas do norte de Portugal e da Galiza, um conjunto de protocolos que possibilitou a organização deste Festival.


Destacar a elevada e entusiástica participação das escolas e dos estudantes no evento.


Menções Honrosas


O Júri deliberou atribuir duas Menções Honrosas: Pelo rigor da estrutura formal e segurança em aspectos técnicos, ao filme de ficção “Feliz para Sempre”, de David Fialho, com produção da Universidade Católica Portuguesa..


Pela dimensão telúrica desta real ópera de silêncios, e pela capacidade de composição estética ao filme “Soajo”, realização colectiva com produção da Escola Superior Artística do Porto.


Decidiu atribuir:


O Prémio de Ficção, pela irreverência, humor e sentido crítico, ao filme “Meu Nome, Meu Mundo” de Lijó e Meixide, produção da Universidade de Santiago de Compostela.


Pela consistente articulação entre animação e fotografia, bem integrada na estrutura narrativa, o Júri deliberou atribuir o Prémio de Animação ao filme “Um Estranho Ruído que Passa”, de Alice Azevedo, Joana Araújo e Mónica Santos, com produção da Universidade Católica Portuguesa.


Na categoria de Reportagem, pela actualidade do tema, pela descoberta que possibilita de numa realidade quotidiana tão presente e pela capacidade de comunicação, o Júri deliberou atribuir o Prémio ao filme “Eu Sou”, de Cristina Verdú, com produção da Universidade Católica Portuguesa.


Pela carga simbólica que atravessa o processo da memória, no confronto latente das emoções e dos afectos com a crueza das imagens visuais e sonoras, o Júri deliberou atribuir o Prémio na categoria de Filme Experimental, ao filme “Lugar”, de André Gonçalves, com produção da Escola Superior Artística do Porto.


Na categoria de Documentário, pela riqueza documental, cuidado na pesquisa e forte dimensão humana, o Júri deliberou atribuir o Prémio ao filme “A Saga das Carquejeiras”, de Sara Ferreira e Vânia Silva, com produção da Escola Superior de Jornalismo do Porto.


Finalmente, pela invulgar qualidade global, com destaque para a estrutura narrativa, expressão artística, desempenho e direcção de actores, utilização da fotografia e dramartugia, o Júri decidiu atribuir o Grande Prémio ao filme “Um Filme sem História”, de Daniel Ribas e Pedro Cruz, com produção da Universidade Católica Portuguesa.


O Júri não pode deixar de chamar a atenção das instiuições da região para a responsabilidade de não deixar morrer ou esmorecer esta iniciativa. Bem pelo contrário, devem revitalizá-la e alargá-la pelo seu valor estruturante no panorama cultural, designadamente no audiovisual.


Outros Participantes:


Professores e alunos da Universidade de Santiago de Compostela:

Ana Golgar Salgado

Anxela Caramés

Beatriz F. Paredes

Carlos Neira

Comba C. Garcia

Laura S. Filgueiras

Marcos Perez Pena

Raquel Castro

Silvia Pardo

Xosé Soengas Perez



Encerramento do ciclo O Olhar de Ulisses 4 - Resistência

2 de Novembro de 2001, Grande Auditório Rivoli – 22H00


Limelight de Charlie Chaplin


Limelight (1952) de Charlie Chaplin

Encerramento do ciclo «O Olhar de Ulisses» - Chaplin, o grande resistente, no cair do pano deste ciclo. Revisitação à dor e ao riso na prodigiosa história de Calvero, o comediante que perde as graças do palco.


Sessão de encerramento da Odisseia nas Imagens com Claudia Cardinale

«O Leopardo» de Visconti

4 de Novembro de 2001, Grande Auditório Rivoli – 22H00


O Leopardo (1963) de Luchino Visconti

Um clássico na despedida. «O Leopardo» e Visconti, dispensam adjectivos. Simbolicamente, um regresso à pureza do cinema no tempo em que a mentalidade do “visual” de massas ameaça a cultura deslumbrada e singular da imagem. Um acto e um hino de Resistência.




Sessão de encerramento de Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens

A Greve, de Eisenstein - com música de Pedro Guedes

(Filme Concerto)

3 de Novembro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório - 22H00


Cerimónia de entrega dos prémios de competição do I Festival Internacional do Documentário e Novos Media do Porto e encerramento do ciclo Como Salvar o Capitalismo. Projecção do clássico A Greve de Sergei Eisenstein. A «montagem polifónica», na definição do próprio Eisenstein em conjugação com a música ao vivo do compositor Pedro Guedes.


Participantes:


Pedro Guedes

João Paulo Pinto

Olavo Tengner Barros

José António Pinto

Rui Pedro Teixeira

Rogério Paulo Ribeiro

Filipe Ernesto Teixeira

Carlos Azevedo

Andrés Pablo Zubiaurre

Paulo Perfeito

José Luís Rego



A Greve (1924) de Sergei Eisenstein


(Continua)


ANEXO 1



Porque é que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres? Turbulances (1998) de Carole Poliquin. Fonte: ONF

IGNACIO RAMONET NA ODISSEIA NAS IMAGENS


BIBLIOTECA ALMEIDA GARRET, 5ª feira, dia 8, 21H30


O director do «Le Monde Diplomatique», Ignacio Ramonet, dará na próxima quinta feira, 8 de Novembro, pelas 21H30, no auditório da Biblioteca Almeida Garret, uma conferência intitulada «Propagandas Silenciosas». A presença de Ramonet encerra o ciclo de debates e projecções sob o título genérico «O Choque das Imagens», organizado em colaboração com o mensário francês pelo Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001 e inserido no último módulo da «Odisseia nas Imagens».


Ramonet abordará a temática da manipulação informativa em geral e, à semelhança do seu mais recente livro, intitulado precisamente «Propagandas Silenciosas, focará a deriva manipulatória promovida no seio do próprio campo cinematográfico.


Diversas personalidades portuguesas e estrangeiras passaram já pelo ciclo «O Choque das Imagens», discutindo tanto o modo como, nos dias de hoje, as imagens nos interpelam e as modalidades em que as interpelamos nós, também.


Nas sessões «Imagens Globais» e «Equilíbrios Instáveis», as duas anteriores, participaram diversos convidados que se encontravam a participar nas actividades da «Odisseia nas Imagens 4.0», bem como o director da edição portuguesa do «Le Monde Diplomatique», António Borges Coelho, o psiquiatra e especialista em cinema António Roma Torres, a cineasta e professora da Galiza, Margarida Ledo Andión, o investigador e académico da Universidade Fernando Pessoa, Jorge Pedro Sousa, ou a jornalista Diana Andringa.


Nessas sessões foram ainda exibidos quatro documentários de grande impacto sobre a realidade global contemporânea: «Turbulences» e «L’ Âge de la Performance», da cineasta canadiana Carole Poliquin, que no conjunto fornecem um olhar perturbador sobre a realidade da globalização. De Godfrey Reggio foram apresentados «Koyaanisqatsi» e «Powaqqatsi» dois notáveis filmes de um tetralogia que, substituindo as palavras por uma poderosa banda sonora original de Philip Glass, constituem um ensaio cinematográfico de grande universalidade.


«Propagandas Silenciosas», de Ramonet, encontra-se publicado em português pela editora do Porto «Campo das Letras», que também edita a edição em língua portuguesa do «Le Monde Diplomatique», presentemente com uma circulação que ronda os 10 mil exemplares. De Ignacio Ramonet, a mesma editora possui em catálogo a obra «A Tirania da Comunicação»


Ignacio Ramonet, além de jornalista e professor universitário, é hoje uma das vozes que mais lucidamente analisam a contemporaneidade e o fenómeno comunicacional à escala planetária.


ANEXO 2


Ignacio Ramonet. Fonte Wikipédia

IGNÁCIO RAMONET NA ODISSEIA NAS IMAGENS (1)

«OS ESTADOS UNIDOS ESTÃO A PERDER A GUERRA MEDIÁTICA»


O director do «Le Monde Diplomatique» sustentou na quinta feira à noite, no Porto, que «os Estados Unidos estão a perder a guerra mediática», considerando que, na batalha das imagens, Osama Bin Laden «surge como o grande encenador e realizador, o verdadeiro Cecil B. Demille» dos acontecimentos de 11 de Setembro e posteriores. Ignacio Ramonet falava no encerramento dos debates de «O Choque das Imagens», um dos segmentos da iniciativa «Como Salvar o Capitalismo», inserida no quarto e último ciclo da Odisseia nas Imagens, título genérico da programação do Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura. Constatando como «a lei» que vem desde a guerra do Vietname segundo a qual as guerras se ganham ou perdem, indissociavelmente, nas frentes militar e mediática, Ramonet explica essa dinâmica de desaire, antes de tudo, porque, neste caso e ao contrário do que se passou no Kosovo ou no Golfo, «a iniciativa da guerra mediática é detida pelos autores do atentado» que situaram o conflito no terreno dos «objectivos simbólicos». O que Bin Laden fez, antes de tudo, foi «impor aos media norte-americanos as imagens que ele deseja». A imagem do impacto dos aviões «contém todos os elementos hiperdesejados pelo sistema comunicacional e televisivo ocidental. É uma imagem tão forte que elimina o comentário, dispensa-o. O sistema mediático norte-americano sofreu com essas imagens um impacto tão poderoso, quanto o das torres gémeas com o embate dos aviões», analisou o director do «Le Monde Diplomatique» Ramonet observou criticamente as decisões «censórias à maneira totalitária» tomadas pela administração norte-americana, como a que interditou a difusão de imagens das vítimas. «Censurou-se o facto de que os corpos americanos pudessem ser vítimas dos atentados, numa tentativa de ocultar a fragilidade americana». Considerando «compreensível» esta política, Ignacio Ramonet analisa, todavia, que ela conferiu «a esse gigantesco crime uma aparência abstracta, desumanizada, comparável à imagem de um qualquer jogo de vídeo». Desta forma, prossegue Ramonet, o grande drama americano que podia ter suscitado, e a princípio suscitou a compaixão da opinião pública ocidental, tem visto esse sentimento vir a diluir-se. «Penso que esta ocultação das vítimas foi um erro. Aliás, um erro repetido», sustentou o comunicólogo francês, comparando a situação à ocorrida em 1941, quando os Estados Unidos proibiram a difusão de imagens de vítimas humanas do ataque japonês a Pearl Harbor, para só dois anos depois, em 1943, «com o objectivo de mobilizarem a sua opinião pública para o desembarque na Europa, autorizarem que elas fossem exibidas». Pelo contrário, os taliban, desde que começou a guerra, a 7 de Outubro, estão a mostrar as vítimas civis, através dos correspondentes e da cadeia Al Jazira, fazendo, assim, com que «uma imagem com duas ou três crianças mortas tenha tanta força como os cinco mil mortos invisíveis norte-americanos». Num outro registo, Ignacio Ramonet criticou a reacção informativa dos profissionais dos media norte-americanos após o 11 de Setembro, que classificou de abandono das regras jornalísticas que eles próprios criaram. «Todos os critérios do bom jornalismo moderno não estão a ser por eles aplicados. Demitiram-se colectivamente, numa autocensura generalizada, cujas excepções foram duramente sancionadas. O profissionalismo foi substituído, digamos, pelo patriotismo, gerando um discurso abolutamente unanimista em torno dos princípios da unidade nacional. Isto verificou-se e estendeu-se até pontos inimagináveis». Só agora, «um mês e meio depois», começam a evidenciar-se os primeiros sinais de retoma do sentido crítico, comentou o director do «Le Monde Diplomatique», sem deixar de assinalar como este facto suscitou a perplexidade e «uma imensa decepção dos profissionais europeus e internacionais do jornalismo».



ANEXO 3


11 de Setembro 2001. Fonte: Reuters

IGNÁCIO RAMONET NA ODISSEIA NAS IMAGENS (2)

«AL JAZIRA É UMA ESTAÇÃO MUITO RIGOROSA E MUITO PROFISSIONAL»


O director do «Le Monde Diplomatique» defendeu na quinta feira à noite, no Porto, que «a cadeia televisiva Al Jazira é uma estação muito séria, feita por jornalistas muito sérios, a maioria dos quais formada nas melhores escolas práticas do jornalismo ocidental». Ignacio Ramonet falava no encerramento dos debates de «O Choque das Imagens», um dos segmentos da iniciativa «Como Salvar o Capitalismo», inserida no quarto e último ciclo da Odisseia nas Imagens, título genérico da programação do Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura.


Depois de considerar que os Estados Unidos «estão a perder a guerra mediática», Ramonet analisou em profundidade múltiplos aspectos da «guerra de imagens» que corre em paralelo com as acções militares norte-americanas no Afeganistão e teceu críticas à política ocidental de restrição dos media.


Sobre a reacção dos poderes ocidentais ao trabalho da Al Jazira, o director do Diplomatique situou-a no campo das mentalidades. «Ao dizer que a estação era um instrumento ao serviço de Bin Laden, a administração norte-americana cometeu um erro evidente. Era falso. Aliás, começaram já a mudar de atitude» a este respeito. Mas, «por que cometeram este erro?», inquiriu Ramonet: «Porque apesar de ser uma cadeia muito rigorosa e muito profissional, a Al Jazira dá as suas notícias a partir de um ponto de vista árabe do problema. Reflecte-o, ainda que inconscientemente», respondeu.


E a administração norte-americana e a CNN «não aceitam isso, o que significa que para eles só o âmbito americano, ou ocidental é normal. Todos os que se situem fora desse âmbito, por mais rigoroso e profissional que seja, transformam-se num adversário do Ocidente», analisou o comunicólogo francês para sustentar como «isto nos dá bem a medida de até que ponto os meios de comunicação ocidentais estão imersos numa ideologia que não conseguem ver, a ideologia dos princípios e valores das sociedades a que pertencem». Trata-se de princípios e valores «respeitáveis, como respeitáveis são os princípios e valores do mundo árabe, sobretudo quando o trabalho se faz com qualidade e rigorosamente», apreciou o conferencista.


Mas é a partir desta atmosfera mental que os media norte-americanos aceitam que não se difunda as cassetes com declarações de Bin Laden, originando uma «tal intimidação que, por exemplo, a principal cadeia francesa de televisão omitiu as imagens da mais recente mensagem de Bin Laden, na linha justificativa de que pudessem existir mensagens ocultas dirigidas a comandos da organização Al Qaeda». Comparando com o seu último livro, «Propagandas Silenciosas», justamente sobre a subliminaridade das mensagens difundidas pela cinematografia e imagética televisiva norte-americana, Ignacio Ramonet ironizou dizendo que a administração norte-americana está a «dar um curso rápido de semiologia para mostrar como as imagens significam. Mas, só as de Bin Laden. Porque durante 50 anos esqueceram-se de dar qualquer lição semiológica sobre como funcionam o condicionamento e a manipulação dos espíritos a partir das telenovelas americanas, dos seus westerns e do seu cinema de terror, ou de catástrofe».


Ramonet traçou ainda um paralelo entre a «habilidade comunicacional de Bin Laden» e das suas mensagens «curtas, de três ou quatro minutos, muito simples e tecnicamente cuidadas», com as produzidas pelos iraquianos na Guerra do Golfo, fornecendo exemplos concretos «das desastrosas imagens produzidas pela máquina propagandística de Saddam Hussein» e que se viraram contra eles. O que parece, concluíu o director do «Le Monde Diplomatique», é que «os americanos ganharam brilhantemente a guerra mediática no Golfo mas, ao mesmo tempo, não perceberam por que a perdeu Saddam. E, essas, são duas coisas muito diferentes», disse.


ANEXO 4


Osama bin Laden. Fonte: Exame

IGNÁCIO RAMONET NA ODISSEIA NAS IMAGENS (3 - FIM)


GUERRA «LEGÍTIMA», SOCIEDADE «ORWELLIANA»

O director do «Le Monde Diplomatique» considerou na quinta feira à noite, no Porto, como «legítimo» o ataque dos Estados Unidos ao Afeganistão, «porque ao contrário do sucedido com o Golfo ou o Kosovo, esta guerra está autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU». Todavia, Ramonet não deixou de estabelecer à cabeça dos impactos negativos do 11 de Setembro, «a marginalização absoluta das Nações Unidas» que, ironizou, para «nos lembrarmos de que existem, tiveram de lhes atribuir o Nobel da Paz». Ignacio Ramonet falava no encerramento dos debates de «O Choque das Imagens», um dos segmentos da iniciativa «Como Salvar o Capitalismo», inserida no quarto e último ciclo da Odisseia nas Imagens, título genérico da programação do Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura.


O comunicólogo francês garantiu ainda que efectivamente «existem provas das ligações da Al Qaeda com os autores materiais dos atentados de 11 de Setembro», evidências que «os Estados Unidos exibiram sob a condição de confidencialidade», por razões operacionais, «aos aliados europeus e outros. Desta guerra podem dizer-se muitas coisas –acrescentou-, mas não que é ilegítima. Outro assunto é saber se os métodos que estão a ser utilizados são ou não os mais adequados. A mim não me parece que sejam». Além dos problemas geoestratégicos naquela região do mundo, derivados de uma eventual «desestabilização do Paquistão, posto o que o conflito pode atingir um patamar nuclear», Ignacio Ramonet lembrou uma dezena de fracassos recentes dos Estados Unidos na captura de individualidades non gratae. «Apenas tiveram êxito no caso de Noriega», ressalvou. Por isso, uma rápida captura de Bin Laden parece «fortemente improvável». Por outro lado, se o derrube do regime afegão parece mais viável, o director do «Le Monde Diplomatique» lembrou como «isso não significa o fim dos taliban, que passarão a um conflito de guerrilha» com consequências incalculáveis. «Esta guerra está a ser conduzida à beira do abismo», definiu.


Ignacio Ramonet sublinhou ainda, a propósito da advertência norte-americana de que a guerra contra o terrorismo pode arrastar-se por 50 anos, que uma tal orientação pode conduzir a «uma nova guerra fria». Algo «que pode transformar-se numa destruição sistemática das nossas liberdades. Podemos estar a criar uma sociedade orwelliana de controlo. Essa será mais uma das culpabilidades de Bin Laden», sustentou, ilustrando com a presente situação nos Estados Unidos: «apenas passou um mês e meio sobre os ataques e há 1200 presos incomunicados, sem notas de culpa, nada sabemos do que se passa com essas pessoas, ao mesmo tempo que alguns pedem já a legalização da tortura. Em tão pouco tempo atingiu-se uma situação extremamente preocupante», considerou.


Comentando os milhares de rumores que têm envolvido as acções militares e informativas, o académico francês considerou que eles constituem actos de resistência social. «Sempre que numa sociedade a informação é censurada, quando toda a informação provém do poder, a sociedade responde de duas maneiras: com o humor e com o rumor». Será precisamente o que está a passar-se, segundo Ramonet, para quem «apesar de muita, toda a informação é hoje a mesma. A sociedade está convencida de que a informação é manipulada. De que a informação não é um contrapoder, mas um poder tão repressivo quanto o poder político. É daí que surge e prolifera o rumor». Para ilustrar a fragilidade da democracia ocidental Ramonet agregou ainda a comparação entre a vitória eleitoral de Berlusconi e a recente eleição de Michael Bloomfeld para «mayor» de Nova Iorque: «dois milionários que se apoderam, compram, redes de comunicação e com estes elementos (dinheiro e habilidade comunicacional) conseguem quase automaticamente o poder político, sem que as forças políticas tradicionais possam opor-se-lhes, o que resulta na transformação das eleições, um momento capital da democracia, num mero protocolo».


Ramonet anunciou ainda o título do seu próximo livro: «As novas Guerras do Século XXI».


ANEXO 5


Fonte: DW

SELECÇÃO DE FOTOJORNALISMO MUNDIAL

EM EXPOSIÇÃO NA ODISSEIA NAS IMAGENS


Imagens do choque


Uma centena de fotografias galardoadas no Festival de Angers. Cem quadros de uma história de que todos fazemos parte, nem que, apenas, pela via do choque. Integrada no Ciclo Como Salvar o Capitalismo da Odisseia nas Imagens a selecção das melhores imagens de 15 anos de edições do «Festival International du SCOOP et du Journalisme» estará patente ao público entre 21 de Outubro e 12 de Novembro próximos, na Casa das Artes no Porto. Uma emoção perturbadora. Fragmentos da História de um tempo para o qual se anunciara, ironicamente, o fim da História.


A exposição insere-se nas iniciativas do primeiro Festival Internacional do Documentário e dos Novos Media do Porto, e transporta-nos da Praça Tian An Men ao martírio quotidiano da Argélia em 1997. Do muro de Berlim à fome na Somália ou no Sudão. Dos massacres no Ruanda aos bombardeamentos do Kosovo.

Na opinião do director do Festival de Angers, Alain Lebouc, para além do concurso anual reservado aos profissionais da informação audiovisual de todo o mundo, «o fundamental é o aspecto didáctico e pedagógico de que se reveste» uma realização deste tipo. «Sem um jornalismo livre não existem liberdade nem democracia. Mas esse jornalismo deve poder ser entendido por todos. Daí a necessidade de o explicar ao maior número possível de pessoas. Trata-se de um procedimento de cidadania», define Lebouc.


A selecção de imagens premiadas em Angers até ao ano 2000 foi apresentada nesse ano na Praça Tian An Men, nas instalações do palácio da Revolução, em Pequim, uma parceria com a agência noticiosa «Nova China». Depois disso, as imagens do chocante mundo em que nos coube viver têm sido exibidas em diversos países, chegando agora ao Porto, numa iniciativa do Departamento de Cinema, Audiovisual e Multimédia do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.

Através da mostra, «o público pode ficar a conhecer a actualidade mundial (...) uma espécie de “stop and go” que nos permite avaliar o estado em que se encontra a nossa sociedade: documentos frequentemente chocantes, por vezes difíceis, que são o reflexo da Humanidade. Um reflexo que nunca poderíamos obter sem os jornalistas», enaltecem os organizadores de Angers.


Anualmente, o festival de Angers, realizado sob a égide da UNESCO e do Centro Nacional de Recherches Scientifiques reúne mais de 40 mil visitantes, 10 mil dos quais participam nos debates, conferências e discussões abertas suscitadas pelas imagens expostas e a concurso. O Festival International du Scoop et du Journalisme tem como presidente honorário Edward Behr, da revista norte-americana «Newsweek». É o melhor e mais expressivo da sua história que agora nos é dado ver.


ANEXO 6



De: Departamento de Cinema e Audiovisual

Porto 2001 SA – Capital Europeia da Cultura


Aos professores e alunos

das cadeiras e cursos de artes


Está em curso, no âmbito do último módulo da «Odisseia nas Imagens», um ciclo de Instalações integrado na iniciatica «Outras Paisagens» no mundo do cinema, do audiovisual e da aplicação a este universo das novas possibilidades tecnológicas, designadamente da utilização pioneira da informática.


A invulgaridade e a extrema qualidade dos projectos em apresentação levaram-nos a pensar na sua rentabilização em termos de visitantes e da própria cidade Capital Europeia da Cultura. Sem excluir nenhuma categoria possível de públicos, pelas suas características, estes projectos adequam-se de forma particularmente perfeita a um público escolar, em especial das áreas artísticas. Quer no âmbito do Ensino Secundário, quer no âmbito do Superior nestas disciplinas.


Assim, informamos especificamente cada escola da realização destas Instalações e da possibilidade de as visitar gratuitamente, em grupo, convidando-vos a organizar um percurso pelo conjunto de todas ou de parte delas, durante todas as tardes a partir das 14 horas de segunda-feira, 29 de Outubro.


MOAGENS HARMONIA - instalação de Irit Batsry, «To Leave and to Take». Três toneladas de arroz distribuídas de acordo com o critério artístico da instalação pontificam entre um mundo de imagens gigantes, onde o espectador se perde. (Até 25 de Novembro)


ESPAÇO ARTES EM PARTES - «Zone», de Françoise Lavoie Pilote. Uma multiplicidade de estruturas sonoras e visuais servem de suporte à história de três gerações de mulheres da mesma família. Uma insólita viagem pela evolução dos valores, a perda das tradições, a influência das origens, a natureza e as suas marcas em nós. (Até 25 de Novembro)


MUSEU DE SERRALVES (Capela) - «Elle et la Voix», de Catherine Ikam e Louis-François Fléri. Em plena capela, o visitante torna-se interlocutor de uma entidade visual e sonora, virtual, que interage com e em função dele. (Entrada Gratuita, mas sujeita a marcação prévia. Contactar Serralves – Até 11 de Novembro)


MUSEU DE SERRALVES (Espaço multi-usos) - «Des Rives» de Yann Beauvais, um périplo singular por Nova Iorque, nas imagens e nos sons de uma concepção vanguardista. «Invisible Shape of Things Past», de Joachim Sauter, uma viagem através da arquitectura da informação, em torno do espaço e do tempo. (Entrada Gratuita, mas sujeita a marcação prévia. Contactar Serralves. Até 11 de Novembro)


MUSEU DE SERRALVES (Sala Pequena) - «Invisible Shape of Things Past», de Joachim Sauter, uma viagem através da arquitectura da informação, em torno do espaço e do tempo. (Entrada Gratuita, mas sujeita a marcação prévia. Contactar Serralves – Até 11 de Novembro)


«LABIRINTHO» -«Palavra Desordem», de Arnaldo Antunes (ex-Titãs). A galeria será seccionada em duas salas e um hall contaminados com palavras que se iluminan ou escondem, surgindo em ritmos e intensidades diferentes. Vozes que lêem colagens de textos e intervenções gráfico-poéticas rodearão o público. Um cerco obsidiante, que alastra das paredes ao chão e ao tecto. ( Só horário nocturno. Até 25 de Novembro)


Para esclarecimentos adicionais, consultar o site da Capital Europeia da Cultura ( HYPERLINK "http://www.porto2001.pt" http://www.porto2001.pt)


Esperando a V/a adesão a mais esta iniciativa a pensar na cidade e nos que a habitam, remetemos as melhores saudações.


Pelo Departamento de Cinema e Audiovisual da Porto 2001 SA



Porto, 24 de Outubro 2001



ANEXO 7



COMPETIÇÃO DE ESCOLAS ABRE COM 34 FILMES SELECCIONADOS

ODISSEIA NAS UNIVERSIDADES


De 13 a 17 de Novembro a Casa das Artes acolhe 35 filmes seleccionados para a competição de escolas da «Odisseia nas Imagens». Com sessões diárias às 18H30 e 22H00, o Festival de Competição de Escolas é produto de uma triagem de 80 películas submetidas a concurso pelos alunos de sete universidades do Porto e Santiago de Compostela, ao abrigo de protocolos celebrados entre a academia e o Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura.


Cursos de pós-graduação em documentarismo, curtas metragens e jornalismo televisivo foram, de resto, realizados a partir da programação de O Olhar de Ulisses e da restante programação da Odisseia nas Imagens.


No texto de apresentação da selecção de filmes, o júri começa por assinalar como «o número de trabalhos a concurso surpreendeu as expectativas mais optimistas»: 80 filmes apresentados, para uma contratualização inicial de 50. O júri destaca ainda o facto de todas as películas «terem qualidade broadcasting» com o inerente esforço de investimento sério em equipamentos que isso representou para as universidades envolvidas: Universidade Católica, Escola Superior de Jornalismo do Porto, Universidade do Minho, Faculdade de Belas Artes do Porto, Escola Superior Artística do Porto, Universidade Fernando Pessoa e Universidade de Santiago de Compostela.


Um protocolo entre a Sociedade Porto 2001 e a RTP salvaguarda a possibilidade de a televisão pública difundir algum dos trabalhos agora apresentados a concurso. A competição está estruturada em cinco modalidades. Documentário (nove filmes), Reportagem (9 filmes), Ficção (sete filmes), Experimental (sete filmes) e Animação (três filmes), no total de 35.


A escassez de filmes de animação foi considerada pelo júri como um dos factores menos positivos da iniciativa, dada a «forte tradição» existente nessa área na cidade e na região. No documento subscrito pelos jurados, Luís Miguel Duarte (presidente), Bernard Despomadères, Rodrigo Affreixo, Francisco Duarte Mangas e Regina Pessoa, considera-se que « se criaram algumas parcerias interessantes e instalou-se uma boa capacidade de produção. Parece aberto o caminho para a institucionalização deste Festival do Noroeste Peninsular, pressupondo sempre uma forte componente académica».


O júri destaca ainda na sua avaliação que se «os filmes experimentais são, globalmente, agradáveis surpresas», já as reportagens e os documentários, inversamente, ficam aquém do esperado», notando ainda os responsáveis pela pré-selecção alguma «debilidade dos argumentos, escassa qualidade narrativa e, talvez resultante das duas primeiras, uma fraca direcção de actores» no respeitante às ficções. Todavia, o júri sublinha «a extrema heterogeneidade do conjunto» dos trabalhos, que se em alguns casos constituem primeiras obras, noutros «são da autoria de profissionais».


Junta-se calendário completo da programação do Festival de Competição de Escolas "Odisseia nas Imagens" (Ver acima ata do Júri).



Atualizado: 20 de out. de 2023


Este texto e o próximo respeitam ainda ao módulo 4.0 da Odisseia nas Imagens intitulado Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens. Uma das características da Programação de Cinema, Audiovisual e Multimédia do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura foi a a diversidade sustentada pela qualidade das parcerias estabelecidas. Assegurar a participação e o envolvimento de estruturas fortemente enraizadas como os festivais de cinema, as universidades e outros estabelecimentos do ensino superior foi uma prioridade. Assim, a Odisseia nas Imagens apoiou e integrou múltiplas iniciativas de modo a construir um mosaico do qual fosse possível tirar partido de sinergias existentes.


Em 2001, o Cinanima organizado pela Cooperativa Nascente, de Espinho, comemorou o seu 25º aniversário. Concomitantemente, a Casa da Animação dava os seus primeiros passos. Daí a presença na fase final da Programação do Porto 2001 de um grande número de eventos ligados ao Cinema de Animação e aos seus autores. De igual modo, sendo esse um período coincidente com a abertura de um novo ano escolar, verificaram-se diversas acções de formação apoiadas pela Odisseia nas Imagens.


Pinocchio (1999) de Gianluigi Toccafondo.

Na próxima publicação, para concluir a parte dos módulos, far-se-á referência a O Choque das Imagens, outro segmento de Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens, bem como à vertente competitiva da Odisseia nas Imagens, quer a nível profissional, quer das escolas. Mais adiante, finalmente, dar-se-á conta da apreciação crítica então feita da Programação, designadamente quanto ao cinema documental que era um dos vectores fundamentais.


Os cinco anexos que aqui se juntam no final, todos da autoria de Rui Pereira, respeitam à comunicação, em conferência de imprensa, da totalidade dos eventos de Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens.


Retrospectiva de Mercedes Gaspar

Casa da Animação

De 8 a 12 de Outubro de 2001

Casa das Artes


Mercedes Gaspar: Licenciatura em Ciências da Informação (ramo de Imagem e Som), pela Universidade Complutense de Madrid; Licenciatura em Geografia e História, pela Universidad Nacional de Educacíon a Distancia (Espanha); Doutoramento em Imagem e Som, tese sobre “Outras técnicas de animação na década de 90 em Espanha”.

Outros estudos

Curso técnico, especialização em realização, pelo Instituto Oficial de Radio y Televisión.

Curso de dirección Escénica de Teatro, pela Real Escuela Superior de Arte Dramático.

Diploma em Solfejo e Piano, pelo Real Conservatorio de Música de Zaragoza.


Mercedes Gaspar. Fonte: Panorama Audiovisual

Filmografia (argumento e realização):


Su Primer Amor/ O Seu Primeiro Amor (1992, 15’, 35 mm)

Sabía que Vendrias/ Sabia que Virias (1992, 35 mm)

El Sueno de Adán/ O Sonho de Adão (1994, 8’, 35 mm)

Las Partes de Mí que Te Aman Son Seres Vacíos/ As Partes de Mim que te Amam São Seres Vazios (1995, 10’, 35 mm)

Escravos de Mi Poder/ Escravos do Meu Poder (1996, 10’, 35 mm)

El Sabor de la Comida de Lata/ O Sabor da Comida de Lata (1997, 6’, 35 mm)

El Derecho de las Patatas/ O Direito das Batatas (2001, 16’, 35 mm)


Workshop de Pixilação

De 8 a 12 de Outubro de 2001

Casa das Artes


Orientado por Mercedes Gaspar


1ª Parte – Introdução à Pixilação

Características gerais da técnica de pixilação. O que é a pixilação? Como se executa? Quais as possibilidades. Os ritmos. As velocidades.

Animação de pessoas, de objectos, questões aliadas ao decor, luzes e câmara.

Combinação da pixilação com outras técnicas de animação: marionetas, plasticina, fotografias e desenho.

Comentários sobre as curtas metragens realizadas pela autora, uma explanação plano a plano, revela-nos como foram realizados, que efeitos foram utilizados, sistemas de animação, entre outros.

Debate com os formandos.


2ª Parte – Desenvolvimento Prático

Criação de planos em pixilação e combinação com outras técnicas.

Organização de grupos de trabalho para a realização de pequenas animações: com pessoas e marionetas, objectos e fotografias.


El Sueño de Adán (1994) de Mercedes Gaspar

Mostra dos Filmes de Mercedes Gaspar

De 12 a 14 de Outubro de 2001

Casa das Artes


Filmes Apresentados:


Su Primer Amor / O Seu Primeiro Amor (1992)

El Sueno de Adán / O Sonho de Adão (1994)

Las Partes de Mí que Te Aman Son Seres Vacíos / As Partes de Mim que te Amam São Seres Vazios (1995)

Esclavos de Mi Poder / Escravos do Meu Poder (1996)

El Sabor de la Comida de Lata / O Sabor da Comida de Lata (1997)

El Derecho de las Patatas / O Direito das Batatas (2001)


Workshop Novas Tecnologias na Criação Audiovisual

De 8 a 12 Outubro de 2001

Escola Superior Artística do Porto

No âmbito do protocolo assinado com a ESAP – Escola Superior Artística do Porto


Conteúdo Programático:


As novas tecnologias e o Audiovisual

Organização da produção

Criação de grupos de trabalho

O guião

O “Shooting Script”

A utilização do chroma key

A rodagem

A Pós-produção


Formador:

Joe Davidow


Alletsator - XPTO Kosmos 2001

11 a 13 de Outubro de 2001

Teatro Helena Sá e Costa


Projecto externo apoiado


João Paulo Costa. Fonte. Agente a Norte

Dentro de uma concepção de teatro experimental, este espectáculo pretendeu levar à cena uma estética literária ainda pouco explorada entre nós, a literatura cibernética (textos gerados por computador) – o ciberteatro. A conjugação de sete áreas artísticas no mesmo espectáculo, a coordenação dessas áreas por um encenador - João Paulo Costa - que ao longo do seu trabalho tem demonstrado a preocupação em propor novas linguagens teatrais, e a maturidade do autor do texto – Pedro Barbosa - foram os factores que levaram a Odisseia nas Imagens a apoiar esta jovem companhia em conjunto com as áreas do PCL e AM.


Participantes:


Alexandra Macedo

Angela Lopes

Armindo Araújo

Carlos Sílva

Cláudia Sousa

Claúdia Teixeira

Elisabete Pinto

Eloy Monteiro

Fernanda Alves

Inês Lamares

Isabel Queirós

Joana Pinho

João Lisboa

João Paulo Costa

João Paulo Fernandes

Leonor Afonso

Luís Baptista

Margarida Videira

Marina Freitas

Mário Loureiro

Miguel Pinheiro

Nuno Lucena

Pedro Almendra

Pedro Barbosa

Renato Seixas

Ricardo Santos

Sílvia Correia

Sílvia Marques

Sónia Correia

Sony

Tiago Oliveira

Virgílio Melo



Andrzej Kowalski. Fonte: LP - Ler o Mundo em Português


Workshop Produção de Documentários em África

De 5 a 7 de Novembro de 2001

Escola Superior Artística do Porto

No âmbito do protocolo assinado com a ESAP – Escola Superior Artística do Porto


Formador:

Andrzej Kowalski


Cinanima

De 5 a 11 de Novembro de 2001

Centro Multimeios de Espinho


No âmbito do protocolo assinado com o Cinanima


O Cinanima - Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho é o único festival do género em Portugal. Ao longo dos anos foi criando um público fiel e dando a conhecer o que de melhor se faz por todo o mundo. É reconhecido como um dos grandes festivais do cinema de animação, tanto pelos profissionais, quanto pelas mais altas instâncias europeias e norte-americanas apoiantes da produção e difusão internacional de cinema de animação. No ano em que comemorou 20 anos, o Cinanima promoveu no âmbito da Odisseia nas Imagens dois programas: "O Cinema de Animação e a Música" e "O cinema de Animação e a Pintura". Aí se fez o retrato de grandes pintores e músicos por criadores de craveira internacional. Raoul Servais, o mestre belga da animação, a quem se chama "O Cineasta Pintor", foi uma das presenças. A Sociedade PORTO 2001 S.A. apoiou ainda a edição em CD-ROM da História da Animação em Portugal, no âmbito das comemorações dos 25 anos do Cinanima e atribuiu o Prémio Porto 2001 para o melhor filme de animação português em competição na 25ª edição do festival.


O Cinanima no Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura


25 Anos A Fazer Ver O Que Deve Ser Claramente Visto


O Cinema de Animação merece um pouco por todo o lado uma atenção crescente de quantos se ocupam da arte das imagens em movimento. Esse interesse tem em Portugal alguns rostos responsáveis, gente e instituições cuja actividade feita de amor e paixão, de bonomia e perseverança, contribuiu de forma decisiva para que hoje se possa falar de um trabalho de criação que reflecte uma particular visão do mundo em português, projectando positivamente a imagem do País além fronteiras onde, de resto, conhece uma notoriedade, infelizmente, ainda sem equivalência no plano nacional. Males antigos dir-se-á, que tanto resultam da permeabilidade ao discurso dominante do imediatismo, quanto de uma incapacidade peculiar de atribuir às coisas o lugar certo no momento certo e, como tal, de promover a lógica estruturante que sabe distinguir o nuclear do acessório. Destes males não pode ser acusado o Cinanima. Pelo contrário.


Na verdade, quando há vinte e cinco anos se lançou o Festival, muito mais do que o exercício lúdico que também foi essa iniciativa havia nos promotores uma enraizada ideia de contemporaneidade atenta a formas de dizer até então se não proscritas pelo menos silenciadas ou limitadas a uma circulação restrita e marginal. A Banda Desenhada ou o Cinema de Animação, por exemplo, ocupavam um território relativamente desqualificado ou, na melhor das hipóteses, confinado a um público infanto-juvenil considerado o destinatário natural de bens simbólicos supostamente mais acessíveis do ponto de vista da significação e elaboração artísticas. Mesmo à esquerda, entendida enquanto espaço de progresso e liberdade por oposição ao conservadorismo da direita, durante muito tempo prevaleceram concepções autorais radicadas em modelos do século XIX, cujas consequências resultaram em conclusões apressadas e, como tal, inadequadas ao ritmo e à compreensão das dinâmicas criativas emergentes. Basta recordar a frequência com que a BD ou a Animação foram sumariamente remetidas para a chamada cultura de massas e, por essa via, imediatamente desqualificadas.


Foi necessário um sobressalto democrático, que foi também um agitador no plano da criação artística, para que a situação evoluísse numa outra direcção. Esse sobressalto foi, evidentemente, a Revolução de Abril de 1974. O Cinanima também é, em larga medida, tributário desse acontecimento. Recordo-me do entusiasmo com que pioneiros como Vasco Granja e António Gaio, entre outros, se entregavam à tarefa de fazer crescer uma arte que há muito os seduzia e que, nessa altura, muito por mérito deles próprios, se encontrava numa fase explosiva de divulgação, afirmação e legitimação. Recordo-me dos jovens que acorriam a Espinho imbuídos de um forte espírito de descoberta e de quem o Cinanima viria a fazer notáveis criadores. Era e é, esse, afinal, o papel dos festivais: juntar as pessoas, estimular a imaginação, promover novos desafios, contribuir para orientar quer a produção, quer as políticas sectoriais do audiovisual sem as quais um pequeno país como Portugal corre o risco de sucumbir perante os grandes produtores globais.


António Gaio. Fonte: Museu Municipal de Espinho

O Cinanima está de parabéns. Se todo o seu percurso fazia dele à partida um dos parceiros estratégicos da Odisseia nas Imagens do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, integrando nomeadamente a sua Programação Oficial, os factos subsequentes só vieram confirmar a bondade das opções então tomadas. Na verdade, o Cinanima comemora os seus 25 anos exactamente no ano em que o Porto vai assistir à inauguração da sua Casa da Animação. E, em rigor, o percurso da Casa da Animação não principiou no momento em que a Filmógrafo apresentou o seu projecto à Sociedade Porto 2001, antes remonta ao tempo, há 25 anos, em que o seu principal animador, Abi Feijó, começou a frequentar o Cinanima. É esta função estruturante, feita de tempo e paciência, fazendo ver o que deve ser claramente visto, que releva a importância de um festival. Hoje pode afirmar-se sem receio de desmentido que o Cinanima é o grande responsável pelo salto em frente dado pelo Cinema português de Animação, atestado por um número invulgar de prémios e distinções atribuídos um pouco por todo o mundo. Parabéns, pois, para o Cinanima.


Mas as felicitações devem ser extensivas à cidade de Espinho. Se é certo que o festival contribui para colocá-la no mapa dos eventos culturais europeus, não é menos verdade que, ao dar o seu apoio ao Cinanima da forma como o tem feito, Espinho reforça o papel inovador e pioneiro de ter sido uma das primeiras, se não a primeira cidade portuguesa a compreender o papel e a importância de iniciativas cujas consequências repercutem em profundidade em áreas vitais para a cultura e a identidade de um País, como é o caso do Audiovisual.

Jorge Campos



Lançamento do Livro A História do Cinema de Animação em Portugal

10 de Novembro de 2001

Centro Multimeios de Espinho


Participantes:

António Gaio

Rui Zink

Jorge Campos



Lançamento do CD-ROM A História do Cinema de Animação em Portugal

22 de Dezembro de 2001

Casa das Artes


Participantes:

António Gaio

Jorge Campos


Simpósio Arte & Animação

Casa da Animação

De 15 Novembro a 10 Dezembro de 2001

Casa das Artes e Rivoli Teatro Municipal

Evento comissariado por Jayne Pilling.


Muitas vezes se tem dito que a Animação é a combinação das outras Artes, o casamento da Imagem – Desenho, Pintura, Fotografia, entre outras– com o Som – Música, Voz ou Efeitos – sob a forma de representação dramática.


Este Simpósio pretendeu evidenciar as fascinantes pontes que se podem estabelecer entre a Animação e as outras formas de Arte – através de uma mostra de Curtas Metragens de Animação (que espelham esta realidade), uma Exposição e um Simpósio Internacional no qual Críticos e Teóricos da Arte e do Cinema, Artistas e Realizadores foram convidados a apresentar e debater os seus trabalhos dentro deste contexto, envolvendo e dialogando com a audiência.


Jayne Pilling. Fonte: Animation World Network

Exposição

De 15 de Novembro a 10 de Dezembro de 2001

Casa das Artes


A maior parte dos Realizadores de Animação tem uma formação em Belas Artes e é evidente o prazer e entusiasmo que sentem por dar vida às imagens. Aliás, entre a Animação e a Arte Moderna existiu sempre uma relação de intimidade, tanto em termos históricos como contemporâneos. Nesta exposição estiveram presentes obras de Lejf Marcussen, Florence Miailhe, Erica Russell, Gianluigi Toccafondo, e um ensaio fotográfico sobre Alexandre Alexeieff.


Performances

Dia 22, 23 e 24 de Novembro de 2001

Casa das Artes e Rivoli Teatro Municipal – Café Concerto


Muitos Animadores e Realizadores acabaram por se envolver com outras formas de Arte, elevando o cinema de animação a novas dimensões: Pierre Hébert improvisou um filme de animação gravando directamente na película, contando com a colaboração de Carlos Bica, músico de jazz Português; a animadora que se tornou bailarina, Kathy Rose, desenvolveu alguns excertos das suas coreografias interagindo com projecções dos seus filmes de animação; Paul de Nooijer, um aclamado fotógrafo Holandês, e Menno de Nooijer (seu filho), que passaram da imagem fixa para as imagens em movimento e realizam filmes e em conjunto, fizeram um espectáculo de artes performativas.


Ciclo de Conferências

De 22 a 24 de Novembro de 2001

Casa das Artes


Regina Pessoa. Fonte Notícias U.Porto

Ao longo das conferências foram debatidos os trabalhos em exposição, bem como as performances, incluindo ainda apresentações de Críticos e Teóricos da Arte e do Cinema sobre as noções de Performance, Animação, Pré-História do Cinema; as relações entre a Escultura, o Espaço Tridimensional e a Animação; noções de Arte Absoluta; Fotografia, Dança e Movimento; Surrealismo; Linha, Cor e Forma na Arte e na Animação. Para apresentar e discutir estes assuntos estiveram presentes: Marina Estela Graça, Portugal (Professora na Universidade do Algarve, escreve sobre a Estética da Animação e acaba de realizar o seu primeiro filme de Animação: Interstícios), Pierre Hébert, Canadá (Realizador e um fascinante Pensador e Teórico da Animação), Solveig von Kleist, Alemanha (Realizadora, Pintora), Paul & Menno de Nooijer, Holanda (Paul é um Fotógrafo reconhecido internacionalmente que evoluiu de um trabalho comercial para uma forma extremamente pessoal de realização e que agora trabalha muitas vezes em colaboração com o seu filho Menno), Lejf Marcussen, Dinamarca (Realizador), Florence Miailhe, França (Realizadora, chegou à Animação a partir do seu trabalho de Pintura), Mike O’Pray, Reino Unido (Crítico, escreve sobre Arte, Cinema e História), Regina Pessoa, Portugal (Realizadora), Pedro Serrazina, Portugal (Realizador e Professor), José Miguel Ribeiro, Portugal (Realizador), Kathy Rose, EUA (Coreógrafa, Bailarina e Realizadora); Erica Russell, Reino Unido (Realizadora), Dominique Willoughby, França (Realizador e Professor), Kirsten Winter, Alemanha (Realizadora, Professora no Colégio Superior de Educação de Hanover).


Solveig Von Kleist. Fonte: Nantes Maville
José Miguel Ribeiro. Fonte: Mubi
Florence Miailhe. Fonte: Festival d’Annecy

Workshop de Pintura Animada

De 26 a 30 de Novembro de 2001

Casa Tait


Para além de participar nas apresentações do simpósio e de expor as suas obras, Florence Miailhe orientou ainda um workshop sobre a técnica que tem desenvolvido nos seus filmes – a Pintura a pastel animada directamente sob a câmara. Este workshop, de 40 horas, dirigiu-se essencialmente a Animadores e a estudantes das Escolas de Arte, Audiovisuais e Tecnologias da Comunicação com conhecimentos ao nível da Animação. As inscrições foram limitadas a doze participantes.


Mostra de Curtas Metragens de Animação

De 19 Novembro a 2 de Dezembro de 2001

Casa das Artes


Filmes Apresentados:


I. Programa Dança

Norman McLaren disse um dia “A coisa mais importante no Cinema de Animação é o Movimento. Não importa se estamos a mexer pessoas ou desenhos e também não importa de que forma o estamos a fazer, é sempre uma forma de Dança”.


Filmes e técnicas de animação inspirados ou representando a Dança.


Pas de Deux (1968) de Norman McLaren

Subida, de Kunyi Chen

Ere Méla Méla, de Daniel Wiroth

Belize Tropicana, de Sue Young

Bolero, de Mario Cavalli

Joie de Vivre, de Hoppin & Gross

La Pista, de Gianluigi Toccafondo & Simona Mulazzani

Pas de Deux, de Norman McLaren

Feet of Song, de Erica Russell

Au Premier Dimanche d’Août, de Florence Miailhe

Triangle, de Erica Russell


II. Programa Reconheces esta Imagem? Arte & Animação


Conjunto de filmes relacionados, mais ou menos directamente, com as correntes artísticas, momentos e acontecimentos da História da Arte e com a Iconografia Histórica, tais como a Anunciação e a Natividade.


Leonardo’s Diary (1972) de Jan Svankmajer

Heavy Stock, de Michael Slackened

The Public Voice, de Lejf Marcussen

The Secret Joy of Falling Angels, de Simon Pummell

Still Life With Small Cup, de Paul Bush

Leonardo’s Diary, de Jan Svankmajer

The Nativity, de Mikhail Aldashin

Dimensions of Dialogue, de Jan Svankmajer

III. Programa Música


Norman Mclaren disse um dia que se alguém fosse sensível à música e também tivesse talento artístico era mais do provável que viesse a interessar-se pela Animação.


Esta selecção ecléctica de filmes mostrou diversas experiências desde a “música visual” e a abstracção ao mais tradicional dos desenhos animados, incluindo a colaboração de McLaren com o músico de jazz Oscar Peterson.


Begone Dull Care (1950) de Norman McLaren/Evelyn Lambart

Lederkonkurrenz, de Lejf Marcussen

Tonespor, de Lejf Marcussen

Do Nothing Till You Hear From Me, de Pernilla Hindesfelt & Jonas Dahlbeck

Seaside Woman, de Oscar Grillo

Impromptu in a Minor, de Andrew Higgins

Slapstick, de Clive Walley

Amore Baciame, de Oliver Harrison

Winds and Changes, de Clive Walley

Nuit sur le Mont-Chauve, de Alexandre Alexeieff & Claire Parker

Mondlicht, de Barbel Neubauer

Clocks, de Kirstin Winters

Feurhaus, de Barbel Neubauer

Begone Dull Care, de Norman McLaren/Evelyn Lambart

My Babe Just Cares for Me, de Peter Lord


IV. Programa Linha, Pintura e Câmara


Um programa de filmes representando os aspectos gráficos da linha, pintura, pintura baseada em imagens reais manipuladas, pixilação e fotografias, trabalhos a pastel e lápis animados directamente sob a câmara.


Le Criminel (1993) de Gianluigi Toccafondo

Décadrages, de Vincent Brigode

The Cow, de Alexandre Petrov

Stressed, de Karen Kelly

Pinocchio, de Gianluigi Toccafondo

At One View, de Paul de Nooijer

Hammam, de Florence Miailhe

L’Année du Daim, de Georges Schwitzgebel

Le Criminel, de Gianluigi Toccafondo

Die Kreuzung, de Raimund Krumme


V. Programa Juvenil


Um programa organizado a pensar numa audiência infantil, dedicado especialmente às escolas. Filmes sem diálogos escolhidos dentro de todos os programas deste simpósio (Dança; Arte & Animação; Música; Linha, Pintura e Câmara).


.Au Premier Dimanche d’août (2000) de Florence Miailhe

La Pista, de Gianluigi Toccafondo & Simona Mulazzani

Au Premier Dimanche d’août, de Florence Miailhe

Do nothing til you hear from me, de Pernilla Hindesfelt & Jonas Dahlbeck

L’Année du Daim, de Georges Schwitzgebel

Subida, de Kunyi Chen

The Nativity, de Mikhail Aldashin

Die Kreuzung, de Raimund Krumme


Programa Itinerante

Compilação de oito curtas metragens de animação para itinerância durante dois anos pelo país.


At One View (1989) de Paul de Nooijer

Nuit sur le Mont-Chauve, de Alexandre Alexeieff & Claire Parker

Triangle, de Erica Russell

Die Kreuzung, de Raimund Krumme

L’Année du Daim, de Georges Schwitzgebel

Pinocchio, de Gianluigi Toccafondo

At One View, de Paul de Nooijer

Hammam, de Florence Miailhe

Still Life With Small Cup, de Paul Bush


Participantes:


Jayne Pilling

Marina Estela Graça

Pierre Hébert

Carlos Bica

Solveig von Kleist

Paul de Nooijer

Menno de Nooijer

Lejf Marcussen

Florence Miailhe

Mike O’Pray

Regina Pessoa

Pedro Serrazina

José Miguel Ribeiro

Kathy Rose

Erica Russell

Dominique Willoughby

Kirsten Winter


Workshop Problemas de Direito de Autor na Europa Comunitária

De 26 a 29 Novembro de 2001

Escola Superior Artística do Porto

No âmbito do protocolo assinado com a ESAP – Escola Superior Artística do Porto


Conteúdo Programático:


A obra Audiovisual como obra protegida pela Legislação de Propriedade Intelectual;

Os Autores;

A Empresa de Produção;

O Produtor Audiovisual;

Os Actores e Interpretes;

Teoria geral dos Contratos.


Formador:

Cayetana Mulero


Workshop O Som para Cinema e Audiovisual

De 3 a 7 de Dezembro de 2001

Escola Superior Artística do Porto

No âmbito do protocolo assinado com a ESAP – Escola Superior Artística do Porto


Formador:

Bento Galante


Lançamento do Site Memórias do Trabalho

Projecto aprovado articulado com o Museu da Pessoa.

Universidade Popular do Porto

15 de Dezembro de 2001


Pós-Graduação Documentário: o Desafio do Real

Ano Lectivo 2001/2000

Faculdade de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto


Na sequência da oferta da Licenciatura em Jornalismo e Ciências da Comunicação a Universidade do Porto cria uma pós-graduação na área da Comunicação Audiovisual – Curso de Pós-Graduação Documentário: o desafio do real.


O novo curso tem como base o protocolo assinado pelas Faculdades de Letras, Engenharia, Belas-Artes e Economia e pretende articular uma formação em Ciências, Ciências Sociais, Ciências da Comunicação com uma formação tecnológica e artística. Propõe uma abordagem interdisciplinar com contributos das Ciências Sociais e da Comunicação, da Engenharia, das Ciências Exactas e das Artes. Desenvolve, também, parcerias com universidades estrangeiras, nomeadamente com a Universidade de Santiago de Compostela.


O Curso de Pós-Graduação O Documentário: o Desafio do Real é promovido pelo Curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação. Tem como principal objectivo a criação de uma especialização no documentário, uma modalidade discursiva em crescimento exponencial que urge promover em Portugal tendo em vista a sua projecção e visibilidade enquanto país produtor de bens simbólicos. Em função da segmentação televisiva, com a multiplicação de canais temáticos e especializados, o documentário, desde que corresponda a critérios de excelência do discurso, é um género que para além de viajar bem pode ser produzido com meios relativamente reduzidos, nomeadamente a partir de unidades de produção instaladas nas próprias universidades.


A Pós–Graduação associa uma componente teórica de reflexão analítica e crítica que interpela a sociedade, numa perspectiva sincrónica e diacrónica, apontando para a elaboração de projectos posteriormente disponíveis para concurso em termos da obtenção de financiamentos que possibilitem a sua concretização.


Objectivos do curso


Pensar o documentário

Fazer o documentário

Distribuir / Exibir o documentário


Componente teórica


História e Teoria do Documentário

45 horas / 3UC-12ECTS

Guião e Realização

30 horas / 2 C-8ECTS.

Produção

30 horas / 2 C-8ECTS.


Componente teórico prática


Odisseia nas Imagens

110 Horas / 5UC-20ECTS

Distribuição, Exibição e Direitos de Autor

22 Horas / 1 C-4ECTS


Muhammad Ali, The Greatest (1969) de William Klein

Odisseia nas Imagens


A componente teórico prática está articulada em torno do Festival Odisseia nas Imagens. Uma vez que nele participam alguns dos maiores especialistas da actualidade, ao mesmo tempo que se perspectiva a exibição de um notável conjunto de filmes documentais, o curso beneficia desta conjuntura excepcional e integra uma parte significativa do Festival. Fazem assim parte desta componente, nomeadamente: Retrospectiva de cinema documental e exposições de fotografia de William Klein, bem como a sua masterclass. Klein é não só um dos maiores fotógrafos do mundo, mas também um documentarista autor de vários filmes de culto como Muhamad Ali, the Greatest e Hollywood, a Loosers’ Opera. Masterclasses, entre outros, de: Nina Rosenblum, uma das grandes cineastas da América que projectará alguns dos seus principais filmes, nomeadamente o premiado Through the Wire; Javier Rioyo, um dos mais importantes documentaristas espanhóis cujo filme Asaltar los Cielos tem sido aclamado em todo o mundo; Brian Winston, jornalista, documentarista e professor universitário, um dos especialistas mais controversos da área do Cinema Documental, autor de diversas obras entra as quais Media: History and Technology considerado o melhor livro nos Estados Unidos em 1999; Albert Maysles, talvez a figura mais representativa do Cinema Directo e autor de documentários sobre numerosos artistas da Pop Rock, nomeadamente os Beatles e os Rolling Stones; Llorenç Soler, documentarista e professor universitário autor de uma vastíssima bibliografia no campo dos media e autor de filmes como Um Repórter no Inferno. A par das masterclasses, faz igualmente parte do curso o visionamento e análise de dezenas de obras, em rigor alguns dos melhores filmes alguma vez feitos. Assim, no sector competitivo do Festival estão a concurso a maioria dos filmes aos quais foram atribuídos grandes prémios nos principais festivais internacionais dos anos 2000/2001 o que dá uma visão global ímpar da melhor produção da actualidade. O ciclo O Olhar de Ulisses, por outro lado, proporciona o acesso aos grandes clássicos em sessões comentadas por realizadores, especialistas e críticos como José Manuel Costa, Gérard Collas, Olivier Smoulders, Pedro Costa, etc. Há ainda toda um segmento multimédia, onde se questionam as novas linguagens, bem como experiências relacionadas com a música e cinema no quadro de filmes-concerto e fórums para discussão sobre a centralidade da imagem no mundo contemporâneo e sobre a situação do documentário em todo o mundo. Toda esta componente será tutorada e objecto de avaliação. O calendário com as actividades elencadas no âmbito da Odisseia nas Imagens será atempadamente disponibilizado. Em todo o caso, este módulo tem carácter intensivo e implica disponibilidade de tempo no período compreendido entre 21 de Outubro e 3 de Novembro.


Os irmãos Maysles durante a rodagem de Gimme Shelter (1970)

Condições de abertura do Curso:


Número mínimo de candidatos inscritos: 20

Número máximo de candidatos admitidos: 25


Condições de acesso ao Curso:


Licenciados ou com habilitação legalmente equivalente; profissionais mediante a apresentação de currículo; estudantes finalistas de cursos de Jornalismo, Cinema e de Imagem e Som.


Critérios de Selecção:

Currículo Profissional

Currículo Académico

Currículo Científico

Entrevista


Duração 1 Semestre

Início previsto 19 de Outubro de 2001


Horário:

Intensivo e de ocupação integral de 19 de Outubro a 4 de Novembro. Pós-laboral centrado em dois ou três dias da semana, incluindo o Sábado, a partir de 5 de Novembro.


Local de funcionamento:

Odisseia nas Imagens (vários espaços da Programação)

Escola Superior de Jornalismo

Av. da Boavista 3067

4100 -136 Porto

Telefone 226172136 / 226172238

Fax 226103897

Informações, inscrições e candidatura:

Prazo de Candidatura: 15 Setembro a 15 de Outubro de 2001

Secretariado das Pós-graduações

Escola Superior de Jornalismo

Av. da Boavista 3067

4100 - 136 Porto

Telefone 226172136 / 226172238

Fax 226103897


Selecção dos candidatos:

6 – 13 de Outubro

Publicação dos resultados

14 de Outubro


Matrícula:

15 a 18 de Outubro de 2001

Serviços Académicos da FLUP – Pós-Graduações

Via Panorâmica s/n - 4100 Porto

D. Maria José Ferreira

Telefone 22607715

flsa@letras.up.pt



Seminário O Documentário

Ano Lectivo de 2001/2002

Curso de Imagem e Som da Universidade Católica Portuguesa do Porto


Em função da programação da Odisseia nas Imagens foi organizado, integrado no plano curricular do Curso de Imagem e Som da Universidade Católica do Porto, um seminário durante o qual se discutiram as vias do documentário, bem como a possibilidade da sua produção na cidade do Porto.

Orientação: Jorge Campos


(Continua)




ANEXO I


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (1)


«Cinema de grande qualidade e de grande espectáculo», foram as palavras utilizadas por Jorge Campos e Dario Oliveira, responsáveis pelo Departamento de Cinema e Audiovisuais da Sociedade Porto 2001 S.A. – Capital Europeia da Cultura, para definir o quarto e derradeiro módulo da «Odisseia nas Imagens» que no sábado tem início no Porto.


A iniciativa decorrerá em simultâneo distribuída por 16 espaços diferentes da cidade e constitui o «mais inovador festival» do seu género jamais realizado no nosso país. «Recomendamos que tirem férias durante duas semanas para poderem dedicar-se à Odisseia nas Imagens», disse Dario Oliveira, para sublinhar como o público estará perante «uma selecção única no primeiro festival organizado em Portugal que concentra e distribui de um modo racional um olhar sobre aquilo que é hoje em dia o panorama do audiovisual europeu e não só».


O festival será aberto pela performance de DJ Spooky «Birth of a Nation» inserida no ciclo «Como Salvar o Capitalismo» uma designação «irónica, provocatória e que resume o objectivo de reflectir como perante a aparente derrocada do mundo tal como o fomos conhecendo ao longo do último século, apenas parece restar uma coisa, o capitalismo», disse Jorge Campos. A actuação de DJ Spooky está prevista para a noite de sábado para domingo (20 para 21 de Outubro) pelas 24 horas no «Espaço Odisseia Media Lounge», na Rua Capitão Romero, nº 1, ao lado Museu do Carro Eléctrico.


O encerramento protocolar consistirá na imposição de uma Comenda à actriz Claudia Cardinale pelo Presidente da República. A sessão decorrerá na noite de 2 de Novembro, no Grande Auditório do Teatro Rivoli, onde será igualmente projectado «O Leopardo» de Visconti, considerado por Jorge Sampaio como o filme da sua vida.


Entre os participantes contar-se-ão ao longo do evento, para além da actriz italiana, diversas personalidades nacionais e estrangeiras ligadas ao cinema, mas não só. Durante as duas semanas da sua duração, estarão na «Odisseia nas Imagens 4.0» o fotógrafo e cineasta William Klein, (a quem é dedicada uma retrospectiva da sua obra de documentário), bem como o documentarista e analista dos media Brian Winston, ou ainda nomes relevantes do panorama cinematográfico e documentarístico internacional como Amir Labaki, Nina Rosenblum, Javier Rioyo, Llorenç Soller, Irit Batsry ou Joachim Sauter.


Presente para uma conferência intitulada «Propagandas Silenciosas» estará também o director do «Le Monde Diplomatique», Ignacio Ramonet. A sua participação inscreve-se no bloco intitulado «O Choque das Imagens», durante o qual serão projectados quatro documentários de grande impacto, «Turbulences» e «L’ Âge de la Performance» de Carole Poliquin e «Koyaanisqatsi» e «Powaqqatsy» de Godfrey Reggio.


O festival associa a exibição e o debate dos «caminhos do futuro do cinema com a noção do cinema de autor». A organização sublinha, neste último registo , a apresentação de «numerosos filmes de grande qualidade», desginadamente os integrados no quarto e último andamento de «O Olhar de Ulisses», intitulado «Resistência». A designação decorre do conceito central que preside à selecção de alguns dos grandes filmes da história do cinema, a saber, a ideia de reconstituir redes de relação e leitura entre os filmes de referência e as obras contemporâneas «que teimam em respeitar quem as vê». Fellini, Godard, Kurosawa, Boris Barnet, Nicholas Ray, Robert Bresson, ou os portugueses Pedro Costa e João César Monteiro, incluem-se entre os realizadores seleccionados para este ciclo realizado em contraciclo relativamente ao cinema dominante que desenvolveu a tendência para se tornar num jogo de vídeo, com o “visual” a tomar o lugar da “imagem”», segundo os seus organizadores.


My Generation (2000) de Barbara Kopple

ANEXO 2


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (2)


Explorar os limites do documentário é um dos objectivos da competição do I Festival do Documentário e Novos Media do Porto, uma das iniciativas do quarto e último bloco da «Odisseia nas Imagens» esta manhã apresentado oficialmente em conferência de imprensa pelos responsáveis pelo Departamento de Cinema e Audiovisuais da Sociedade Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.


Jorge Campos, responsável pela estrutura da programação, inscreveu o Festival e a sua secção competitiva no âmbito das «opções estratégicas» da Porto 2001 nesta área: «o documentário, o cinema de animação e as curtas metragens», salientando-se, nesta primeira edição, a «massiva inscrição de filmes portugueses».


Também a competição dedicada às escolas e resultante da colaboração iniciada há dois anos com instituições universitárias da cidade e da Galiza, no âmbito da «Odisseia nas Imagens», produziu resultados assinaláveis, com a afluência de mais de 80 obras, para um total inicialmente previsto de apenas 50. Estes originais encontram-se, neste momento, em fase de pré-selecção.


A competição profissional é aberta por «The Sea that Thinks», de Gert de Graaff, um documentário holandês recém-galardoado em Amesterdão com o Grande Prémio daquele que é provavelmente o mais importante festival dedicado ao documentário em todo o mundo. A par de grandes nomes do documentário internacional como Sokurov, Barbara Kopple, Chris Hegedus ou Gianikian / Ricci-Lucchi, assinalam os organizadores, será possível «partir à descoberta de autores nacionais e estrangeiros cujas primeiras obras criam fundadas expectativas.


Múltiplos temas serão equacionados pelos filmes em concurso, desde o estereótipo do negro nas telenovelas brasileiras, com «A Negação do Brasil», de Joel Zito Araújo, até «The Last Yugoslavian Football Team», de Vuk Janic,«uma metáfora da desagregação deste país» balcânico, passando por olhares à margem dos estereótipos predominantes sobre a História Contemporânea, como o lançado pelo documentarista espanhol Javier Rioyo, com «Extranjeros de Si Mismos».


Destacados na conferência de imprensa de hoje, dois outros filmes ilustram a qualidade e a diversidade do certame: «My Generation» de Barbara Kopple, cineasta dos Estados Unidos, considerada como uma das grandes documentaristas do nosso tempo, que nos revela, através das três edições do mítico festival de música de Woodstock , um «retrato negro e impiedoso da cultura norte americana dos últimos 40 anos»; e «Startup.com», de Chris Hegedus e Jeane Noujain, um filme que reflecte a revolução empresarial na Internet, num cenário bem mais perturbador do que aquele que os mais optimistas poderiam supor.


Num Festival «que se pretende do noroeste da Península Ibérica», apontou Jorge Campos, «é natural que exista uma grande presença portuguesa e espanhola». Esta primeira edição deve, aliás, estruturar os conteúdos futuros do Festival. E a sua importância reside no facto de «por toda a União Europeia, os festivais serem actualmente algo de estruturante na definição da política audiovisual». Pelo que os conteúdos do certame são encarados não apenas pelo seu valor facial de exibição nesta primeira edição, mas também pelo peso que irão ter na definição do que poderá vir a ser a produção cinematográfica nas áreas do documentário e da curta metragem da região norte de Portugal e da Península.


Pedro Costa, Inês de Medeiros (com a estreia absoluta do seu ««O Fato Completo, ou à Procura de Alberto»), Regina Guimarães e Saguenail, Catarina Alves Costa, Susana Sousa Dias e José Filipe Costa, são cineastas portugueses representados num festival presidido por um júri internacional de grande prestígio, constituído por Nina Rosenblum (EUA), Diego Mas Trelles (Argentina) e Amir Labaki (Brasil). A competição decorre no auditório da Casa das Artes, entre 26 de Outubro e 2 de Novembro.


Legenda. Irit Batsry. Fonte: Alchetron

ANEXO 3


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (3)


Um dos pontos fortes da «Odisseia nas Imagens 4.0», último módulo da programação de cinema e audiovisual da Sociedade Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, consiste na prospecção dos caminhos do futuro do cinema. A esta vertente é dedicado um conjunto de iniciativas agrupadas sob a designação genérica de «Outras Paisagens» onde «se mostrarão coisas arredadas do conceito normal de Festival de cinema», conforme definiu Dario Oliveira, um dos responsáveis pela programação, durante a conferência de imprensa destinada a apresentar o Festival, que esta manhã teve lugar na cidade do Porto.


Um conjunto de performances, instalações e apresentações de trabalhos e projectos de DJ’s e VJ’s nacionais e internacionais abre pistas para «explorar as novas modalidades de interpelação das imagens e dos moldes em que a gramática dos novos media nos interpela a nós», definiram os responsáveis pela iniciativa.


«To Leave and to Take» uma vídeo-instalação da autoria de Irit Batsry, com inauguração a 20 de Outubro pelas 18H00 nas Moagens Harmonia foi um dos exemplos fornecidos por Dario Oliveira, que designou o trabalho da cineasta como «uma experiência sensorial (e não só) de grande realce. Trata-se de uma “escultura” tridimensional inesquecível – prosseguiu Dario Oliveira- que mobiliza recursos tão diversos quanto a projecção vídeo, o uso da luz, do som e de três toneladas de arroz».


No âmbito de «Outras Paisagens» destaca-se a abertura de um espaço especial que funcionará todas as noites até às quatro horas da madrugada, acolhendo os projectos de DJ’s e VJ’s portugueses e internacionais. É um espaço mais orientado para as camadas jovens, do qual se espera, todavia, que possa «constituir o verdadeiro clube de cinema deste festival, um lugar onde se fale de cinema de uma maneira mais informal», disse Dario Oliveira. O «Espaço Odisseia – Media Lounge» situa-se no número 1 da Rua Capitão Romero, ao lado do Museu do Carro Eléctrico.


A organização destaca, nesta área particular, a colaboração empreendida com o «Transmediale», equivalente do «Media Lounge» no Festival de Cinema de Berlim, cujos mais destacados projectos estarão agora no Porto e também a cooperação desenvolvida com a revista norte-americana «RES», dedicada à cobertura do cinema documental especialmente na sua versão digital, cuja circulação ultrapassou já os Estados Unidos, para se ampliar progressivamente no âmbito europeu.


«Outras Paisagens» ilustrará, em resumo, aquilo que os responsáveis do cinema e audiovisual do Porto 2001 consideram ser a «segunda revolução no cinema desde o sonoro», representada pelo «uso noutros contextos das imagens em movimento, não narrativas, e que vão desde o mais lúdico ao mais experimental», aqui representados por três convidados portugueses e sete internacionais, cujos projectos serão apresentados ao longo das duas semanas do Festival em diversos pontos da cidade.


What’s Happening: The Beatles in USA (1964) dos irmãos Maysles

ANEXO 4


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (4)


Um conjunto de grandes filmes, alguns dos quais clássicos do mudo que inspiraram bandas sonoras originais compostas por encomenda da Sociedade Porto 2001 a compositores portugueses, que executarão ao vivo as suas obras durante as projecções, e ainda algumas ante-estreias e estreias absolutas no nosso país, compõem a ementa dos «Eventos Especiais» do último módulo da «Odisseia nas Imagens», I Festival Internacional do Documentário e Novos Media do Porto. Entre estes acontecimentos, salienta-se a presença de William Klein, personagem mítica do mundo da fotografia e do documentário.


William Klein que na tarde de 25 de Outubro proferirá na Casa das Artes uma masterclass no âmbito da sua participação na «Odisseia nas Imagens 4.0» é já considerado como «a figura do Festival». Ao seu trabalho será dedicada uma retrospectiva incluindo toda a sua obra documental, que decorrerá na Casa das Artes entre 21 e 25 de Outubro, com projecções alternadamente às 18H30 e às 22H00, além de três exposições consagradas à sua obra fotográfica: «William Klein, irónico e devorador» (FNAC Santa Catarina de 20 de Outubro a 5 de Janeiro); «Mode in and Out» (entre as mesmas datas, mas na FNAC Norte Shopping – Foyer) e, por fim, na mesma loja mas, desta feita, na Galeria, com as mesmas datas, «William Klein – uma exposição de fotografias».


O último filme de Klein «o contestatário radical cujo glamour produz o efeito contrário ao que ele próprio pretende, detalhe que tem muito a ver com o próprio capitalismo», na definição de Jorge Campos, do Departamento de Cinema e Audiovisuais da Porto 2001, uma singularíssima leitura da oratória de Haendel, «Messias», será exibido em estreia em sala no nosso país, no Grande Auditório do Rivoli, pelas 22 horas do dia 22 de Outubro.


Uma estreia absoluta em Portugal é a película de João Botelho «Quem és tu», recentemente premiado em Itália e que consiste, basicamente, numa tradução cinematográfica contemporânea da pergunta chave de «Frei Luís de Sousa», de Garret. A sessão realiza-se a 29 de Outubro, às 22 horas, também no Grande Auditório do Rivoli.


Entre os filmes-concerto, contam-se «Life and Death of 9413: a Hollywood Extra» de Robert Florey, (1928), «Regen» de Joris Ivens, (1929) e «Un Chien Andalou» de Luis Buñuel (1929), a apresentar a 23 de Outubro, pelas 22 horas, no Auditório de Serralves, com música ao vivo do «Remix Ensemble» da Casa da Música. Sete dias depois, a 30 de Outubro, à mesma hora, mas no Grande Auditório do Rivoli será a vez de «Nosferatu» de Friedrich W. Murnau, (1922) exibido com música ao vivo dos «Clã». E, no dia seguinte, a 31 de Outubro, também pelas 22 horas, será a vez de «The Navigator» de Buster Keaton (1924) a ser projectado, desta feita com música do compositor Carlos Bica. «A Greve» de Eisenstein», musicado pelo compositor de jazz Pedro Guedes, será exibida a 3 de Novembro pelas 22 horas no Grande Auditório do Rivoli, coincidindo com a cerimónia de entrega dos prémios de Competição do Festival e o encerramento do ciclo Como Salvar o Capitalismo.


Outro dos destaques, vai para a abertura do último acto de «O Olhar de Ulisses», um ciclo intitulado «Resistência», a 26 de Outubro no Grande Auditório do Teatro Rivoli, com a exibição de «A Ilha das Flores» de Jorge Frutado e de «Dode’s Kaden», de Akira Kurosawa, uma obra central na filmografia do cineasta nipónico. Também particularmente recomendado pela organização é o documentário «Crazy», uma viagem extraordinária pelas experiências de guerra dos soldados holandeses ao serviço da ONU em várias pontos do mundo, que combina as imagens dos próprios oficiais no teatro de guerra com a música e as canções que permaneceram associadas à sua memória desses conflitos. Um segundo desfile, de Puccini a Elvis, de Pergolezzi a Patsy Cline. Grande Auditório do Rivoli, 22horas, 28 de Outubro.


O documentário «What’s Happening: The Beatles in USA», à data proibido pelos quatro de Liverpool, depois de visionarem o resultado do trabalho de Albert Maysles, o “pai” do «direct cinema» americano e «Gimme Shelter» acerca de e com os Rolling Stones em tourné, constituíram duas experiências marcantes em torno da imagem e da verdade. Ambos serão exibidos no Grande Auditório do Rivoli, pelas 22 horas de 1 de Novembro, naquele que é tido como mais um dos pontos altos da programação.


Ignacio Ramonet. Fonte: Radiocable.com

ANEXO 5


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (5)


A presença de um remarcável conjunto de individualidades do mundo académico e do cinema durante o I Festival Internacional do Documentário e Novos Media do Porto foi esta manhã anunciada em conferência de imprensa de apresentação do último módulo da «Odisseia nas Imagens», iniciativa do Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.


Especialistas em estudo dos media e documentaristas de renome mundial assegurarão uma série de master classes subordinada ao título genérico «Como Salvar o Documentário», durante a qual serão enunciadas as diversas correntes teóricas e de pensamento em torno da interpelação do real pelas imagens.


Directamente associada a esta temática, equacionam-se os problemas da manipulação das imagens em conferências como as de Javier Rioyo, um dos principais documentaristas espanhóis da actualidade, que intitula a sua alocução inicial com o sugestivo «A mentira da verdade». Llorenç Soler, autor de uma vasta obra publicada sobre a temática dos media e perito no estudo das questões associadas à manipulação subordina a sua master class ao título «Do Homo Sapiens ao Homo Zappiens». Enquanto o fundador do Festival «É Tudo Verdade», do Rio de Janeiro e São Paulo, Emir Labaki falará sobre o «Cinéma Verité», o o utro lado da América será o objecto da conferência de Nina Rosenblum «All that is invisible must be made visible, else we perish in torture». A cineasta é uma das mais importantes documentaristas contemporâneas dos Estados Unidos.


O académico britânico Brian Winston, um dos mais controversos analistas dos media, da actualidade, dissecará, por seu lado, o dispositivo e as rotinas produtivas da Televisão enquanto factor de corrupção do género documental, numa masterclass que intitulou expressivamente: «Lies, Damn Lies & Documentaries». Todas estas sessões decorrerão durante a tarde, a partir das 14H30, nos auditórios da Casa das Artes, entre 26 de Outubro e 1 de Novembro, com entrada gratuita, mas sujeita à lotação das salas.


A todas estas, junta-se, no âmbito dos eventos especiais, a master class a proferir por William Klein, uma figura mítica do mundo da fotografia e do cinema, dia 25 de Outubro, pelas 16 horas, também na Casa das Artes, sessão durante a qual serão projectados dois filmes do realizador norte-americano residente em Paris: «Contacts», 1983 e «Hollywood California: a Loser’s Opera» (1977).


Todo este trabalho de teorização e discussão visa debater um dos tópicos fundamentais que presidem à realização e ao conceito de todo o Festival: «a defesa de determinado tipo de obra que é o olhar do documentário, contra a banalização da imagem pela fragmentária vulgata televisiva que hoje impera», definiu Joge Campos, um dos responsáveis pela iniciativa, durante a conferência de imprensa.


Em paralelo, desenvolver-se-á também na Casa das Artes, a 27 e 28 de Outubro e, posteriormente, a 8 de Novembro, um segundo bloco de discussão, organizado em colaboração com «Le Monde Diplomatique», sob o tema genérico «O Choque das Imagens». Paineis de individualidades nacionais e estrangeiras debaterão as «imagens Globais», os «Equilíbrios Instáveis» e as «Propagandas Silenciosas», título do mais recente livro do director do «Diplô», Ignacio Ramonet, que estará presente a 8 de Novembro, neste último debate, na Biblioteca Almeida Garret .


Os problemas da imagem e dos media estarão também patentes, embora noutro registo, numa exposição com uma selecção do melhor fotojornalismo dos últimos 15 anos premiado no Festival «Scoop» de Angers: um duro conjunto de fotografias que nos confronta com o mundo em que vivemos, intitulado «Imagens de Choque» e que estará patente ao público entre 21 de Outubro e 12 de Novembro no Foyer da loja FNAC no Norte Shopping.

Atualizado: 20 de out. de 2023


Este texto continua a tratar do módulo Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens. Da variedade da Programação e do debate em torno dos conteúdos ficar-se-á com uma ideia da matriz do Festival Odisseia nas Imagens que viria a conhecer uma única edição. Aqui, no respeitante ao cinema de Arte e Ensaio programado em Olhar de Ulisses por Pierre-Marie Goulet, José Manuel Costa, Teresa Garcia e Miguel Dias, fala-se da Resistência às corruptelas introduzidas no campo das imagens em movimento por agentes como, por exemplo, a Televisão. Mas, em Outras Paisagens, cuja coordenação ficou a cargo de Dario Oliveira, abordam-se as múltiplas possibilidades narrativas induzidas pelos new media, designadamente no campo das instalações e do cinema expandido. A título de exemplo do debate levado a cabo nos quatro episódios de O Olhar de Ulisses, publica-se na íntegra um texto constante do catálogo de Resistência. Com o mesmo intuito publica-se, igualmente na íntegra, a programação do Media Lounge. Relembrar. Esta foi a primeira e única edição do Festival Internacional do Documentário e New Media do Porto naquela que seria a proposta de continuidade da Odisseia nas Imagens concebida como um polo estruturante da indústria do cinema, audiovisual e multimédia do norte do País. Em anexo, constam textos de Rui Pereira que se inseriam naquilo que deveria ser futuramente uma estratégia de comunicação.



Fonte: PosterSpy

O Olhar de Ulisses 4.0 – Resistência

26 de Outubro a 2 de Novembro de 2001

Rivoli Teatro Municipal, Pequeno Auditório


Não pode haver resistência... sem memória - J.L.Godard


A partir do momento em que André Bazin viu o cinema como “uma janela aberta sobre o mundo”, o cinema dominante teve uma clara tendência a transformar-se num jogo de vídeo em grande ecrã e o ecrã de televisão a tomar cada vez mais a forma de um buraco de fechadura, ou seja, o “visual” tende a ocupar o lugar da “imagem” como dizia Serge Daney. Nesse contexto, o quarto e último acto de “O Olhar de Ulisses” procura construir redes de relação e leitura entre os filmes - faróis da história do cinema, pontos de referência indispensáveis - e as obras contemporâneas que teimam em respeitar quem as vê. Por isso este último andamento de O Olhar de Ulisses chama-se Resistência. Serão apresentados filmes de Federico Fellini, Jacques Demy, Nicholas Ray, Boris Barnet, Robert Kramer, Luc Moullet, António Reis e Margarida Cordeiro, John Ford, Akira Kurosawa, Charles Laughton, Pedro Costa, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Jacques Tati, Chantal Akerman, Charlie Chaplin, Chris Marker, Jean-Luc Godard, Olivier Smolders, Abbas Kiarostami, Serguei Dvortsevoy....





26 DE OUTUBRO

14H30

ROMA- F. Fellini, Itália, 1971, 128 mn

Debate com António Rodrigues


17H30

MARSEILLE VIEUX PORT – László Moholy-Nagy, França,1929, 9 mn

LETTRE A FREDDY BUACHE - Jean-Luc Godard, Suiça, 1981, 13 mn

LOLA – Jacques Demy, França, 1961, 90 m

Debate com Hervé Aubron e A.Rodrigues


22H00 - Abertura oficial– Grande Auditório

ILHA DAS FLORES, Jorge Furtado, Brazil, 1989, 9mn

DODES'KADEN, (Pouca terra…Pouca terra) - Akira Kurosawa, Japão, 1970, 140 mn

Apresentação de José Manuel Costa


27 DE OUTUBRO

14h30

O DIA DA ESTREIA DE CLOSE UP - Nanni Moretti, Itália,1996, 7mn

CLOSE UP- Abbas Kiarostami, Irão, 1990, 90mn

Debate com Maria João Madeira e José Manuel Costa


17h30

QUEM ESPERA POR SAPATOS DE DEFUNTO, MORRE DESCALÇO,(Portugal) - João César Monteiro, 1971, 34mn

A BEIRA DO MAR AZUL,(U Samogo Sinevo Morya) - Boris Barnet, URSS, 1936, 71mn

Debate com José Manuel Costa e M. Castro Henriques


21H30

JLG/JLG, Autoportrait de Décembre - Jean-Luc Godard, França, 1995, 62 mn

JOHNNY GUITAR - Nicholas Ray, USA, 1954, 108 mn

Debate com João Bénard da Costa


28 DE OUTUBRO

14h30

JEUNES LUMIERES, filme "composto" por Nathalie Bourgeois, França, 1995, 60mn

PICKPOCKET, (O Carteirista) - Robert Bresson, França, 1959, 75mn

Debate com J.Bénard da Costa e Manoel de Oliveira


17h30

GERTRUD - Carl T.Dreyer, Dinamarca, 1964,119mn

Debate com J. Bénard da Costa e M. de Oliveira


21h30

OÙ GIT VOTRE SOURIRE ENFOUI? - Pedro Costa - Portugal/France, 2001, 95mn

SICILIA! - JM.Straub, D. Huillet - Italia, 1999, 76 mn

Com a presença do realizador Pedro Costa e de Thierry Lounas





29 DE OUTUBRO

14h30

TORRE BELA - T.Harlan, Portugal/Italia, 1979, 89 mn

L'AMBASSADE - Chris Marker, França, 1973, 20 mn

GUY DEBORD SON ART, SON TEMPS - Brigitte Cornand e Guy Débord, França,1994, 55mn

Debate com José Manuel Costa, Margarita Ledo Andion e Gerald Collas


17h30

BARRES - Luc Moulet, França, 1984, 15mn

GENESE D’UN REPAS - Luc Moullet, França,1978,115 mn

Debate com Gerald Collas e António Rodrigues


21h30

CEZANNE - CONVERSATION AVEC JOACHIM GASQUET - JM.Straub, D.Huillet, França, 1989, 51mn

BASSAE, 1964, Jean-Daniel Pollet, 1993, França, 8 mn

DIEU SAIT QUOI - Jean-Daniel Pollet, 1993, 90 mn

Debate com José Manuel Costa, Cyril Neyrat e António Rodrigues


30 DE OUTUBRO

14h30

D'EST - Chantal Akerman, Bélgica/França, 1993, 150 mn

Debate com José Manuel Costa e Saguenail





17h30

A QUEDA DA DINASTIA ROMANOV (Padenyie Dinastii Romanovich) - Ester Schub, URSS,1924, 67mn

O NOSSO SÉCULO - de Artavazd Pelechian, URSS, 1980, 30mn

O DIA DO PÃO, (Hlebni) - Serguei Dvortsevoy, Rússia / Cazaquistão, 1998, 55 mn

Apresentação de José Manuel Costa


21h30

LA JETÉE - Chris Marker, França, 1962, 28mn

STALKER - A.Tarkowsky, URSS, 1972, 165mn

Apresentação de José Manuel Costa


31 DE OUTUBRO

14H30 (e 17h30)

ROUTE ONE USA (1) - R.Kramer, França,1989, 127 mn

ROUTE ONE USA (2) - R.Kramer, França,1989, 127 mn

Participação de Erika Kramer e José Manuel Costa


21h30

YOUNG MISTER LINCOLN (A Grande Esperança) - John Ford, USA, 1939, 100mn

Debate com João Botelho


23h30

HISTORIA DO JAPÃO CONTADA POR UMA DONA DE BAR - Shoei Imamura, Japão, 1970, 100mn

Debate com Gerald Collas e Paulo Rocha


1 DE NOVEMBRO

14h30

em presença de Serge Meurant e Bruno Flament

O OLHO POR CIMA DO POÇO, (Het Oog Boven de Put) - Johan Van der Keuken, Holanda, 1988,90mn

AS FERIAS DO CINEASTA - Johan Van der Keuken, Holanda, 1974, 39 mn


17h30

MORT A VIGNOLE - Olivier Smolders, Bélgica, 1999, 25mn

SANS SOLEIL - C.Marker, França,1982, 110 mn

Debate com Olivier Smolders e Margarita Ledo Andion


21h30

HISTOIRE(S) DU CINEMA -2A - JL Godard, França, 25mn

A SOMBRA DO CAÇADOR, (The Night of the Hunter) - Charles Laughton, USA, 1955, 93 mn

Debate com Manuel António Pina



Sans Soleil (1983) de Chris Marker

2 DE NOVEMBRO

14h30

FIM e VIDA - A. Pelechian, Arménia, 1992 e 1993, 9 e 7mn

ANA - A.Reis e M. Cordeiro, Portugal, 1985, 115mn

Apresentação de João Benard da Costa


17h30

EN RACHACHANT - Straub/Huillet, França,1982, 9 mn

TRAFIC - Jacques Tati, França, 1971, 89mn


21h30

Sessão de Encerramento de O Olhar de Ulisses

Rivoli Teatro Municipal, Grande Auditório

LIMELIGHT (As Luzes da Ribalta) - Charles Chaplin, USA, 1952, 143 mn

Apresentação de J. Benard da Costa, (Cinemateca Portuguesa)





O Olhar de Ulisses: Resistência

Lista completa de Participantes:


Alberto Seixas Santos

Alok Nandi

António Cunha

António Rodrigues

Bruno Flament

Cyril Neyrat

Erika Kramer

Gerald Collas

Guilherme Lopes Alves

Hervé Aubron

Jean Andre Fieschi

Jean Douchet

Jean-Claude Bonfanti

João Bénard da Costa

Jorge Lopes

José Manuel Costa

Luís Correia

Luís Miguel Oliveira

Margarida Sousa

Margarita Ledo Andión

Maria João Madeira

Miguel Castro Henriques

Nuno Sena

Olivier Smolders

Patrícia Saramago

Pedro Costa

Rui Santana Brito

Sandro Aguilar

Serge Meurant

Teresa Borges

Thierry Lounas



Route One USA (1989) de Robert Kramer

ROUTE ONE USA de Robert Kramer



Pronto (nos dicen), llegará la nieve

Y América me espera en cada esquina,

Pero siento en la tarde que declina

El hoy tan lento y el ayer tan breve.

Borges

(“New England, 1967”)


A palavra cineasta talvez seja imprópria para definir Robert Kramer, a não ser nos seus trabalhos menos interessantes, como Diesel ou Naissance, em que age como um “mero” cineasta, como alguém que tem um produto a entregar e que deve obedecer a certos parâmetros pré-definidos. Nos seus trabalhos mais característicos e mais importantes (In The Country, The Edge, Ice, Milestones, Doc’s Kingdom, Berlin 10/90), mais do que um cineasta, Kramer é um artista que faz filmes, na medida em que usa o cinema como um instrumento para uma reflexão e uma representação do mundo (e Route One/USA, a sua obra-prima e uma obra-prima tout court, é ao mesmo tempo reflexão e representação) e não para contar histórias ou manipular formas, embora também seja um narrador e possa ser um mestre das formas. A sua obra talvez adquira um sentido mais pleno no contexto da arte contemporânea americana do que no do “cinema de autor.”


Depois de um parênteses na sua juventude em que trabalhou para o Peace Corps, no Brasil, Kramer viveu a fundo as tremendas aventuras do que os americanos chamam a contra-cultura dos anos 60: trabalho com comunidades negras desfavorizadas, oposição militante à Guerra do Vietname, vida numa comunidade no Vermont, onde conheceu a sua mulher e que é transposta para o écran em Milestones, quem sabe trabalhos mais clandestinos e radicais. No âmbito do seu destino pessoal, conciliou a militância política tradicional, não totalmente isenta da cartilha leninista, com elementos da revolução cultural do Ocidente nos anos 60, que buscava, e até certo ponto alcançou, a libertação do indivíduo. Depois, Kramer decidiu expatriar-se e passou cerca de dez anos longe dos Estados Unidos, transitando por diversos países, inclusive Portugal onde realizou dois filmes, Scenes from the Class Struggle in Portugal e Doc's Kingdom. Em Setembro de 1994, quando a Cinemateca Portuguesa pensava programar Scenes..., Kramer enviou uma carta a Lisboa, em que explicava que "I'm pleased to have this film seen because now, so many years after, it's like news from nowhere, an information about a time THAT DID REALLY EXIST. I don't love this film, but I do like it very much, and particularly this quality of insisting on something that no one, absolutely no one, want to cope to now. Know what I mean?".



Scenes from the Class Struggle in Portugal (1977) de Robert Kramer e Philip Spinelli

Este parágrafo desta carta é um belo resumo das aventuras de Robert Kramer. Em fins dos anos 80, ele resolveu voltar aos Estados Unidos, porém não de modo permanente, pois continuou a residir em Paris, até morrer, em 1999. Mas não voltou como um filho pródigo que retornasse à casa paterna: "coming back, not home, but back", como é dito em Route One/USA, que foi o resultado desta viagem de regresso e que é um dos grandes momentos e monumentos do cinema contemporâneo. O filme ilustra o ambicioso projecto que teve o cineasta no período final do seu trabalho: “filmar o fim do século XX”. Deste projecto, de que deveria ter feito parte um gorado filme sobre a Polónia (um país que podia interessar Kramer por pelo menos dois motivos: foi um dos territórios onde o leninismo fracassou e onde a “questão judia” sempre foi particularmente aguda), ficaram, além de Route One/USA, filmes como Point de Départ (o regresso de Kramer ao Vietname), Berlin 10/90 (um intensíssimo monólogo do cineasta diante da câmara) e o pungente Walk the Walk, que de certa forma é um eco a Route One no contexto europeu, num tom mais interiorizado e mais fúnebre.


Em Route One/USA, Doc, personagem fictício que é o protagonista de Doc's Kingdom e um alter ego do cineasta (o actor, Paul McIsaacs, é uma espécie de máscara cinematográfica de Kramer), volta aos Estados Unidos. Enquanto ouvimos em off a voz de Kramer, que reaparece em várias passagens do filme sem que nunca o vejamos, Doc desembarca em Manhattan e o filme começa com a clássica visão da cidade de longe, com a imagem que foi a primeira visão de milhões de emigrantes que foram para a América (entre os quais a família de Robert Kramer): a Estátua da Liberdade, "aquela estátuazinha modesta, oferta da França", como escreveu sarcasticamente Fernand Léger. Mas "Doc e eu", como diz a voz de Kramer, não se demoram em Nova Iorque e seguem para a Nova Inglaterra. É então anunciado o projecto do filme: seguir a Route One, num trajecto de 5000 quilómetros que vai da fronteira com o Canadá até à Florida, visitando do modo menos turístico que se possa imaginar um país que mudara profundamente desde que Kramer o deixara, depois de vários anos de governos conservadores, da epidemia da sida e de outras mudanças, mas que num aspecto profundo não mudara. E como é especificado pelo próprio Kramer, este trajecto atravessa essencialmente o território das treze colónias originais da América do Norte, que fizeram a primeira revolução do mundo moderno, a Revolução Americana, anterior à Revolução Francesa e muito diferente: como notou Beaudrillard, ao invés de ideológica e guerreira, foi pragmática e utópica e por isto o seu manifesto mais famoso (de que a pomposa Declaração dos Direitos do Homem francesa é um pastiche aguado) inclui, na mesma frase, entre os direitos inalienáveis do indivíduo, algo de tão prosaico como o "direito à propriedade" e de tão poético como o direito "à busca da felicidade".



Route One USA (1989) de Robert Kramer

Já foi dito que os Estados Unidos são um dos poucos países do mundo cujo mito fundador está, de certa forma, contido por inteiro num livro e este livro é Da Democracia na América, de Tocqueville (um livro técnico, nada lírico), para quem o espírito fundador da América (“nome mitológico dos Estados Unidos”, como observou Barthes) reside no seu modo de vida e na sua revolução moral, que a separam das velhas sociedades europeias, com as suas bases aristocráticas e feudais. Mas há um outro livro que também "contém" a configuração mítica dos Estados Unidos e que é evocado logo no começo de Route One/USA: Leaves of Grass, de Walt Whitman. Numa das mais belas sequências do filme, Doc e o invisível narrador (Kramer) nadam nus num rio e Doc explica que trouxe consigo o livro de Whitman, como uma espécie de breviário, para comparar a América de Whitman ("the America I love"), com a outra, a que o cerca, que é ao mesmo tempo “real” e rememorada. Indirectamente, Kramer transpõe para o filme o espírito do livro de Whitman, que dá a visão global de um país, sem um personagem central que seja superior aos outros, um livro cujo protagonista é plural, um livro povoado por um número infinito de personagens, que segundo Whitman são "todos cercados por uma auréola". É isto que faz Kramer, a seu modo, mais de cem anos depois de Whitman. Interroga o mundo, observa a prolixidade do real, canta parte da sua totalidade. Route One/USA é um filme sobre a memória e sobre o presente, sobre o confronto entre a memória e o presente, situado num espaço concreto, preciso e num espaço mais ideal, mais abstracto. O filme é um semi-documentário (se uma palavra tão pobre pode dar conta de um filme tão rico), pois Paul McIsaacs é um actor que encontra, convive, faz falar e dá a conhecer variadíssimas pessoas, que nada têm de personagens de ficção. Filme de viagem e anti-road movie, Route One/USA tem deliberadamente um ritmo regular, sem pontos culminantes, com continuidade e coerência, em meio a paisagens e situações diversas. A variedade das pessoas encontradas é tal que o espectador deixa de as contar separadamente e guarda uma visão de conjunto. Uns são excêntricos, outros banais, todos são olhados com vagar e atenção, pois todos são interessantíssimos para quem é capaz de olhar e sabe ver. O passado, o presente e o futuro coabitam num filme, que mostra o que há de mais presente, mas também evoca o passado histórico do país (a Guerra de Secessão, a execução de John Brown, a sala do Independence Hall, o monumento aos mortos no Vietname), o passado pessoal e afectivo: lembranças da mãe de Doc a jogar bingo, a casa onde Doc viveu em criança, o belíssimo momento sobre o livro infantil que conta a história de um farol: Kramer desce aos subterrâneos da biblioteca, como quem percorre os subterrâneos da memória e do inconsciente, para buscar o livro e depois mostra o verdadeiro farol. E em meio a estas memória e a este vasto presente, vislumbramos um pouco do futuro, sintetizado no brinde de Doc ao imigrante português.



Robert Kramer

O tempo deste filme é múltiplo, o seu espaço é ao mesmo tempo preciso, delimitado e quase infinito, as pessoas que nele são mostradas são inumeráveis. Mas este filme ambiciosíssimo e de certa forma "experimental" (no cinema, quem já havia tentado uma experiência destas, nesta escala?) é tão denso e tão conseguido que o espectador se esquece de imediato deste aspecto experimental. Imersos na viagem, vemos o retrato colectivo de um mundo e a intensidade que está por trás das vidas de cada uma das pessoas que encontramos pelo caminho. Mas a principal pessoa que conhecemos nesta viagem é o próprio Robert Kramer que fez um filme de certa forma nostálgico e elegíaco, pleno de paisagens de Outono e de Inverno, mas cuja conclusão é aberta. Conta-nos Kramer: Route One/USA (...) foi proposto como um projecto em que não era possível saber à partida onde íamos parar, porque era uma autêntica viagem e numa verdadeira viagem o ponto de chegada não é conhecido.” Ao termo da viagem, ao termo do continente americano, ao invés de vermos Doc partir de novo pelo mar, desembocamos numa série de imagens abstractas. Um final enigmático, talvez a única conclusão possível para o périplo que fizemos através da Route 1 e de quatro horas e meia de cinema.


António Rodrigues in Folhas da Cinemateca

Catálogo O Olhar de Ulisses/ Resistência






Ciclo Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens


Outras Paisagens


Que paisagens nos reserva a acção combinada dos media? Outras paisagens? Sim. Mas que paisagens? O limite da intervenção dos novos media é justamente a ausência de limites porque neste território tudo é experimental. Aqui, o registo criativo é, simultaneamente, um registo de pesquisa gramatical. Da convergência e conflitualidade de várias linguagens resulta pois um peculiar modo de recriar quer o mundo sensorial, quer o mundo conceptual, abrindo-se as portas da percepção ao reconhecimento de lugares desconhecidos dentro do próprio homem e solicitando-se a inteligência intuitiva tanto como forma de racionalizar essa mesma experiência, quanto de inquirir sobre o seu destino. Outras paisagens: tão diversas quanto o seu campo de aproximação: do interior do corpo humano ao universo fabuloso das galáxias, do olhar sobre o tempo que passa à interrogação do tempo futuro.


Filme Concerto

Navigator (19249 de Buster Keaton/ música: Carlos Bica

31 de Outubro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório




Desde o primeiro dia em que um filme foi projectado que a música se encontra associada ao cinema. Quando Lumiére projectou um filme pela primeira vez usou-a para camuflar os ruídos e aumentar a carga emocional. Desde então vários foram os modelos usados dependendo na maior parte dos casos das capacidades musicais existentes nos locais e cidades onde os filmes eram projectados. No entanto, ficará para sempre associada ao cinema mudo a imagem do músico pianista, cujo bom desempenho dependia das suas capacidades de improvisar sobre as composicões, nem sempre existentes. A importância da música no cinema ganhou um maior relevo nos anos 50; só então o nome do compositor surgiu apresentado no ecrã. Enquanto que a música inicialmente apenas tinha a discreta função de acentuar o desenvolvimento dramático do filme, mais tarde foi usada como elemento por vezes quase provocatório, podendo o realizador através da música transmitir ao público tudo o que tinha ficado por dizer através das imagens ou palavras. Buster Keaton, conhecido pelo "The Great Stone Face", foi um mestre na arte de representar, assim como um excelente realizador. Keaton consegue transportar um enorme espectro de emoções através de mudancas minimalistas na expressão do seu rosto. Possuidor de uma enorme sensibilidade ele é capaz de nos transmitir um enorme espírito de paz, mesmo nas situações mais diabólicas em que se envolve. Tal como no filme O general o título do filme não se refere à personagem principal, mas sim a uma máquina, neste caso um tansatlântico. Keaton sempre teve uma grande paixão por complexas maquinarias, as quais sempre o fascinaram. Ele próprio disse um dia que se não tivesse sido desde sempre artista, que por certo teria vindo a ser engenheiro. Buster Keaton, como todos os grandes mestres das artes, jamais perderá actualidade. Para mais as fronteiras entre o absurdo e o sublime mais hoje do que nunca parecem ter deixado de existir. É com enorme entusiasmo que aceito este enorme desafio que me foi lançado de musicar um filme de Buster Keaton, de dar um salto no tempo e ir ao encontro de um criador que é um marco na história do cinema.

Carlos Bica


Participantes:


Carlos Bica – Contrabaixo

Frank Möbus – Guitarra

Frederico Serrano – Sampler

João Paulo Esteves da Silva - Piano



Carlos Bica

Instalações


20 de Outubro – 25 de Novembro – inauguração: dia 20 de Outubro às 16:00h

Artes em Partes/ Quarto da Maria

2ª a Sábado - Das 14:30h às 20:00h

Entrada Livre


Zone de Françoise Lavoie Pilote

Zone é uma instalação interactiva que conta a história de três mulheres da mesma família e de três gerações diferentes. Reunindo linguagens como a poesia, o filme e o vídeo, aborda a evolução dos valores, tais como a perda de tradições, a influência das origens, o significado da natureza e as suas marcas no nosso comportamento.





20 de Outubro – 25 de Novembro – inauguração: dia 20 de Outubro às 18:00h

Moagens Harmonia

Terça a Domingo – das 14:00h às 18:00h (encerra à 2ª feira)

Entrada Livre


To Leave and To Take de Irit Batsry

Cada visitante pode criar o seu próprio itinerário num espaço coberto por “mãos de arroz” - 6.000 luvas transparentes, cheias com 3.000 quilos de arroz – espalhadas no chão e empilhadas sob forma de trincheiras. Há várias projecções vídeo: numa delas, uma mão passa arroz de uma pilha para outra, o que transforma o espaço num local de transferência contínua; a outra projecção, mostra uma mulher na rua enquanto come, seguida de uma velha a moer constantemente uma substância que tenta deglutir. Estas cenas são apresentadas sem qualquer som, afastando-se ainda mais das realidades nas quais foram filmadas. Luzes direccionais fortes criam sombras das pilhas de luvas nas paredes, uma paisagem semelhante a uma aguarela chinesa, representando montanhas ao longe, envoltas em bruma. A sombra do visitante reflecte-se nesta paisagem virtual. Os 3.000 quilos de arroz utilizados nesta instalação, serão doados à AMI – Assistência Médica Internacional.



To Leave and To Take de Irit Batsry

21 de Outubro – 11 de Novembro – inauguração: dia 21 de Outubro às 18:00h

Museu de Serralves – Capela

Terça a Domingo – das 10:00h às 19:00h (encerra à 2ª feira)


Elle et la Voix de Catherine Ikam e Louis-François Fléri

A instalação consiste num encontro com uma personagem virtual. Elle existe apenas na memória do computador, é uma réplica numérica, dotada de modelos de comportamento. A presença e a deslocação dos visitantes no espaço, são analisados em tempo real e permitem uma interacção com Elle. Na ausência do visitante, Elle tem vida própria, aleatória. Entre vários visitantes, Elle escolhe e reserva o seu sorriso. Elle sorri apenas a quem quer.


26 de Outubro - 11 de Novembro – inauguração: dia 26 de Outubro às 18:00h

Museu de Serralves – Sala Multiusos

Terça a Domingo – das 10:00h às 19:00h (encerra à 2ª feira)


Des Rives de Yann Beauvais ( som de Thomas Koener)

Consiste numa dupla projecção 16mm. Os dois ecrãs propõem vistas fragmentárias de Nova Iorque, com panorâmicas e travellings que criam tensões tornando impossível uma visão global da imagem de cada ecrã. O trabalho sonoro de Thomas Koener, propõe uma profundidade que, tal como na vertente visual de Yann Beauvais, não tem como efeito tornar as imagens mais realistas, mas mais real o espaço onde se circula.

27 de Outubro - 25 de Novembro – inauguração dia 27 de Outubro às 23:00h

Labirintho Bar Galeria

Todos os dias: das 22:00h às 04:00h

Entrada Livre


Palavra Desordem de Arnaldo Antunes

Instalação dividida em três áreas. Um hall com dez displays electrónicos que exibem frases diversas; uma sala com uma intervenção gráfico-poética, a sala está forrada de cartazes (espectáculos, papel de jornal ou propaganda política), simula o efeito causado pela deterioração dos cartazes nos muros e tapumes da cidade; uma outra sala, com sons de respiração ritmados, tem diversas frases projectadas por slides nas paredes. Estas frases esbatem-se gradualmente, dando lugar a outras que surgem com o acender também gradual da luz negra.


28 de Outubro – 11 de Novembro – inauguração: dia 28 de Outubro às 17:00h

Museu de Serralves – Sala Pequena

Terça a Domingo – das 10:00h às 19:00h (encerra à 2ª feira)


Invisible Shape of Things Past de Joachim Sauter

Esta instalação consiste em três peças distintas, nelas as sequências de filmes foram transformadas numa arquitectura de informação legível em 3D. Os visitantes podem navegar pelo tempo e espaço numa cidade virtual. Pretende-se com Invisible Shape of Things descobrir como pode a informação ser transformada em “objectos virtuais”, como podem tais objectos ser organizados num ambiente virtual, como podem os utilizadores navegar nestes mundos e como podem eles interagir com estes “objectos de informação”. Num passo final, os “objectos de filmes” virtuais são transformados em arquitectura real.


Conferências


27 de Outubro – Conferência e Projecção Vídeo

Auditório de Serralves

às 16:00h

These Are Not my Images por Irit Batsry


28 de Outubro

Auditório de Serralves

às 18:00h

Arquitectura da Informação no Espaço Real e Virtual por Joachim Sauter



Media Lounge


De 20 de Outubro a 4 de Novembro de 2001

Espaço Odisseia



D-Fuse

O Espaço Odisseia - Media Lounge procurou oferecer um panorama alargado e multidisciplinar na área dos novos media albergando projectos experimentais no âmbito das imagens em movimento, da música, das artes performativas e do design, e utilizando as imagens num contexto não narrativo que terá algumas das suas origens no cinema experimental. Ao mesmo tempo, foi também um ponto de encontro e de lazer, assumindo funções lúdicas, com projectos que utilizaram sons mais dançáveis, percorrendo as diversas tendências da música de dança actual, servidos por vários DJ's e VJ's com créditos firmados no panorama português e internacional. Este espaço apresentou ainda uma selecção de trabalhos de cinema e vídeo do Resfestival, um festival itinerante e assumidamente experimental organizado pela Res Magazine, uma revista trimestral dedicada ao cinema electrónico e às novas tecnologias aplicadas às imagens em movimento.


Programação:


20 de Outubro 2001


DJ Spooky: Rebirth of a Nation (Performance Audio-Video) EUA.

DJ Spooky, mais conhecido por The Subliminal Kid, foi um dos primeiros DJ`s em Nova Iorque a reunir Hip-Hop, Ambient, Jungle, Experimental e Dub. A obra clássica de Griffith serviu de inspiração para a sua performance audio-vídeo.


DJ Stanton Warriors (Performance Audio) RU, Break Beat/Garage Two Step com VJ's Rui Toscano e Rui Valério (Performance Vídeo).



DJ Spooky

23 de Outubro 2001


Grace (Performance Audio-Vídeo), Portugal.


Rádio Residente by Álvaro Costa Residente (Performance Audio–Vídeo ) Portugal, apresentou uma performance usando como material visual e sonoro o DVD Icky Flix dos Residents, assim como, um texto original à volta do conceito de “residente”.


DJ Mighthy Truth (Performance Audio) RU, Acid Jazz/Trip-Hop, com VJ Nuno Olim (Performance Video).


24 de Outubro 2001


TDDY Para Poly (Performance Audio-Vídeo) França.


DJ Patrick Forge (Performance Audio), RU, Acid/Jazz, com VJ Nuno Olim (Performance Vídeo).


25 de Outubro 2001


D-Fuse Graphic and Motion Style/Angles of Incidence (Performance Audio-Video) RU. Combinam vídeo com projecção de slides que são colocados estrategicamente em locais com diferentes ângulos criando um “eco” das imagens, formando vários layers de luz.


26 de Outubro 2001


D-Fuse (Performance Audio-Vídeo).


Pressure Sounds Sound System (Performance Audio) com VJ Nervo (Performance Vídeo).


27 de Outubro 2021


Native Lab HYPERLINK "mailto:NativeLab@odisseia.2001"

NativeLab@odisseia.2001 (Performance Audio-Vídeo), Alemanha. Continuação de uma série de eventos dos Native Instruments, apresentando música produzida através do computador, sendo aplicada no contexto Club.


Dj Krafty Kuts (Performance Audio) com VJ Lab (Performance Vídeo).



30 de Outubro 2021


Naoism (Systemsoular) (Performance Audio-Vídeo) EUA. Em coloboração com o colectivo new media SystemSoular prepararam uma redefinição da performance audiovisual artística com recurso ao filme, vídeo, animação, instalações media-interactivas e várias outras aplicações.

Camping Gaz (Performance Audio) Espanha, Soul/ Funk/ Dub/ Disco com VJ's Budha e PTV (Performance Vídeo).



31 de Outubro 2021


Dub Video Connection (Performance Audio-Vídeo) apresentaram Advanced Formula.


Filipa Principe (Performance Audio) com VJ's Budha e PTV (Performance Video).


01 de Novembro 2021


Rafael Toral Sound Mind (Performance Audio-Vídeo), Portugal. Projecto solo de mistura ao vivo usando minidiscs e cds. Mais próximo de um set de DJ do que de um concerto. É uma viagem pelo universo sonoro de Rafarel Toral no âmbito Chill-out.


House Lab Houselab@odisseia.2001 (Performance Audio-Vídeo) Portugal. Grupo de trabalho composto por artistas, músicos e designers criado no âmbito da Experimentadesign, na sequência do projecto Houseware Experience. Exploração artística de novas tecnologias no campo da música electrónica, novos media, performance e instalações audio-visuais.


Oxman RU, Dub Reggae (Performance Audio) com VJ Dub Vídeo Connection (Performance Vídeo).



Rafael Toral

02 de Novembro 2001


Lazydog (Performance Audio) com VJ Dub Vídeo Connection (Performance Vídeo).



Programa Vídeo


RESfest / Odisseia 2001


Há cinco anos, a realização digital estava apenas no seu começo; os realizadores brincavam de forma hesitante com câmaras Minidv; e a Internet estava a começar a instalar-se. Agora, não só somos guiados numa imensa sociedade global de informação, mas também se modificou a cultura de criação de imagens na sua totalidade, o seu comércio e exibição.


Nos últimos cinco anos, desabrochou uma comunidade com elementos de todo o mundo, que apoia novas formas de contar histórias. Orgulhamo-nos de ter funcionado como um fórum para estas novas formas, e para tantos realizadores na esperança de partilhar as suas visões pessoais, globalmente.

Jonathan Wells

Director do Festival



RES 1 – Curtas Metragens


Desde o início, as curtas têm sido a base do RESfest. Nessa linha de continuidade da tradição da res foram programadas animações ligadas a narrativas de acção, bem como curtas metragens com um design surpreendente e concentradas em grafismos. Pela primeira vez, a programação foi tematicamente organizada, reflectindo algumas das tendências predominantes: projectos experimentais, concentrados e inseridos no programa do design. Finalmente, alguns realizadores de video clips mostraram as suas curtas metragens na secção do Clube dos Realizadores. Como sempre, as ferramentas utilizadas para realizar essas curtas metragens foram as mais diversas: fotocopiadoras, câmaras de filmar e programas de efeitos sofisticados. O que as une é a sua abrangente sensibilidade e a necessidade partilhada de ultrapassar a norma, de descobrir a magia de uma grande história, de um mundo inventado e, por vezes surreal, ou de descobrir, através do encantamento formal, uma ideia complexa que se exprime através do som e da imagem.


Blood: The Last Vampire Hiroyuki Kitakubo, Japão 2000

Extra: Kenishii Koji Morimoto, Japão 1995

Daft Punk: Harder, Better, Faster, Stronger Leiji Matsumoto, Japão 2001



Blood: The Last Vampire (2000) de Hiroyuki Kitakubo


RES 2 – Do Design


O Programa do Design ofereceu uma perspectiva ecléctica de ilustrações digitais em movimento. Ao contrário dos filmes de animação tradicional, estas evoluíram a partir do design e de aplicações de software 3d permitindo a mistura de textos, linhas e camadas de imagens, ou a exploração do espaço 3d. Os resultados vão desde explorações arquitecturais quase minimalistas até ao pandemónio gráfico influenciado pela Pop.


Desert H2ouse Joseph Kosinski, eua 2001

Fishmonkey Victor Lin, eua 2001

The Future of Gaming Johnny Hardstaff, ru 2001

The History of Gaming Johnny Hard-staff, ru 2000

Intersection Christopher Zimmermann (Topherz), eua 2000

No Words A.Tinguely, L.Faucherre, J.Tosatti, C.Haak, N.Gorce, eua 2001

Popular Machines Henrik Mauler, Alemanha 2001

rnd# (pt.1) 1) #06: Underworld 2) #67: Virus 3) #91: 51st State

Richard Fenwick, eua 2000

Under Skin Nick Veasy, ru 2001


Untitled: 002-Infinity eua 2001

Untitled: 002-Infinity

foi o segundo de uma série contínua de projectos digitais da divisão exp da Belief – no ano anterior fora exibido o projecto Untitled: 001-Darkness. Com esta instalação expandiu-se o número de artistas cooperantes (aqui apenas foram apresentados alguns dos trabalhos seleccionados a partir da série completa) mobilizados em torno do espaço lúdico de uma aventura hiperdinâmica. Filmagens em vídeo (antigas ou recentes), arte colectiva, elementos de design criados através do computador, tipografia e design de som entreligaram-se em emblemas obsessivamente complexos do tema da infinidade.


1 Modern Man Belief Exp

2 A to Z and Back Again Delapse

3 Into the Clear White Rick/Morris/Design

4 Infinite Space l+t=r

5 re: You are Iinvited to This Unification Neugit

6 A Lost in Space Production Lost in Space

7 Aparamitah Belief Exp

8 Replication Belief Exp

9 Infinite Life Jennifer Grey

10 Inner/Outer Spaces Blink.fx

11 etc. (Eternal Track Convergence) Static 2358

12 dsr Colourmovie

13 Infinity

14 Karaoke Trollbäck and Company



RES 3 – O Clube dos Realizadores



La Lettre (1998) de Michel Gondry

Muitos dos melhores realizadores de vídeos de música são também avaros guardiães de pequenas jóias que mantém escondidas nos armários. Tendo isso em conta, e para inaugurar o programa O Clube dos Realizadores, foi solicitado a alguns deles, participantes em anos anteriores na secção Cinema Electronica, que tornassem públicos esses filmes. O resultado foi um programa invulgar e intrigante. O público pôde, ainda, identificar algumas semelhanças entre filmes e vídeos mas, na maioria dos casos, foi confrontado com investidas inesperadas e originais.


La Lettre Michel Gondry, França 1998

Paperboys Mike Mills, eua 2000

Passenger on Board Simon Taylor of Tomato, ru 2000

Spiral Floria Sigismondi, eua 1998.



RES 4 – Cinema Electrónica


Cinema Electronica: a opulência visual do cinema e a alucinante estilização da electrónica fundiram-se neste programa. A selecção incluiu projectos de vários reincidentes no RESfest, tais como Shynola e Geoffroy de Crecy que regressou com uma sequela de olhar negro pelos bastidores do stand local de hamburguers do ano passado. Houve ainda insectos surreais, grupos de robots futuristas e múltiplas personagens de animação que habitam mundos virtuais. E, também, uma presença obsessiva do corpo, quer na veneração distraída das “modelos” stressadas, quer na reordenação perturbadora dos membros e torsos de músicos numa banda ou na clonagem digital escarnecente dos “corpos reais”.


Actionist Respoke: Mouse On Mars Til Obladen, Alemanha 2001

Aerodynamic: Daft Punk Leiji Matsumoto, Japão 2001-09-30

As Days Go By Rob Legatt, Leigh Marling, ru 2001

The Beamer: Spacer Run Wrake, ru 2001

Four Ton Mantis: Amon Tobin Floria Sigismondi, eua 2000

Italian Waffles: Mujaji Duncan Creamer e Sara Scott-Harper, Canadá, Holanda, eua 2001

Jazz Overload: Tino’s Video Squad Ben Strokes, eua 2001

Juxtaposed With You: Super Furry Animals Antoine Bardou-Jacquet, Ludovic Houplain, França 2001

Midfielding: Midfield General Stephen Mcgregor, ru 2000

19-2000: Gorillaz Jamie Hewlett, Peter Candeland, ru 2001

OI!: Orbital Paul Donnelon, ru 2001

Pyramid Song: Radiohead Shynola, ru 2001

Scratched: Etienne de Crecy Geoffroy de Crecy, França 2001

The Second Line Piero Frescobaldi e Ben Hibon, ru 2000

Some Kind of Kink: Red Snapper Richard Anthony, ru 2000

Weapon of Choice: Fatboy Slim Spike Jonze, eua 2001

Ya Mama: Fatboy Slim Traktor, ru 2001



Weapon of Choice: Fatboy Slim (2001) de Spike Jonze

RES 5 – Genéricos de Filmes


Os genéricos de abertura mais recentes e modernos são da responsabilidade da Design Films, uma organização não lucrativa concebida como veículo para os estudos da cultura dos media e dedicada a promover as artes do design digital. Por isso, esses trabalhos tiveram aqui grande visibilidade. Com forte representação da Alemanha, Irlanda, Espanha e Reino Unido, o programa apresentou uma grande variedade de design de genéricos, cuja distribuição tem estado praticamente ausente dos Estados Unidos, dada a posição dominante da indústria americana neste domínio. Esta mostra teve, aliás, o mérito de a par do trabalho de independentes dar também a ver genéricos criativos para a produção maisnstream com origem em Hollyhood. Igualmente muito significativa foi a presença de designers femininas. A maior parte dos trabalhos exibidos corresponde ao mundo das curtas metragens


Fast Fuck Sasha Fromeyer, Alemanha 2000

Bedazzled Imaginary Forces, eua 2000; Karin Fong, director artístico e realizador; Rafael Macho, Jeff Jankens e Peggy Oei, designers

Hollow Man Picture Mill, eua 2000; William Lebeda, director artístico; William Lebeda e David Hutchins, designers

Pressing The Flesh Image Now, Irlanda 2001; Andy Nixon, director artístico; Nick Ryan, designer

Hedwig and The Angry Inch Bureau, eua 2001; Marlene Mccarty, director artístico; Andy Capelli, designer

Mädchen, Mädchen Darius Ghanai, Alemanha 2001

Tape Eyeball nyc, eua 2001; Limore Shur, director criativo

The Talented Mr.Ripley Deborah Ross, eua 2000

Nick Knatterton: The Film Ralf Lobeck & Elke Tholen, Alemanha 2000; Elke Tholen e Ralf Lobek, directores artísticos; Marcus Rosenmueller, realizador

Along Came a Spider Imaginary Forces, eua 2001; Michael Riley, director artístico e realizador; David Clayton, Matt Tragesser e Steve Pacheco, designers

Big Momma’s House New Wave Entertainment, eua 2000; Scott Williams, director criativo; John Friday, designer

Shaft Balsmeyer & Everett, eua 2000; Randy Balsmeyer e Gray Miller, designers; Randy Balsmeyer, realizador

Here Imaginary Forces, eua 2000; Karin Fong, director artístico e designer

Sugar & Spice Bird Design, eua 2000; Peter King Robbins e Brad Johnson, directores artísticos

Monsoon Wedding Trollbäck & Company, eua/India 2001; Nicole Amato, Laurent Fauchere, Christian Gaetgens, Chris Haak, Jasmin Jodry, Antonine Tinguely e Jakob Trollbäck, designers

Das Sams Darius Ghanai, Alemanha 2001

7 Days To Live Carsten Becker, eua 2000; Carsten Becker, director artístico; Colette Arimoto, designer

Hannibal Nick Livesey, ru 2001

Final Destination Carla Swanson, eua 2000; Carla Swanson, director artístico; Kaan Atilla, Matt Cullen e Carla Swanson, designers

No Such Thing Balsmeyer & Everett, eua 2001; Amit Sethi e Randy Balsmeyer, realizadores e designers

Cheaters Goodspot, eua 2001; James Stanek, designer; Rick Probst, director criativo

Get Carter Picture Mill, eua 2000: James Stanek, designer; Rick Probst, director criativo

Dogtown & Z-Boys Blind, eua 2000; Chris Do, director de design; Tom Koh, designer

Torrente 2 Misión en Marbella David Guaita, Espanha 2001; David Guaita e Felix Berges, designers; Santiago Segura, realização



Big Momma’s House New Wave Entertainment (2000) de Scott Williams


Transmediale Programa Vídeo


Festival Transmediale (DIY – Do It Yourself)

Transformar em arte a dessacralização do computador, eis uma síntese possível para o Festival Transmediale 0.1. Utilizadores e hackers de todo o mundo, unidos no projecto de uma efectiva apropriação da tecnologia digital pelas pessoas comuns, conferem agora ao seu percurso o perfil de um movimento cultural. Em causa estão os sinais de uma cultura aberta baseada no uso irrestrito das funções do computador. O pc pode assim ser encarado enquanto estúdio musical electrónico, estação electrónica de rádio e televisão, estúdio de vídeo, explorador das ofertas da Net e, mais conceptualmente, modalidade de expansão da participação virtual em campos como a política, os negócios, a cultura ou os assuntos de sociedade. Em suma, o DIY – Do It Yourself não foi mais do que a abordagem do processo de democratização do acesso às novas tecnologias em moldes mais criativos e... menos controláveis.


Alphabet Dorion Berg, Canadá 1999

Lóuitil n’est pas toujours un marteau Sylvie Laliberté, Canadá 1999

Mind’s eye Oliver Whitehead, Finlandia

A girl bathing in the kitchen sink Pekka Niskanen, Finlandia 1999

R4 Michaela Schwentner, Áustria 2000

De Tuin (The garden) Dan Geesin/Esther Rots, Holanda 1999

Telling Lies Simon Ellis, ru 2000

Sarcophagus Zhel, Croácia 1999

Video Hacking Manuel Saiz, ru 1999

Course Jordan Crandall, eua 2000

Broadcast Istvan Kantor, Canadá 2000



Participantes:


Paul Miller a.k.a. Dj Spooky

Dominic Butler a.k.a Dj Stanton Warriors

Rui Toscano

Rui Valério


Grace:

Paulo Praça (voz, guitarra, loops)

Renato Dias (guitarra)

Miguel Barros (baixo)

Kinorm (bateria)

Cesário Alves (operador de imagem)

Paulo Américo (operador de imagem)

Mário Pereira (técnico de som)

Nuno Couto (técnico de som)


Álvaro Costa


Mighthy Truth:

Alexander Grey

Julian Bates


Nuno Olim


TDDY:

André Rangel

André Sier

Sérgio Soares

Peter Dekkens

Youri van Uffelen

Sylvain Delpech

Rubel Langdjik

Barry van Dijk


Patrick Forge


D-Fuse:

Michael Faulkner

Bernard Moss

Andrew Stiff

Daniel Faulkner


Peter Holdsworth a.k.a. DJ Pressure Sounds


Native Lab:

Patrick Stottrop

Leonard Lass

Jake Mandell

Klaus Voltmer

Alexander Potekhin

Richard Devine


Martin Reeves a.k.a. DJ Krafty Kuts


VJ's Lab:

Paulo Prazeres

Miguel Nogueira

João Pedro Gomes


Naoism:

Brian Ziffer

Jamie Lloyd


Camping Gaz:

Javier Vicente

Carlos Closa

Mikel Unzurrunzaga


José Sousa a.k.a. VJ Budha

João Pinto a.k.a. VJ PTV


Dub Video Connection:

João Carrilho

Tiago Nunes


Filipa Principe

Rafael Toral

Edward Brydson a.k.a. DJ Oxman


LazyDog:

Ben Watt

Jay Hannan



Media Lounge


ANEXO 1


Où gît votre sourire enfoui ? - Jean-Marie Straub et Danièle Huillet (2001) de Pedro Costa

"O Olhar de Ulisses" em destaque nos Cahiers du Cinema


O site da prestigiada revista francesa «Cahiers du Cinema» dedica uma destacada informação ao último módulo de «O Olhar de Ulisses», intitulado «Resistência», que no próximo dia 26 de Outubro tem início no Porto, no âmbito da Capital Europeia da Cultura. Os «Cahiers» reproduzem na íntegra um dos textos do catálogo, relacionado com o filme de Pedro Costa «Où git votre sourire enfoui», da autoria de Theirry Lounas. Como expressão da importância atribuída pelos «Cahiers» a «O Olhar de Ulisses», assinale-se a criação pela revista francesa de um link contendo a programação integral desta iniciativa do Departamento de Cinema e Audiovisuais da Sociedade Porto 2001.


«Où git votre sourire enfoui» é um filme sobre o cinema. Mais concretamente, sobre a montagem de uma terceira versão de «Sicilia» de Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet, perante os alunos do Studio National des Arts Contemporains de Fresnoy. O filme terá a sua ante-estreia pelas 21H30 de 28 de Outubro, no Pequeno Auditório do Teatro Rivoli, ocasião que estará presente o realizador.


No texto do catálogo de «O Olhar de Ulisses», um volume com o total de 398 páginas, o crítico Thierry Lounas descreve as circunstâncias do projecto de Pedro Costa e das reticências do casal Straub em aceitar que do seu trabalho com os alunos de Fresnoy ficasse um registo documental. «Num primeiro momento, os Straub preferiam que não se fizesse o filme. Não queriam um documento oficial» conta Lounas, explicando que «do seu ponto de vista isso equivalia a deixar traços, era uma manifestação de vaidade, quando os únicos vestígios admissíveis eram os seus próprios filmes». Em segundo lugar, prossegue o autor de «Notas sobre «”Où git votre sourire enfoui”», havia aquilo a que chama «o temor do alibi cultural: parecia mais lucrativo para o canal de televisão ARTE produzir um filme sobre eles do que apoiar ou comprar os seus próprios filmes. Finalmente, a exiguidade da sala de montagem do Fresnoy tornava difícil a presença de uma equipa de filmagens, mesmo que reduzida».


Sem um «não» renitente, mas também sem um «sim» formal, Pedro Costa acabou por entrar naquela espécie de templo criativo do próprio cinema. Para construir não um documentário mas, na expressão do crítico francês, «uma tensão; em cada um dos seus planos, o cinema hesita, contradiz-se e restabelece-se entre a maravilhosa eficácia do cinema clássico e a intensidade formal de um cinema mais experimental». Na opinião de Thierry Lounas, «o que aqui se procura não é a fluidez nem a legibilidade da montagem. É perfeitamente natural então que o espectáculo dos cineastas no trabalho tenha também algo de hermético. Depois, pouco a pouco, adaptamo-nos. Preenchem-se os vazios, habituamo-nos ao implícito do pequeno teatro. Os movimentos, o ritual, tornam-se familiares: trabalho de pesquisa, assistência silenciosa, depois cerimónia do corte por Danièle Huillet, de luvas, enquanto Jean-Marie Straub, que abandonou a sala, anda de um lado para o outro no corredor(...)».


Le Fresnoy uma escola enorme, de arquitectura contemporânea, situada na cintura industrial de Lille, é «um local frio e fantasmagórico. A rodagem começa com uma equipa reduzida (...) A sala não é grande, os alunos ocupam-na quase toda. Está escuro. Felizmente um candeeiro de mesa acende-se automaticamente quando a película deixa de correr, o que dá ao filme estes relâmpagos de luz. Costa resolveu colocar-se por detrás de Jean-Marie Straub, enquanto a segunda câmara foi colocada do outro lado, mais perto da porta, para não perturbar os alunos e enquadrar o vai e vem de Jean-Marie».


Assim se passa «Où git votre sourire enfoui», um filme sobre o cinema, em que Pedro Costa «faz o enquadramento, fixa, compõe o seu plano, ilumina, mas o menos possível, para não incomodar, conhece cada vez melhor a "mise-en-scène" do lugar e tenta antecipar o esquema da montagem, pensa nos diversos ângulos, não esquece os "pequenos planos", não salta para as situações mais "picantes", aceita perder muito para não sabotar o que filma. É um pouco a ciné-transe de Jean Rouch».


Ao longo dos seus 95 minutos de duração, o cineasta português produziu um filme, ou um documento? Que lugar para a palavra “maldita” «documentário»?, um tema recorrente no debate mantido ao longo de todo «O Olhar de Ulisses», neste como nos seus primeiros três andamentos. Uma boa entrada na discussão é, portanto, o site dos Cahiers du Cinema, onde, ao fazer «clique» sobre o canto inferior direito se acede a este possível hall de entrada no mundo de Pedro Costa, do casal Straub e, posto isto, num link dos «Cahiers»inserido no próprio texto, à programação completa (em língua francesa) de «Resistência», o último acto de «O Olhar de Ulisses».


ANEXO 2


Artavazd Pelechian

Duzentos Filmes Depois

"O Olhar de Ulisses" em Festa


«Fim», um filme de nove minutos a preto e branco, do arménio Artavazd Pelechian, abre o último dia do módulo final de «O Olhar de Ulisses», subordinado ao tema «Resistência», organizado com o apoio da Cinemateca Portuguesa, pelo Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura e que culmina, depois da exibição de cerca de 200 filmes, num ambiente de festa.


Este último dia, definido como «menos denso» pelos programadores, tem como pontos altos as participações do realizador Jean-André Fieschi, que foi também um dos principais críticos dos «Cahiers du Cinema». Fieschi falará sobre Jacques Tati, com quem manteve um relacionamento privilegiado, no âmbito dos cursos da Escola de Francesa de Cinema. De Tati será, aliás, exibido «Trafic», um filme de 1971, que passa às 17H30 no Pequeno Auditório, abrindo o debate com Fieschi.


Os debates a seguir às projecções constituíram, de resto, uma das grandes marcas de «O Olhar de Ulisses», prolongando-se, com frequência, muito para lá dos horários previstos. Neste último dia assinala-se a presença do presidente da Cinemateca Portuguesa, João Bénard da Costa.


No âmbito do cinema português, o programa deste último dia contempla a projecção de «Ana», um filme de 1992, realizado por António Reis e Margarida Cardoso (na sessão de abertura da tarde, após «Fim» de Pelechian. A seguir, será passado «En Rachânchant», uma curta metragem de Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet.


A noite terá como epílogo uma especial homenagem ao cinema. O filme escolhido para encerrar o longo caminho de «O Olhar de Ulisses» é «Limelight» («Luzes da Ribalta») de Chaplin. A película, realizada em 1952, com o próprio Chaplin no protagonista, Claire Boom, Sydney Chaplin, Norman Lloyd, Buster Keaton, Marjorie Bennett, Wheeler Dryden, Nigel Bruce, Barry Bernard, Leonard Mudie e Snub Pollard, entre outros.


«Resistência», o módulo final de «O Olhar de Ulisses», recorde-se, foi antecedido por três outros andamentos: «O Homem e a Câmara», «A Utopia do Real» e «O Som e a Fúria», constituindo um dos mais saudados eventos da programação da Capital Europeia da Cultura. Tanto pela crítica, que lhe consagrou um importante e destacado espaço, quanto pelo número de espectadores que, numa primeira estimativa, respeitante à primeira metade deste acto final, conheceu um incremento da ordem dos cem por cento.


ANEXO 3


Zone de Françoise Lavoie-Pilote


Zone- Instalação


Zona é a primeira instalação multimédia interactiva de Françoise Lavoie-Pilote. Reúne várias linguagens como a poesia, o filme e o vídeo, integrando a participação do espectador. No seu trabalho, Pilote tenta descobrir uma nova forma de contar uma história “computorizada” utilizando os instrumentos disponíveis nas novas tecnologias. Estamos na presença de um guião muito complexo que conduz a percursos de leitura diferentes e simultâneos.


Zona conta a história de três mulheres da mesma família e de três gerações diferentes. A autora aborda a evolução dos valores, tais como a perda de tradições, a influência das origens, o significado da natureza, e as suas marcas no nosso comportamento. Em Zone é visível um importante trabalho de encenação e integração que revela uma hierarquia de estruturas nas quais se inserem histórias sonoras e visuais.


Esta instalação multimédia interactiva convida o espectador a percorrer a história ao seu próprio ritmo, através de um rato, e a mergulhar num universo onírico e intemporal.


Françoise Lavoie-Pilote nasceu em Roberval em 1974 e vive e trabalha em Montréal. Concluiu o bacharelato em Estudos Franceses e Cinematográficos naUniversidade de Montréal em 1996. Em seguida, inscreveu-se no Programa de Mestrado em Multimédia e Novas Tecnologias na UQAM. Zona é o seu projecto de dissertação.


Andrée Duchaine tem trabalhado no meio das artes visuais desde 1973. Organizou Video 84, o primeiro evento internacional de vídeo de Montréal. Em 1985 instalou-se em Paris onde tem promovido e difundido filmes de curta-metragem em canais televisivos de todo o mundo. Actualmente trabalha num importante projecto que decorrerá em 2004 e que terá 3 componentes: uma exposição que ilustra a história das artes mediáticas no Québec, uma publicação e um CD-ROM.


Navegando no Interior da Poesia Digital

Andrée Duchaine

Conservador e Director do Groupe Molior


Enquanto estudava Estudos Franceses e Cinematográficos na Universidade de Montréal, Françoise Lavoie-Pilote inscreveu-se num curso cinematográfico ministrado por Cristina Nicolae. Durante quase um ano e meio, Nicolae iniciou a sua aluna nos domínios da análise cinematográfica e redacção de guiões. Foi durante este período que Lavoie-Pilote descobriu a poesia.


Depois de terminados os estudos universitários, inscreveu-se num curso de comunicação na UQÀM. Ao longo de um ano, realizou vários trabalhos, entre os quais um vídeo intitulado Labirinthe, que foi distinguido com uma menção especial na categoria de “filme experimental” no Festival Mundial de Cinema. Apesar de o seu trabalho ter sido reconhecido, não ficou satisfeita com a estrutura de distribuição. No entanto, descobriu no vídeo uma luminosidade e espontaneidade que o cinema não lhe proporcionava.


Para poder interligar a sua poesia com outros processos, Lavoie-Pilote inscreveu-se no Programa de Mestrado em Multimédia. Foi no âmbito deste programa que deu início à criação de Zona. O projecto foi desenvolvido ao longo de um período de dois anos e incluiu produção, redacção de textos e versões sonoras e visuais.


Tal como um objecto de análise, a riqueza de Zona manifesta-se na forma como explora as várias linguagens e a temporização. Para ilustrar como o acto de comunicação é totalmente conseguido nesta produção multimédia interactiva, descrevemos em poucas palavras o processo de sincretização, i.e. o processo pelo qual são integradas as várias linguagens.


Ao combinar várias linguagens como a literatura, cinema, vídeo e música, Zona pode já ser considerada como um objecto sincrético. Além disso, traz à cena não apenas várias linguagens, mas também as capacidades do espectador/interveniente. E se cada linguagem tem o seu próprio programa narrativo é lógico integrar o programa narrativo do interveniente como uma linguagem distinta. Em multimédia interactiva é necessário dois intervenientes para comunicarem.


Poesia: Ponto de Partida


“País onde a águaviva se retira por vezes para os grandes espaços onde os singnatídeos imóveis cativam freneticamente com as suas canções. Terra onde as primeiras neves impõem o silêncio aos coleópteros. Solo onde o frio conspira muitas vezes ao largo do transatlântico. Nesta terra, arde a lenha do lavrador enquanto nos cristais corre a saliva verde do vagabundo.


A quilómetros de distância, para sul, os seres humanos fecham-se e lisonjeiam-se uns aos outros enquanto as chaves de ferro são gravadas para imprimir qualquer coisa—sons staccato irreversíveis”.


Os programas narrativos possuem uma hierarquia que funciona como um princípio organizador na produção do significado. Lavoie-Pilote privilegia a poesia. As histórias em prosa—bem fundamentadas, interligadas e repetidas—são contadas por três mulheres, de três gerações diferentes. A estrutura do programa narrativo literário (visual e sonoro com música) é representado em termos de relações contraditórias que criam estruturas polémicas. Por exemplo, na narração, ouvem-se simultaneamente as vozes da criança e da mulher jovem e uma voz masculina. A criança usa frases curtas e simples contrastando com as frases complexas proferidas pela voz masculina. A repercussão suave da voz da criança contrasta com a voz seca, dura e ritmada. As histórias pessoais das mulheres carregadas de sonhos e desapontamentos confrontam com as histórias colectivas de grandes desastres mundiais.


A organização do programa narrativo literário deixa entrever a estrutura geral de Zona: uma estrutura de superfície articulada em termos de confrontações que, em grande medida, caracteriza a imaginação humana, e uma estrutura profunda que se refere ao discurso poético— uma estrutura abstracta semelhante aos programas utilizados em lógica e matemática.


É desta forma que as relações contraditórias e as estruturas polémicas foram desenvolvidas nos programas narrativos, gerando teias de interdependência entre elas. O programa narrativo visual está ligado e inter-relacionado com os programas literários e de som. O fórum central—espaço das histórias colectivas—está inter-relacionado com as histórias pessoais das mulheres. No exercício sincrético com prosa, as imagens foram manobradas e transformadas. Para tentar recrear este mundo de sonho foram usados gráficos realizados por computador, desfocagem, sobreposição, transparências, cores saturadas e contrastes. O ritmo lento das histórias de Anka confronta com o ritmo rápido das histórias colectivas, fazendo referência à passagem entre o sonho e a realidade. O programa narrativo sonoro apresenta também uma organização semelhante. O silêncio do campo opõe-se ao barulho da cidade, a monofonia à polifonia, as vozes invertidas às vozes metálicas, quase sempre sons electro-acústicos.


Programa Narrativo do Interveniente: Contexto sobre Texto


Se situarmos os programas narrativos literário, visual e sonoro a nível da expressão, o programa narrativo do interveniente conduz-nos ao nível da enunciação, i.e., a estrutura de comunicação. Então, o programa narrativo do interveniente, também chamado de performance, pressupõe implicitamente um outro, o da competência.A noção de competência dirige o interveniente directamente para a organização hierárquica do autor, onde o conhecimento individual lhe permitirá isolar o processo global de significação.


Em Zona encontramos dois tipos de interactividade: navegação e local. A interactividade de navegação permite ao interveniente viajar clicando no rato e a interactividade local dá acesso a uma espécie de “bricolage” sonora e visual. Ao mover o cursor pelo ecrã, as imagens afastam-se e aproximam-se, criando uma mistura de imagens. Os sons passam pelo mesmo tipo de tratamento, gerando uma polifonia ou monofonia de elementos sonoros. Os intervenientes podem produzir as suas próprias performances narrativas que sincretizam com o percurso programado pelo autor. Neste programa, as relações contraditórias e as estruturas polémicas transformam-se na procura de um tipo de equilíbrio contratual (ver diagrama).


Ao elaborar este programa narrativo, Lavoie-Pilote teve de conceber uma tipologia virtual—desde as atitudes do interveniente, como o consentimento e a obediência, até às estruturas contratuais— e evitar o tipo de relações forçadas presentes em outros programas. É uma tarefa enorme aquela que Zona tão bem alcança através da sua concepção—a mudança de posição do texto para o contexto e o seu incessante questionar “Eu penso ele pensa que eu penso...”


Por si só, os vários programas narrativos não participam na produção do significado e podem mesmo ser considerados como material rápido em comparação com o produto final. Lavoie-Pilote teve de avançar usando o método da tentativa e erro. Isto significou que quando o programa narrativo já se encontrava estabelecido (usando vários programas algorítmicos, elaborou programas virtuais que originalmente não se relacionavam uns com os outros), planeou os interfaces e realizou várias séries de operações lógicas que lhe permitiram convergir na direcção da produção de um todo. Ao longo da sequência, os intervenientes têm também de avançar pelo mesmo método da tentativa e erro para compreender o significado. Os seus movimentos transformam então um objecto sincrético num objecto com significado, e, ao fazer isto, revela-se a intencionalidade do seu autor.


Em Zona é visível uma encenação importante do processo de sincretização de várias linguagens. Lavoie-Pilote utiliza a poesia como uma unidade inicial de linguagem, que, uma vez sincretizada, produz um discurso poético. Navegamos no interior de um sistema de pensamento cujas componentes estão todas ligadas e inter-relacionadas umas com as outras, tanto do ponto de vista formal como conceptual. Françoise Lavoie-Pilote está manifestamente a trabalhar rumo a um tipo de escrita bastante própria.


Anexo 4


Invisible Shapes de Joachim Sauter

Instalação de Joachim Sauter na Odisseia nas Imagens

Um mundo em que real e virtual se (con)fundem


E se o virtual, subitamente, se tornasse mais real do que a realidade? Como se viaja no tempo? São os espaços aquilo que são, ou tudo quanto nos podem parecer serem? Podemos mover-nos num espaço tal que, a partir dele, seja possível tocar no tempo? Estas são apenas algumas das interrogações suscitadas pela instalação do criador alemão Joachim Sauter ambiguamente intitulada «Invisible Shape of Things Past» ou, «Forma Invisível de Coisas Passadas». A exibição decorrerá de 25 de Outubro a 11 de Novembro no foyer do Rivoli Teatro Municipal, no âmbito do festival «Outras Paisagens», dedicado ao futuro da intervenção dos novos media.


Este trabalho de Sauter consiste numa instalação interactiva que combina um “objecto de filme virtual com um modelo arquitectónico real. A partir de uma sequência rodada na Leipziger StraBe em 1941 e 1955, o novo objecto interactivo foi integrado exactamente no mesmo local, mas agora com a simulação no espaço real dos nossos dias. Aos visitantes é proposta a interacção com o objecto virtual.


O projecto, explica Sauter, «permite ao utilizador transformar sequências de filme em objectos virtuais interactivos». Uma transmutação baseada «em todos os parâmetros da máquina de filmar», isto é, «movimento, perspectiva, distância focal». Deste modo, «emerge uma arquitectura de informação que pode ser tratada interactivamente».


A par da criação deste estranho «banco de dados especial de material cinematográfico histórico e actual», o que também resultou de uma aplicação Web em que os utilizadores puderam integrar sequências suas de filmes como objectos na cidade de Berlim, foi a emergência «através destes objectos de filme» de «uma arquitectura urbana que anteriormente era invisível». Por aqui chegou Sauter ao conceito da «Forma Invisível de Coisas Passadas», que protagoniza a sua instalação no Porto.


Sauter, 1959, estudou na Escola Superior de Criação em Schwäbisch Gmünd, de onde passou, posteriormente, a exercer funções de Director de Arte em Francoforte e Nova Iorque. Mestre pela Escola Superior de Arte de Berlim, frequentou ainda nesta cidade a Academia de Cinema e Televisão. Premiado por filmes com o galardão Lisitzky da União Alemã de Artistas e do troféu Max Ophül para curtas metragens, Joachim Sauter dedicou-se, todavia, desde o início da sua actividade criadora ao computador como ferramenta de criação e meio de comunicação.


Neste âmbito, destaca-se como um dos mais laureados criadores e investigadores. Recebeu em 1992 e 97 o Interactive Award da Ars Electronica. Em 1995 recebe o Impact Award do Interactiv media Festivals Los Angeles. No ano seguinte é a vez do Prix Pixel INA e já em 2001 é distinguido com o Multimediaward alemão, bem como com o prémio alemão de design Dot Award of the Best.


Trabalhos seus cruzaram já os mais importantes espaços de exposição da especialidade. Desde a Ars Electronica, ao Museum for Contemporary Art de Sidney, passando pelo Musé d’ Art Moderne do Centro Geroge Pompidou, Paris. Outras capitais de eventos artísticos de vanguarda como Los angeles, ou Nagoya (Japão), Veneza, ou Amsterdão Tóquio e Bruxelas entre muitas outras.



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Jorge Campos

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Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

Todo o conteúdo © Jorge Campos

excepto o devidamente especificado.

     Criado por Isabel Campos 

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