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viagem pelas imagens e palavras do quotidiano
NDR
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Jorge Campos
6 de jan.20 min de leitura
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Jorge Campos
17 de dez. de 202421 min de leitura
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Jorge Campos
8 de dez. de 202418 min de leitura
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Jorge Campos
arquivo
"O mundo, mais do que a coisa em si, é a imagem que fazemos dele. A imagem é uma máscara. A máscara, construção. Nessa medida, ensinar é também desconstruir. E aprender."
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Out of the Past
o filme é Out of the Past (1947) de jacques tourneur. ela é a fabulosa jane greer, femme fatale do film noir. uma das tais por quem o rapaz perde a cabeça até descobrir que ela, afinal, não é indefesa e está perfeitamente à vontade com um 38 nas mãos. enfim, perigo. gosto.
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Um Fascinante Jogo de Máscaras
Sorge, de um fôlego: combate pelo exército imperial alemão na I Guerra Mundial, fica gravemente ferido, é condecorado com uma Cruz de Guerra, torna-se marxista e adere ao Partido Comunista na Alemanha, faz um doutoramento em Ciência Política, entra para o Comintern, é enviado para instigar a Revolução em diversos países, consegue infiltrar-se e obter o cartão de membro do partido nazi em Berlim, vai viver para Moscovo, é enviado pela União Soviética para Xangai onde cria uma tremenda rede de espionagem, segue depois para o Japão, fazendo-se passar por especialista dos assuntos da região, torna-se íntimo do embaixador do III Reich em Tóquio - e amante da sua mulher - tem acesso a informação ultra secreta que durante anos transmite ao Centro, avisa Estaline da Operação Barbarossa, nome de código da invasão da URSS pela Wehrmacht e seus aliados do Eixo, em suma, um tipo com uma vida tão assombrosa tinha de ficar para a História como o mais formidável espião de todos os tempos. Richard Sorge ou Ramsey, o mais conhecido dos seus nomes de código, tinha, obviamente, características pessoais singularíssimas: bebedor incorrigível, amante insaciável, viciado na velocidade das suas motos e automóveis, orador brilhante, intelectual de altíssima craveira, jornalista respeitado, indefectível comunista: sentia-se na vertigem do perigo como peixe na água. de tal modo que no jogo do gato e do rato iniciado com os processos de Moscovo, na sequência dos quais foram executados sucessivamente seis diretores do seu Comando - os seus superiores - Sorge conseguiu escapar à purga. não escapou foi à polícia japonesa. preso no final de 1941, seria enforcado em 1944. pensou até ao fim que a URRS acabaria por resgatá-lo. nunca soube, embora suspeitasse, que Estaline o considerava um agente duplo, mandando para o cesto do lixo as suas informações. subiu ao patíbulo com vivas à Revolução. foi reabilitado após o XX Congresso do PCUS e considerado herói da União Soviética. a história de Sorge tem sido contada de muitas maneiras ao longo dos anos. em ensaios, no cinema, na literatura. este livro de Owem Matthews, porém, recolhe informações só há pouco tornadas públicas, designadamente dos arquivos da polícia secreta russa. por vezes, apresenta dados contraditórios. eu diria que, tratando-se de espionagem, isso é natural. vale a pena lê-lo pelo que revela sobre os meandros da política, sobretudo agora quando a invasão da Ucrânia é representada de modo simplificadamente maniqueísta. já agora, este leitor leu muito sobre espiões. adora o tema. o que de mais fascinante encontrou neste livro foi o jogo de máscaras, sempre uma chave para ler a guerra e o mundo.
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Eu NÃO Sou Tudo o Que Eu Quero Ser (2024) de Klára Tasovská
podia ter sido um grande filme. contudo, a meu ver, apesar da destreza da cineasta Klára Tasovská, faz passar apenas o que é literal, sem deixar espaço à imaginação. o documentário retrata a vida da fotógrafa Libuše Jarcovjáková. utilizando exclusivamente arquivos - as fotos e o diário da biografada, cujos excertos são lidos por ela própria - Tasovská serve-se de uma banda-som impositiva, por vezes, ensurdecedora, de modo a criar uma atmosfera de imersão, extremamente sincopada. as fotos, regra geral, são excelentes, todavia, sem que haja tempo para nelas prolongar o olhar. é esse o estilo do filme, uma torrente de imagens organizadas cronologicamente em função dos diferentes episódios da vida de Libuše Jarcovjáková, alguém que utiliza a máquina fotográfica como ferramenta de auto conhecimento. perante as suas fotos, o nome que imediatamente ocorre é, evidentemente, o de Nan Golding. de Praga a Tóquio, de Tóquio a Berlim, tudo é mostrado em vertigem. no fim, espremido, não fica muito para imaginar. há um número significativo de cineastas-fotógrafos ou fotógrafos-cineastas, como se queira, que experimentaram fazer cinema com a imagem fixa. só um exemplo, veja-se Agnés Varda, por exemplo, em Salut les Cubains (1963), cuja vertente poética respira com naturalidade ao longo de todo o filme. tratando-se de cinema de arte e ensaio, é isso que se almeja. de qualquer modo, apesar das reservas, é ver o filme. até porque esta é apenas a minha opinião.
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Soudtrack to a Coup d' Etat (2024)
Vi agora este Soudtrack to a Coup d' Etat (2024) do belga Johan Grimonprez no Porto/Post/Doc. é excepcional. vencedor do Festival de Sundance, não é de esperar que venha a ganhar muitos mais prémios. por várias razões, algumas formais, digamos assim, outras de foro político. quanto às primeiras, prendem-se com uma certa maneira, melancólica e conformista, de entender o cinema, e por aí me fico. as outras resultam do incómodo de assistir durante 150 minutos a um bisturi implacável, manejado com rigor e destreza, a dissecar o golpe do ocidente que levou ao assassínio de Patrice Lumumba, eleito democraticamente no Congo. corria o ano de 1960. com os americanos na linha da frente e o seráfico rei Balduíno da Bélgica logo a seguir, os contornos da conspiração, dados a ver em função de aturado trabalho de pesquisa, quer de informação quer de imagens, vão permitindo compor o retrato sinistro dos fautores da teia da morte. acresce que, nesse ano de 1960, o movimento cívico dos negros americanos avançava caudalosamente, bem como a música de Jazz que, de forma extremamente original, serve de trilha sonoro ao filme. acrescento: este filme é Jazz. pois, essa música, mesmo que os seus intérpretes disso não tivessem consciência, também era utilizada pela frente cultural da CIA para demonstrar a superioridade americana face à cultura soviética. deixo estas notas por aqui, sem prejuízo de texto mais alargado, concluindo do seguinte modo: Patrice Lumumba foi um homem extraordinário; é claro que o golpe no Congo é indissociável da suas riquezas minerais.
C A T E G O R I A S
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